Já foi amplamente divulgado que o ChatGPT entrou na vida de muita gente de várias formas. Vimos ele nas escolas, nos tribunais, em sites de compra. E na política?

Pois é, existem políticos de todo o mundo que o usam atualmente, mas especialistas alertam para suas falhas, como o “dom” de criar inverdades.

A exemplo, recentemente, o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, recebeu várias argumentações de um bot enquanto respondia perguntas inócuas acerca da reforma do sistema de saúde do país, realizadas por um deputado da oposição.

O que o primeiro-ministro não sabia é que o deputado gerou as perguntas pelo ChatGPT. Ainda, ele criou as respostas pela IA, afirmando que são “mais sinceras” do que as de Kishida. O líder japonês se defendeu, alegando que suas respostas foram “mais específicas”.

A chefe de um sindicato francês, Sophie Binet, avaliou, ironicamente, discurso recente do presidente Emmanuel Macron como tendo sido escrito pelo “robô do ChatGPT”.

Contudo, ele também já foi usado para outros fins políticos. Ele escreveu discursos e ajudou na redação de leis.

É útil pensar no ChatGPT e na IA generativa, em geral, como produtor de clichês. A maioria do que fazemos na política também é geração de clichês.

David Karpf, da Universidade George Washington

O país onde mais notamos certo entusiasmo com o ChatGPT são os EUA. No mês passado, a congressista Nancy Mace discursou por cinco minutos em comitê do Senado, no qual enumerou possíveis usos e danos da IA, antes de pontuar que “cada palavra” de seu texto foi gerada pelo ChatGPT.

Barry Finegold, político estadunidense, inovou quando declarou, em janeiro, que sua equipe usou o ChatGPT para redigit projeto de lei para o Senado de Massachusetts. A IA apresentou ideias originais para a matéria, que, curiosamente, é sobre controlar o poder dos chatbots e IAs no país.

Anne Meuwese, da Universidade de Leiden, Holanda, afirmou, na semana passada, em coluna para a revista jurídica holandesa RegelMaat, que ela realizou experimento similar com o bot e descobriu que ele também inseriu ideias originais.

Contudo, ela pontuou que, “além de ainda não haver muita clareza sobre questões importantes, como impacto ambiental, parcialidade e ética da empresa OpenAI, o valor agregado também parece limitado por enquanto”.

Karpf sugeriu que as IAs generativas poderiam ser úteis para geração de e-mails solicitando doações, por exemplo, que são mensagens não-programadas para serem “obras-primas”.

Por meio dessa questão, é possível questionar se bots, como o ChatGPT, não poderiam ser treinados para defender um único ponto de vista político. Isso até já aconteceu, quando o bot da OpenAI não quis escrever um texto para o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, mas teceu elogios ao atual presidente, Joe Biden.

Elon Musk, recentemente, resolveu voltar ao universo das IAs generativas (ele foi um dos fundadores da OpenIA, mas saiu da empresa) ao anunciar o TruthGPT. Ele prometeu que sua IA não terá o chamado “preconceito liberal”.

O pesquisador neozelandês David Rozado se antecipou a Musk e reequipou o ChatGPT como RightWingGPT – bot que aceita valores familiares, economia liberal e outros pontos defendidos pela direita. “De forma crítica, o custo computacional de experimentar, treinar e testar o sistema foi inferior a US$ 300”, afirmou em seu blog, em fevereiro.

A esquerda política também tem sua própria IA. Criado pelo fundador do site de humor satírico Nordpresse, de pseudônimo Vincent Flibustier, o bot supostamente só envia consultas ao ChatGPT com a ordem de responder como se fosse um “sindicalista irritado”.

“Você não quer ficar famoso como o consultor político ou a campanha política que estragou tudo porque decidiu que uma IA poderia fazer [algo] por você”, concluiu Karpf, nos alertando que a IA, atualmente, pode tanto atual para o bem, como para o mal.

Com informações de UOL