A Mercedes-Benz envolveu sua equipe de Fórmula 1 no processo de engenharia para construir veículos elétricos de mercado de massa muito mais eficientes, reduzindo o tempo de desenvolvimento em um quarto ou mais, à medida que inicia os esforços para acompanhar o ritmo da Tesla.

A tecnologia da F1 sempre acabou se espalhando para os veículos do mercado de massa. Mas a colaboração da Mercedes na F1 para construir EVs mais eficientes e mais rápidos não tem precedentes, porque incorpora essa mentalidade de corrida e conhecimento tecnológico diretamente no desenvolvimento do produto.

Após décadas de liderança em tecnologia de motores de combustão, montadoras antigas, como a Mercedes, ficaram atrás da Tesla em veículos elétricos. A equipe de F1 da Mercedes pode ajudá-la a voltar à corrida, disse Steven Merkt, chefe de soluções de transporte da TE Connectivity, importante fornecedora da alemã.

“Ninguém sente mais pressão do que a Mercedes para ser líder em inovação aqui”, disse Merkt. “Eles têm que forçar, ou não são mais Mercedes.” No ano passado, a Mercedes revelou seu carro-conceito EQXX, EV supereficiente com autonomia de mais de 1,2,mil km, desenvolvido em conjunto com a equipe de F1 da montadora na Inglaterra.

O EQXX levou apenas 18 meses para ser desenvolvido, contando com a experiência da equipe de F1 em trabalhar rapidamente para obter eficiência de motores a combustão e elétricos, aerodinâmica e resistência ao rolamento, disse a empresa.

“Temos uma vantagem com a Fórmula 1 que outros não têm”, disse o diretor de tecnologia da Mercedes, Markus Schaefer.

Corrida à toda velocidade

A velocidade é cada vez mais importante, porque os participantes mais novos, acima de tudo a Tesla, podem desenvolver ou ajustar modelos muito mais rapidamente do que montadoras tradicionais.

Fabricantes chineses de EVs em rápida evolução reduziram o tempo de desenvolvimento para média de 2,5 anos e estão lançando modelos inovadores e mais baratos na Europa.

A necessidade de velocidade é associada a esforço entre as montadoras para tornar EVs mais eficientes e, assim, reduzir custos – diminuindo o peso, melhorando o alcance e usando menos materiais de bateria já escassos.

Os fornecedores dizem que a eficiência agora está incluída em alguns contratos de EVs, já que as montadoras buscam tornar seus veículos mais acessíveis. “A eficiência é facilitador fundamental para acelerar a adoção de EVs globalmente”, disse Schaefer.

Partes do que a Mercedes aprendeu com o EQXX estarão em nova plataforma EV que entrará em produção em 2024, incluindo recursos aerodinâmicos, partes do trem de força e o sistema de software do veículo.

Schaefer disse que, ao aplicar sua abordagem de Fórmula 1, a Mercedes reduziu o tempo de desenvolvimento de novos veículos de média de 58 meses para ir da prancheta de desenho à produção em massa para “baixos 40 meses”.

Para modelos derivados – semelhantes entre si e construídos usando a mesma plataforma – o alvo é “a casa dos 30”.

A equipe de motores de F1 da Mercedes AMG High Performance Powertrains (HPP) em Brixworth, no centro da Inglaterra, está trabalhando em pelo menos meia dúzia de novos projetos desenvolvendo peças para modelos Mercedes de mercado de massa – baterias, inversores e novas gerações de motores, disse Schaefer.

O diretor de tecnologia avançada da HPP, Adam Allsopp, disse que recebeu a ligação da sede da Mercedes em Stuttgart – que deu início ao projeto EQXX em antigo estábulo durante as férias na Ilha de Wight em agosto de 2020. Ela veio com desafio claro e difícil – construir um EV capaz de rodar mil km com uma única carga.

