Vendas caíram para um nível não visto desde 2010. É o que mostra a receita da Intel, divulgada na quinta-feira (27). Apesar de marcar declínio de 36% em relação a 2022, receita de US$ 11,7 bilhões (R$ 58,3 bilhões, na cotação atual) do primeiro trimestre de 2023 ficou acima das estimativas de analistas consultados pela FactSet.

Remessas de PCs, que representam grande parte da receita da Intel, caíram 29% ano a ano no primeiro trimestre, segundo dados da International Data Corp., estendendo declínio que começou em 2022. Consumidores correram para comprar computadores, smartphones e outros eletrônicos no início da pandemia, estimulados pela adoção de aprendizado e trabalho remotos. Isso foi revertido em 2022, quando pessoas voltaram às rotinas pré-pandêmicas.

Resultados da Intel

Prédios da Intel
Mercado está a caminho de voltar ao normal ainda em 2023, de acordo com diretor financeiro (Imagem: Dany Sternfeld/Flickr)

A divisão de chips (processadores) para PC da Intel registrou queda de 38% na receita no primeiro trimestre (US$ 5,8 bilhões, equivalentes a R$ 28,8 bilhões). No entanto, o diretor financeiro David Zinsner disse que mercado está a caminho de voltar ao normal ainda em 2023, quando fabricantes de PCs esgotarem estoques de chips em excesso e começarem a fazer novos pedidos.

“Vimos no trimestre uma situação de melhora no mercado de PCs”, disse o CEO da Intel, Pat Gelsinger, em entrevista, acrescentando que a empresa estava avançando num esforço de vários anos para retornar à liderança na corrida para fazer chips de melhor desempenho com menores transistores.

A queda nas vendas da Intel trouxe prejuízo de US$ 2,76 bilhões (R$ 13,7 bilhões) no primeiro trimestre. Foi o segundo prejuízo consecutivo da empresa e supera o que havia sido seu maior prejuízo – de US$ 687 milhões (R$ 3,4 bilhões) – registrado no último trimestre de 2017. E a Intel disse que provavelmente registraria outro prejuízo no trimestre atual.

A empresa projetou vendas no atual trimestre de US$ 11,5 bilhões (R$ 57,2 bilhões) a US$ 12,5 bilhões (R$ 62,2 bilhões), embora ainda bem abaixo do valor de 2022. O ponto médio da previsão veio ligeiramente à frente das estimativas de Wall Street.

As ações da empresa subiram mais de 5% nas negociações de pós-venda.

Demissões e cortes de custo

Chips da Intel
CEO da Intel estabeleceu meta de economizar quase R$ 50 bilhões anualmente até 2025 (Imagem: Wallpaper Flare)

Gelsinger optou por demitir funcionários e buscar outros cortes de custos diante das condições desafiadoras dos negócios, com a meta de economizar até US$ 10 bilhões (R$ 49,8 bilhões) anualmente até 2025. O presidente-executivo da empresa tenta equilibrar sua unidade de economia com grandes investimentos em fábricas de chips, enquanto a Intel tenta alcançar rivais asiáticos na corrida para fabricar processadores mais rápidos com transistores menores.

A demanda por chips de data centers também caiu nos últimos meses, pressionando ainda mais as vendas da Intel. A divisão de data center da empresa registrou vendas de US$ 3,7 bilhões (R$ 18,4 bilhões) no primeiro trimestre, uma queda de 39% em relação a 2022.

O mercado de servidores que ocupam data centers ainda não chegou ao fundo do poço, com fraqueza entre clientes corporativos e de computação em nuvem, disse Gelsinger em teleconferência com analistas.

Desafios da Intel

Prédio da Intel
Competição está cada vez mais acirrada para Intel, mas CEO disse que empresa teve resultados melhores do que o esperado (Imagem: Sixflashphoto/Wikimedia Commons)

A rival Advanced Micro Devices roubou participação de mercado em unidades de processamento central nos últimos anos. Novos processadores baseados em projetos de circuitos da Arm, onipresentes em telefones celulares, começam a representar outro desafio significativo no território doméstico da Intel.

Gelsinger disse que empresa teve resultados de participação de mercado melhores do que o esperado no primeiro trimestre para seus chips de data center, que ele chamou de “ponto de virada”. Foi a primeira vez que a posição da empresa em computação de data center melhorou durante seu mandato como CEO.

O burburinho sobre a IA (inteligência artificial) generativa – tecnologia de chatbots como ChatGPT, da OpenAI, e Bard, do Google – sobrecarregou ações da Nvidia, a maior fabricante de chips dos EUA em valor de mercado. A Nvidia domina o mercado de GPUs, chips capazes de fazer cálculos de IA que estão consumindo parcela cada vez maior do cenário da computação. A Intel também oferece alguns chips especializados para cálculos de IA e incorpora recursos de IA em muitas de suas unidades centrais de processamento.

O CEO também enfrenta desafios para fazer o braço de fabricação de chips da Intel decolar. Entre esses, estão atrasos no fechamento de sua aquisição da empresa israelense de fabricação de chips Tower Semiconductor entre Pequim (China) e Washington (EUA).

“Saímos com uma perspectiva bastante positiva, mas ainda temos trabalho a fazer para que isso seja feito”, disse Gelsinger, referindo-se às suas palestras durante a viagem à China. “Estamos trabalhando com autoridades reguladoras de lá para concluir isso em breve”.

Preço dos investimentos

Chips da Intel e AMD
Intel cortou projetos e pessoal para injetar bilhões no apoio a seu novo braço terceirizado de fabricação de chips (Imagem: Juan D./Pixabay)

Intel planeja injetar centenas de bilhões de dólares em investimentos em novas fábricas, em parte para apoiar seu novo braço terceirizado de fabricação de chips. Para se ajustar à crise e ajudar a pagar por esses esforços, a empresa cortou projetos e alienou alguns de seus negócios. Ela também firmou acordo de financiamento incomum com a Brookfield Asset Management, do Canadá. Nele, empresas dividem custo de expansão de fábrica de US$ 30 bilhões (R$ 149,4 bilhões) no Arizona e a Brookfield receberá parte de sua receita.

A empresa pretende fechar um segundo acordo de financiamento conectado a outras fábricas em 2023, disse Zinsner na quinta.

Intel também indicou que pretende garantir grandes doações do governo dos EUA sob o Chips Act – projeto de lei que permite fornecimento de US$ 53 bilhões à indústria de semicondutores para promover seu desenvolvimento. Ideia do projeto é promover crescimento da fabricação de chips nos EUA após fuga da indústria para a Ásia nas últimas décadas. Esse dinheiro poderia custear os projetos de fábrica da Intel no Arizona, Ohio e outros lugares.

Com informações do The Wall Street Journal

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