Com informações de Folha de S.Paulo
Após os recentes ataques a escolas, pais, alunos e professores passaram a viver rotina de medo.
Em vários grupos nas redes sociais que os reúnem, uma mesma foto, expondo armas e facas em uma cama, vem circulando e os assustando ainda mais. Contudo, não se sabe sobre sua veracidade.
A circulação dessas mensagens tem tido efeito terrível. Professores relatam ver alunos chorando, pais indo buscar seus filhos antes do horário de encerramento das aulas e, ainda, algumas instituições não estão realizando atividades no pátio.
Contudo, especialistas e órgãos afirmam que, segundo o monitoramento dessas mensagens, a maioria visa causar pânico.
Desde domingo [9], nosso monitoramento identificou explosão na circulação de mensagens com ameaças às escolas. Usam a mesma foto, só mudam o nome da escola, bairro ou cidade para ameaçar. Isso está gerando paralisação nas escolas.
Luka Franca, jornalista e pesquisadora, uma das autoras de relatório feito para o governo
Franca explicou que tal ameaça difere do comportamento que se observa em ataques efetivos.
Os últimos casos que tivemos mostram que os autores se aproveitaram do elemento surpresa para vitimar mais pessoas. É esse o objetivo deles: deixar mais vítimas. Já quem espalha essas mensagens quer criar pânico.
Luka Franca, jornalista e pesquisadora, uma das autoras de relatório feito para o governo
Mesmo que tudo indique que as mensagens sejam falsas, especialistas e autoridades indicam que quaisquer ameaças sejam denunciadas à Polícia Civil e nos canais recém-criados pelo Ministério da Justiça. Produtores e compartilhadores deste conteúdo podem responder por contravenção, crime que gera prisão de até cinco anos, e multa.
A denúncia é importante para que se possa identificar padrões de quem pode tentar ataque, ou alguém que quer criar pânico. É importante que a polícia identifique as pessoas que estão ameaçando, pois estão ajudando a incitar novos ataques.
Letícia Oliveira, jornalista e coautora do relatório
Oliveira, que monitora grupos neofascistas no Brasil desde 2011, afirmou também que a verdadeira enxurrada de ameaças pode ampliar o efeito contágio verificado entre os últimos atentados.
Não podemos cair no pânico, mas também não podemos ignorar. É preciso identificar quem está por trás dessas ameaças e qual o objetivo dessas pessoas ao disseminar o medo.
Letícia Oliveira, jornalista e coautora do relatório
Ações realizadas pela polícia
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo indicou que a Polícia Militar mantém contato com as direções das escolas, e que 566 policiais militares realizam patrulha no entorno das instituições via Ronda Escolar. Há ainda policiamento a pé e em motos.
Também segundo a pasta, todos as ameaças são investigadas e as diretorias escolares seguem em alerta para qualquer denúncia que precise ser realizada. Caso confirmada, é tratada com a Vara da Infância e Juventude.
Mudança na rotina escolar
Além da sensação de medo, algumas escolas acabaram mudando sua rotina, mesmo com as autoridades orientando às instituições a manterem seu calendário normal.
Um exemplo é em São Paulo (SP), onde um colégio mudou seu calendário de provas para não coincidir com 20 de abril – dia no qual, segundo rumores nas redes sociais, haveria novo atentado. A data é aniversário de 14 anos do massacre de Columbine, nos EUA, que resultou na morte de 15 pessoas, bem como do nascimento de Adolf Hitler.
Na capital paulista, as instituições de ensino informaram ter reforçado sua segurança, limitaram visitas às suas sedes e campi e/ou pediram reforço de rondas policiais em seus entornos.
Pais vêm recebendo pedidos para atentarem-se ao “menor sinal de comportamento não habitual”, além de que têm sido orientados a auxiliar seus filhos em como utilizam as redes sociais, para que o façam da forma mais segura possível. Contudo, não há informações sobre instituições que queiram suspender as aulas por conta das ameaças.
Famílias inteiras e seus filhos seguem assustadas com o que veem na internet. À Folha, a mãe de uma jovem de 15 anos, estudante da rede estadual de São Paulo, afirmou que está assustada com os rumores que circulam as redes sociais. Ela também é tia de um aluno da escola Thomazia Montoro, cujo ataque de 27 de março vitimou fatalmente uma professora, e o namorado de sua filha também estuda lá.
Ela relatou ainda que sua filha não vai à escola há uma semana por medo. A moça prefere que a garota permaneça em casa sem estudar na instituição, pois teme que algo possa acontecer a ela e, também, se sentir culpada depois.
Em outro colégio, um professor contou que seus alunos o questionam sobre o motivo pelo qual a escola não reforça a segurança com guardas armados.
Postura das redes sociais
Ante o clima de medo que tomou conta do País nas últimas semanas, o governo vem pressionando as redes sociais para excluírem perfis e postagens que façam apologias aos ataques.
Na segunda-feira (10), houve reunião entre representantes das redes – YouTube, Meta, Twitter, Kwai, TikTok, WhatsApp e Google – e o Ministério da Justiça, na qual a pasta solicitou combate mais ostensivo à tais práticas.
A única empresa que gerou mal-estar entre as demais e o Ministério (que subiu o tom durante o encontro por conta disso) foi o Twitter (algo que não é novidade), ao indicar que alguns dos perfis apologéticos não feriam sua política. Isso fez com que o governo exigisse da empresa de Elon Musk detalhes sobre suas práticas ante tais ameaças.
O que disseram as redes sociais
Twitter e WhatsApp afirmaram não ter acesso ao conteúdo das mensagens trocadas (o mensageiro da Meta alega sempre que a criptografia ponta-a-ponta a impede) e que não realizam moderação de conteúdo.
O Kwai afirmou em nota que atua para combater informações que ameacem a sociedade e frisou que a companhia segue de perto as discussões sobre a temática. Também se colocou à disposição das autoridades brasileiras.
Por sua vez, o TikTok alegou não ter espaço para extremismo violento e que trabalha na remoção de conteúdos e perfis que prejudiquem “a experiência criativa e alegre que as pessoas esperam em nossa plataforma”.
O Google indicou que trabalha em parceria com órgãos públicos e organizações da sociedade civil pela segurança das pessoas, na luta contra conteúdos nocivos que violam suas políticas e desrespeitam suas Diretrizes de Comunidade, tais como discursos de ódio e demais violências.
A Meta declarou à Folha que não permite que organizações ou indivíduos que propaguem violência ou que estão envolvidos de alguma forma tenham presença em suas plataformas (Instagram, Facebook e WhatsApp).
Afirmou também que possui ferramentas disponíveis para pais e responsáveis supervisionarem o consumo de seus produtos por seus filhos. Também pede que as pessoas denunciem conteúdos que violem suas regras e que colabora com as autoridades brasileiras, bem como responde às solicitações governamentais de dados nos termos da Lei.
O que fazer em caso de ameaças online
Se você ou seu filho for testemunha de apologias nas redes sociais, prossiga da seguinte forma:
Fonte: Olhar Digital
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