Os limites de combustível da F1 impostos em 2014 forçaram a HPP a desenvolver motores e carros que aproveitam ao máximo cada gota e a “perseguir cada watt de perda” de dois motores elétricos, disse Allsopp.

“Uma parte fundamental de quem somos é sempre nos prepararmos para a próxima corrida”, disse Allsopp.

Aplicando essa mentalidade de corrida, os engenheiros da F1 em Brixworth e nas proximidades de Brackley trabalharam com uma equipe em Stuttgart para produzir o EQXX – usando abordagem flexível que permitiu à equipe avançar com o desenvolvimento antes que as baterias do EV estivessem prontas e depois adaptar os planos quando estivessem.

O EQXX apresentava bateria com metade do tamanho do carro-chefe EQS SUV, hardware eletrônico compacto e novo sistema operacional. Juntamente com a aerodinâmica elegante, isso permitiu que ele dirigisse mais de 1,2 mil km de Stuttgart a Silverstone, na Inglaterra, com única carga, gastando 8,3 kWh por 100 km. Em comparação, a Tesla diz que seu Model 3 de longo alcance gasta 16 kWh por 100 km.

Para manter a velocidade de trazer elementos do EQXX para produção em massa em 2024 em sua nova plataforma de veículo compacto Mercedes Modular Architecture (MMA), a montadora desenvolveu modelo digital de sua fábrica em Rastatt – o mesmo carro também será construído na Hungria e China – para “simular o processo de montagem” e, assim, acelerar a mudança física da fábrica para construir os novos EVs, disse o CTO Schaefer.

Tradicionalmente, as montadoras realizam atualizações de “meia-vida” em modelos de veículos após três ou quatro anos, mas Schaefer disse que “as atualizações para EVs serão muito mais frequentes”. Outros na indústria automobilística também estão acelerando a corrida por velocidade e eficiência.

A Ford anunciou planos para seguir a Mercedes com retorno às corridas de F1 em 2026, fornecendo “plataforma incrivelmente econômica para inovar, compartilhar ideias e tecnologias”, disse o CEO Jim Farley em fevereiro.

A Volkswagen disse que pretende reduzir o tempo de comercialização de novos modelos chineses de quatro anos para mais perto da média chinesa de 2,5 anos, em parte por localizar mais pesquisa e desenvolvimento.

As montadoras estão tão focadas na eficiência que agora incluem penalidades para fornecedores que não cumprem as metas de eficiência, disse Liam Butterworth, CEO da fornecedora Dowlais, cujos eixos laterais são usados em nove dos dez EVs mais vendidos do mundo.

A OneD Battery Sciences adiciona silício aos ânodos da bateria EV que reduzem o peso, reduzem os custos e carregam as baterias mais rapidamente. A GM investiu na empresa com sede em Palo Alto, Califórnia, e está pesquisando o uso da tecnologia nas baterias Ultium da montadora estadunidense.

O CEO da OneD, Vincent Pluvinage, disse que, durante o segundo trimestre, a empresa anunciará mais acordos com montadoras que buscam EVs mais baratos e eficientes. Ele se recusou a fornecer mais detalhes sobre os negócios.

“Aumentar o desempenho e reduzir os custos é o nome do jogo”, disse Pluvinage. “Se você tem tecnologia que funciona, mas está pedindo um prêmio, as montadoras não estão mais interessadas.”

Até agora, as montadoras adicionaram mais baterias aos veículos para aumentar a autonomia dos veículos elétricos, agravando a escassez iminente de matérias-primas, como lítio e cobalto.

Mas Allsopp, da HPP, disse que tornar os veículos elétricos mais eficientes permite que as montadoras usem baterias menores, tornando-os mais ecológicos e baratos.

“Apenas jogar baterias em algo não é solução inteligente”, disse Allsopp. “Se você encontrar maneiras inteligentes de obter o mesmo alcance, é melhor para os clientes, montadoras e para o planeta.”

Com informações de Automotive News Europe