Os conteúdos chamados de shitposting ainda dominam a internet, mesmo com as plataformas tentando coibi-los a todo custo, sobretudo banindo os usuários que os publicam.

Shitposting nada mais é do que comentários e publicações ofensivas ou com apologias. Racismo, misoginia, homofobia, neonazismo e incitações à violência e ao suicídio são alguns exemplos disso.

Segundo informações do portal A Pública, vários servidores foram analisados e traziam diversas publicações deploráveis. Incitação ao estupro de mulheres e feminicídio também estão entre os assuntos comentados.

Em um desses servidores, contendo em torno de 100 usuários, constam piadas com estupro, pedofilia, necrofilia e suicídio. A descrição desse Disboard, plataforma que reúne servidores públicos do Discord, diz: “Servidor destinado à pura ironia, algazarra e entretenimento. Se for sensível, não entre.”

Segundo a reportagem, os participantes desses grupos se orgulham de assistirem e compartilharem conteúdos relacionados a pedofilia do tipo gore (subgênero de filmes de horror com cenas muito violentas).

Além disso, compartilham conteúdos neonazistas, pedindo a morte de pessoas que não sejam brancas, vídeos de pessoas negras assassinadas pela Ku Klux Klan e agressões a mulheres.

As mensagens contidas nesses servidores têm o mesmo tom e os robôs (contas que enviam mensagens automáticas nesses servidores) possuem nomes, como “estuprador”, “pedófilo”, “AdoroPedofilia”, etc. O Discord até baniu alguns desses usuários, mas eles conseguiram retornar.

Outro servidor reúne apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Nele, um dos usuários afirmou, em 4 de abril, que seria “forçado a matar” outro integrante porque “percebi que tu é gay”.

O mesmo grupo recebeu, em 12 de abril, conversa entre dois usuários que acessaram informações privadas de outros dois integrantes por meio de link, o qual continha vídeos explícitos sendo assassinadas, e os ameaçavam. Os usuários ameaçados saíram e os atacantes comemoraram. Esse servidor com seguidores de Bolsonaro possui a foto e o nome do ex-presidente e possui 24 integrantes ao todo.

Em outro servidor, com 87 membros, sendo 24 ativos, um integrante afirmou que “sou fascista e apoio o Mito. Não gostou, vai para a casa do c**** Bolsonaro 2022”. Outro grupo diz, em sua biografia, em tom de piada: “apoiamos o Bolsonaro e somos neonazistas.”

Em outubro de 2022, um usuário postou, em outro servidor, um meme que mostrava um homem que segurava uma faca, com a seguinte mensagem: “seja o motivo pelo qual as mulheres não saem na rua à noite.”

E o Discord?

Como era de se esperar, todos esses conteúdos ferem a política do Discord, que é claro ao afirmar ser proibido “encorajar, coordenar ou se envolver em situações de assédio, usar discurso de ódio, ameaçar a integridade de outra pessoa ou grupo, organizar, promover ou apoiar extremismo violento e pedir, compartilhar ou tentar distribuir conteúdo que descreva, promova ou tente normalizar abuso sexual infantil”.

Ainda segundo a rede, “todos no Discord precisam seguir estas regras e elas se aplicam a toda a nossa plataforma, inclusive ao seu conteúdo, aos seus comportamentos, aos servidores e aos aplicativos”. Contudo, claramente isso não vem sendo cumprido.

Os termos de uso existem, mas [a moderação] é absolutamente precária. Eles não conseguem aplicar os termos de uso corretamente e os canais de interlocução no Brasil com as instituições que trabalham com os sistemas é ou precário, ou inexistente.

Thiago Tavares, presidente da SaferNet Brasil

Tavares indicou ainda que faltam moderadores que se comuniquem em português. “A moderação em língua inglesa existe e já existem dados e algoritmos treinados para reconhecer algumas palavras-chave, textos e afins em inglês, mas quando o conteúdo está em português, a moderação de conteúdo é muito falha”, explicou.

Segundo estudo da Universidade de Rutgers, nos EUA, em cima da extrema-direita, chegou à conclusão de que, entre as razões na falha do Discord em seguir suas próprias diretrizes, está que “as plataformas terceirizam responsabilidade para moderadores e usuários, em vez de abordar o problema ao nível de projeto”.

Isso posto, supõe-se que moderador pode muito bem permitir e incentivar os conteúdos impróprios.

Resposta do Discord

Em resposta ao portal, o Discord explicou que tem “política de tolerância zero contra ódio ou extremismo violento” e que, quando toma conhecimento desse tipo de conteúdo, toma ações como “banir usuários, desligar servidores e entrar em contato com as autoridades quando apropriado”.

Uma das maiores prioridades do Discord é garantir experiência segura para nossas comunidades, e estamos investindo continuamente em nossos recursos de segurança. Nossa dedicada equipe de segurança usa combinação de ferramentas proativas e reativas para manter fora do serviço atividades que violem nossas políticas. Qualquer tipo de conteúdo ou atividade que coloque em risco ou sexualize crianças é terrível, inaceitável e não tem lugar no Discord ou na sociedade.

Discord

Com informações de A Pública