Após o ataque à escola Thomazia Montoro, na zona oeste de São Paulo, e seguidas ocorrências e ameaças, o secretário da Educação do Estado argumentou que o ocorrido foi uma “fatalidade” e que aconteceu “muito rápido”. O posicionamento de Renato Feder veio em entrevista ao UOL.
No caso, um estudante da unidade brigou com um colega de classe, proferindo insultos racistas, e quatro dias depois fez o atentato. O comportamento agressivo do aluno já havia sido identificado.
Imagina uma escola rodando, com centenas de alunos ali, um monte de questões. Entra um aluno, 15 dias depois ele deu problema e a diretora falou ‘vou conversar com ele’. Estava lá na agenda dela. Foi uma fatalidade.
Renato Feder
Para ele, como política de Estado, é essencial o “caminho do acolhimento, da saúde mental e da prevenção” nas escolas. Logo após o ataque, o secretário anunciou o retorno de psicólogos nas escolas e a contratação de uma segurança particular desarmada em locais com mais ameaças.
Em um momento de insegurança como esse, Renato Feder defende que a presença da polícia é necessária em casos pontuais.
Em um momento como o que a gente está de insegurança, a gente precisa de segurança. Então, uma escola que tem uma ameaça real, eu preciso da polícia, não tem opção. Numa escola que tem muita briga, talvez um segurança seja muito importante para levar por um período uma paz. Mas como política de Estado, acredito na prevenção e na saúde mental.
Renato Feder
Ainda de acordo com o secretário, é importante separar o que é ameaça real e o que não é:
Os pais têm que ter essa consciência que o celular dele não está conectado com a escola real. A escola real tem pessoas normais, num ambiente saudável, num ambiente salutar. […] São universos separados, onde no celular tem essas pessoas, infelizmente, às vezes inconscientemente irresponsáveis, que espalham o pânico, muito mais rápido que um incêndio.
Renato Feder
Registro de ocorrências
Escola não pode fazer tudo sozinha
Em entrevista exclusiva ao Olhar Digital, a diretora do Centro de Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas, Claudia Costin, lembrou que “a escola não pode tudo sozinha” e atentou para a necessidade de atenção aos sinais tanto nas instituições, quanto na internet.
Ela defendeu que, com a preparação correta dos professores e de profissionais da saúde, como psicólogos, é possível detectar sinais.
Escola não pode tudo sozinha. A escola pode fazer sua parte em educar para a paz, para uma comunicação não agressiva, aprender a ter uma correta preparação dos professores para entender sinais amarelos ou vermelhos que são enviados com uma formação oferecida por psicólogos.
Claudia Costin
Ela alertou que menosprezar o bullying também é um erro e que isso pode levar jovens a agirem de forma violenta.
Muitas vezes, os adultos subestimam essa questão do bullying (…), o que é um erro atroz. Muitos jovens desenvolvem uma depressão muito forte a partir de bullying e outros podem virar agressores, pelas pesquisas.
Claudia Costin
Segurança nas escolas
Para Claudia Costin, a segurança nas escolas é, sim, um fator que pode ajudar. Ela lembra que a reação policial foi rápida no caso da escola Thomazia Montoro. Isso, porém, deve ser acompanhado de um esforço de monitoramento das redes sociais por parte das autoridades competentes.
É muito importante haver a ronda escolar, como corretamente o ministro da Justiça estabeleceu, mas também um grupo de inteligência da Polícia Federal nas redes sociais (…). O jovem não estava postando na deepweb, ele estava postando no TikTok. Haver algum tipo de monitoramento das redes sociais pela Polícia Federal é muito importante.
Claudia Costin
Para Rossandro Klinjey, educador, psicólogo e co-fundador da Educa, é natural que as famílias queiram se sentir seguras e que as escolas tomem medidas de segurança para isso, mas não se pode ficar refém dessas ameaças. Para ele, o diálogo também é importante em um momento como esse.
Além da segurança, é necessário que se tenha um diálogo aberto com as crianças e adolescentes levando em consideração o nível de compreensão de cada um sobre a sociedade, que estamos lutando para que essas situações não aconteçam. Compreender o que elas sentem e orientar a não propagar informações falsas, que geram medo e pânico nas pessoas. Precisamos ser assertivos e apaziguadores ao invés de insuflar o medo e a angústia.
Rossandro Klinjey
Redes sociais e pânico
Quanto ao furor mencionado por Renato Feder, Claudia Costin acredita que as redes sociais têm sua parcela de responsabilidade — se não nos ataques em si, no pânico causado.
Segundo ela, as redes são o espaço em que essas discussões começam e são nelas que surgem as ameaças. Mesmo que não sejam efetivamente cumpridas, o pânico gerado na internet pode ser instrumentalizado:
Muitas dessas ameaças não são feitas porque se pretende, de fato, cumpri-las. É para se gerar um clima de pânico. Nesse sentido, o secretário tem razão. A minha questão é que, muitas vezes, esse clima de pânico é instrumental para que se pense em criar uma figura forte ou um autocrata para dar segurança. Ou seja, pode estar sendo instrumentalizado por grupos neonazistas ou que querem mostrar que a democracia não é segura, para mostrar os limites da democracia. (…) É muito triste, porque nós estamos falando de crianças, de professores. Estamos falando de um lugar que deveria ser um lugar de paz.
Claudia Costin
Na mesma linha, Rossandro Klinjey vê o uso do celular e as mensagens como alguns dos elementos responsáveis pela onda de pânico. Contudo, é preciso fazer uma análise ampla, que vai além da nossa relação com as redes sociais:
Neste momento, muito mais do que encontrar culpados, precisamos focar nas soluções macrossistêmicas, que passam por políticas de estado, construção da respeitabilidade com relação à escola e do seu espaço de diversidade como algo valorizado, além dos pais ensinarem aos filhos a respeitarem a educação.
Rossandro Klinjey
Ele reforça que é dever das instituições de ensino entender o espaço escolar como um lugar de acolhimento. Rossandro Klinjey também destaca que o processo de solução é de responsabilidade da comunidade como um todo.
Luto depois do ataque
A diretora Claudia Costin acredita que a escola agiu bem em suspender as aulas depois do atentado e que, agora, deve-se criar um ambiente adequado para o retorno.
Depois do evento, você tem que lidar com a dor e com processo de cura de professores e de alunos que vivenciaram essa cena. Agiu bem a secretaria em suspender as aulas por duas semanas para que os professores pudessem se acalmar, porque ninguém vai criar um ambiente adequado para volta às aulas se os próprios professores estão em estresse pós-traumático.
Claudia Costin
Com informações de UOL.
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Fonte: Olhar Digital
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