Virginia Norwood, uma das pioneiras da indústria aeroespacial morreu no final de março, aso 96 anos. Ela inventou o scanner que é usado em satélites de mapeamento da Terra há mais de 50 anos, o que deu a ela o nome de “mãe” dos satélites Landsat, o primeiro programa em que sua invenção foi utilizada.
De acordo com nota publicada pelo Serviço Geológico dos Estados Unidos, responsável pelo programa Landsat, ela foi encontrada morta em sua cama na manhã do dia 27 de março, em Topanga, na Califórnia.
Os satélites Landsat fornecem imagens completas da Terra a cada 16 dias desde 1972, o que permitiu que fossem observadas as mudanças climáticas, derretimento das calotas polares e geleiras, o quase desaparecimento do Mar de Aral e o desmatamento que aconteceu na Amazônia e em outras partes do globo.
Tudo isso foi graças ao scanner criado e defendido por Norwood.
Programa Landsat
No final da década de 1960, após as missões da NASA à Lua e as espetaculares fotos da Terra tiradas de lá, o Serviço Geológico dos Estados Unidos em parceria com a agência espacial, levantaram a ideia de lançar um satélite que orbitaria o planeta enquanto tirava fotos úteis no monitoramento terrestre.
A ideia inicial era que o satélite contasse com um sistema principal gigante de 3 câmeras projetado pela RCA que sozinho já pesava 1800 quilos e era baseado na tecnologia de tubo de televisão usada para mapear a Lua. E outro sistema experimental projetado pela Hughes Aircraft Company, onde Norwood trabalhava.
Para desenvolver esse equipamento experimental. Virginia foi atrás de especialistas em agricultura, meteorologia, geologia e poluição e descobriu que a melhor forma de conseguir monitorar a Terra seria através de um scanner que registrasse diferentes espectros da luz e energia, como o usado em observações agrícolas locais, mas com algumas modificações.
Todo esse scanner tinha um limite de peso para que pudesse ser incluído ao satélite, 45 quilos, o que fez com que o equipamento fosse reduzido para observar apenas 4 bandas do espectro eletromagnético ao invés de 7 como planejado inicialmente.
Os pesquisadores estavam muito céticos quanto ao funcionamento do sistema desenvolvido por Norwood, principalmente por ter sido projetado por uma mulher, mas foi só o primeiro satélite Landsat ser lançado que a situação mudou completamente.
O desempenho do scanner era tão bom que logo passou a ser o sistema primário do satélite, ao invés do sistema da RCA. E duas semanas depois do lançamento passou a ser o único em operação, devido aos riscos que os picos de energia da outra tecnologia ofereciam.
Nos 50 anos seguintes, o satélite precisou ser substituído e Norwood supervisionou o desenvolvimento dos Landsat 2, 3, 4 e 5. Atualmente as versões 8 e 9 estão em operação com a 10 programada para ser lançada em 2030, todos baseados na tecnologia desenvolvida pela física.
A vida de Virginia Norwood
Virginia Tower, nome dos pais, nasceu em de janeiro de 1927, em Fort Totten, no estado de Nova York e sempre foi incentivada por seu pai a estudar física e matemática. Por ter pais militares, na sua juventude sempre estava de mudança de um lugar para o outro.
Em 1944, ela entrou no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, onde em 1947 se formou em física matemática. Um dia após sua formatura, ela se casou com Lawrence Norwood, com quem teve três filhos, Naomi, David e Peter. Seu primeiro casamento não deu certo, se casando novamente com Maurice Schaeffer.
Durante sua carreira teve várias portas fechadas e passou por diversas situações machistas, desde empresas que não estavam dispostas a pagar salários compatíveis, pedido para não arrumar filhos e ser trocado por um homem, mesmo demonstrando sua qualificação. ]
Diante dessas circunstâncias, Norwood trabalhou durante algum tempo em uma loja de departamentos, até que se mudou para Nova Jersey e começou a trabalhar na divisão de radares meteorológicos dos Laboratórios do Corpo de Sinais do Exército dos EUA.
Depois da experiência no exército, em 1953 ela foi para Califórnia onde trabalhou com antenas e montou seu primeiro laboratório e um ano depois para Los Angeles, onde começou a trabalhar na divisão de pesquisa e desenvolvimento da Hughes, a única mulher entre os 2700 funcionários da área.
Em 1957, Norwood foi promovida para liderar o setor de micro-ondas na área de mísseis da empresa, se tornando a primeira mulher a integrar a equipe técnica da Hughes. No cargo, ela desenvolveu o primeiro receptor e transmissor de um satélite de comunicação do mundo e o equipamento de comunicação entre o pouso de solo do Surveyor na Lua e o comando de solo.
Sobre o apelido “mãe” do Landsat, em resposta à NASA em 2020, ela disse que se sentia confortável. “Sim, eu gosto, e é apropriado, eu o criei, dei à luz e lutei por ele. “ disse ela.
Fonte: Olhar Digital
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