O Google realiza sua conferência anual nesta quarta-feira (10) para mostrar suas inovações mais recentes. É um ritual que acontece há 15 anos – mas, desta vez, será permeado pela tensão. Isso porque, atualmente, gigante da tecnologia precisa recuperar seu espaço num campo que dominou por muito tempo: IA (inteligência artificial).
Explosão de entusiasmo em torno dos avanços recentes na tecnologia colocou o Google na defensiva, forçando-o a tentar recuperar iniciativa após sua rival Microsoft e empresas menores, como a OpenAI, colocarem novas ferramentas de IA “generativas” – por exemplo, o ChatGPT – diretamente nas mãos dos clientes.
Tensão pré-evento
Conhecido como I/O – abreviação de input/output, termo de software para interação humano-computador – evento é uma chance para executivos mostrarem aos investidores céticos, concorrentes e, em muitos casos, seus próprios funcionários, que ainda é o líder em IA.
Preparação para evento aumentou intensidade do ambiente para funcionários do Google após seus chefes enviarem ordens para redobrar seus esforços na IA, em dezembro de 2022. Aperto veio após ChatGPT, da OpenAI, se tornar um fenômeno instantâneo.
A expectativa de que o Google organize um evento de IA explosivo é atenuada pelo atual clima frugal da empresa, após demitir 12 mil funcionários em janeiro e cortar algumas de suas famosas regalias.
Conferência será muito menor do que nos anos anteriores: o que costumava ser uma extravagância de três dias cobrindo grandes áreas do campus da empresa, na Califórnia, agora vai durar apenas um dia.
Esse momento é o mais estressante para trabalhadores da empresa, segundo conversas com cinco atuais e ex-funcionários, que falaram sob condição de anonimato ao jornal The Washington Post. “É um momento diferente no Google”, disse um funcionário atual. “Há muita pressão agora”, acrescentou.
Contexto do Google
Mostrar nova tecnologia para clientes, mídia e investidores é fundamental, dada a percepção de analistas e observadores da indústria de que Google se atrapalhou no lançamento do chatbot “Bard”, em março, quatro meses depois do lançamento do ChatGPT e da Microsoft dar espécie de reboot no seu mecanismo de busca Bing, incorporando o chatbot da OpenAI.
Durante a maior parte de suas duas décadas, o Google desfrutou da reputação de líder indiscutível em suas principais áreas de negócios. A Pesquisa do Google não tem concorrentes sérios, e o Google Maps, Gmail e o navegador Chrome dominam suas categorias de produtos tão profundamente que autoridades antitruste em vários países iniciaram investigações ou entraram com ações judiciais alegando que a empresa está violando as leis de concorrência.
Esse domínio permitiu que empresa crescesse cada vez mais, contratando milhares de novos funcionários nos últimos anos e expandindo para novas áreas de produtos. Mas aí os modelos de IA generativa chegaram.
Após ingerirem trilhões de palavras e frases da internet, eles podem ter conversas estranhamente semelhantes às humanas. Isso levou alguns líderes de IA e especialistas em tecnologia a sugerir que pesquisas na Internet serão substituídas por bots de IA que podem responder diretamente a perguntas específicas. Novo ChatGPT é a prova disso.
A Microsoft e a OpenAI agora são as empresas que todas as outras precisam acompanhar. O Google está tentando recuperar o atraso.
Fred Havemeyer, analista do Macquarie Group
O porta-voz do Google, Chris Pappas, se recusou a comentar sobre.
I/O do Google
Este é o maior evento anual da empresa. E, nos meses e semanas que o antecedem, executivos e gerentes de produto debatem em que exatamente focar. Até um quarto dos quase 200 mil funcionários da empresa podem estar envolvidos em algo que será anunciado ou exibido no I/O, disse um ex-funcionário.
Estruturas excêntricas semelhantes a cúpulas são montadas em hectares de estacionamentos no campus da empresa, cada uma repleta de jogos coloridos, demonstrações práticas e hardware totalmente novo.
Porém, menos pessoas foram convidadas para participar pessoalmente neste ano. E a maioria dos desenvolvedores e parceiros fará streaming remotamente em vez de voar para a Califórnia.
No evento, espera-se que a empresa finalmente detalhe como começará a usar IA generativa nos resultados de pesquisa. Isso porque líderes do Google têm sido enfáticos ao dizer que o Bard não pretende ser um substituto para a busca.
Google, IA e buscas
No entanto, a empresa já falou sobre como a IA generativa pode ser útil quando se trata de responder a perguntas complexas sem uma resposta única, algo que atualmente é feito por blogueiros e criadores de conteúdo online.
O Google também pode usar um chatbot de pesquisa para analisar diferentes respostas e resumi-las, eliminando necessidade de usuários clicarem em vários links ao procurar por informações.
De qualquer forma, reformular a forma como os resultados de pesquisa são apresentados pode prejudicar o relacionamento de anos que a empresa mantém com criadores de conteúdo da Internet, que geralmente precisam do tráfego da pesquisa do Google para gerar receita.
Além disso, Google se denomina uma empresa “AI first” (“IA primeiro”, em tradução livre) há anos. E avanços tecnológicos feitos por seus pesquisadores ajudaram a semear todo o ecossistema de IA.
Seus próprios funcionários inventaram transformadores, um tipo de modelo de IA que poderia digerir conjuntos de dados maiores e, após publicar suas descobertas, viram a tecnologia ser adotada por empresas que agora se tornaram concorrentes importantes.
Empresa também inseriu a IA em produtos existentes, como melhorar o preenchimento automático que aparece na barra de pesquisa do Google ou aumentar muito a qualidade das traduções feitas pelo Google Tradutor. A empresa desenvolveu seus próprios chatbots de IA e até exibiu seu chatbot LaMDA no evento I/O de 2021.
Porém, o Google hesitou em tornar as novas ferramentas de IA amplamente disponíveis. Um evento de março, detalhando alguns dos planos de IA generativa da empresa, foi considerado como “nada impressionante” por investidores. Isso levou valor da empresa a cair US$ 100 bilhões (aproximadamente R$ 500 bilhões, na cotação atual) num único dia.
O que esperar, então?
O evento esclarecerá a questão de quão rápido o Google está disposto a agir para responder à ameaça competitiva da Microsoft e da OpenAI.
Alguns funcionários aplaudiram a urgência recém-descoberta e argumentam que colocar sua tecnologia nas mãos das pessoas enquanto ela ainda está em estado experimental é importante para ajudá-la a acompanhar concorrentes menores e mais ágeis. Outros funcionários, bem como pesquisadores de IA éticos externos, temem que novas táticas possam levar produtos com potencial de causarem danos às mãos de pessoas comuns.
Este é um momento delicado para o Google na corrida armamentista de IA. Esta é a hora do Google reiniciar mecanismos de IA com o relógio correndo.
Dan Ives, analista de ações da Wedbush Securities
Com informações de The Washington Post
Fonte: Olhar Digital
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