Grupo de jovens 160 crocodilos-do-orinoco, espécie típica das planícies da Venezuela e da Colômbia, foi solto, no último fim de semana, no rio Capanaparo, que corta os dois países. Eles foram criados em cativeiro como parte de um programa dedicado a salvar este enorme predador.
Isso porque o réptil, cujo nome científico é Crocodylus intermedius, está ameaçado de extinção, segundo a UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza). Este é o nível de alerta anterior ao desaparecimento de uma espécie em seu hábitat.
Crocodilo gigante (e pesado)
Os crocodilos-do-orinoco podem passar dos seis metros de comprimento – ou seja, é maior que um carro sedan típico – e dos 400 quilos. Diante da ameaça de extinção, Venezuela iniciou sua criação em cativeiro, em 1990, com projetos públicos e privados.
Nos últimos 33 anos, mais de dez mil crocodilos gigantes foram soltos. Mesmo assim, populações continuam estagnadas. Atualmente, restam cerca de cem fêmeas adultas em liberdade na Venezuela, estima a Fudeci (Fundação para o Desenvolvimento das Ciências Físicas, Matemáticas e Naturais).
“Fazemos uma parte: fazer o levantamento dos bichinhos, criá-los e soltá-los. Mas daí para frente não depende de nós, tem que haver resguardo, vigilância, controle, educação ambiental”, declarou à AFP Federico Pantin que, juntamente com sua esposa, Tuenade Hernández, administra em Turmero (estado de Aragua, centro-norte) o zoológico fundado por seu pai, Leslie.
O zoológico é o centro de criação deste projeto, juntamente ao vizinho Masagüaral (estado Guárico).
Zoológico com crocodilos
“Temos um casal fértil que produz ovos que incubamos” e “os filhotes que nascem” no zoo, explicou Pantin. “Nós nos apoiamos também no que chamam de ‘rancheo’, capturar filhotes pequenos no rio, quando são recém-nascidos, e trazê-los. Essa alternativa tem muito sucesso porque a predação no ambiente natural é muito grande”, acrescentou.
Os filhotes permanecem por um ano no zoológico antes de serem soltos. Mais de 95% sobrevivem, ao contrário do que aconteceria em seu hábitat. Em condições normais, maioria viraria comida de aves, peixes e outros répteis. “Os bichinhos que nascem ou chegam aqui com uns 24 centímetros e 80 ou 100 gramas […] serão soltos com 80 ou 90 centímetros de comprimento e quatro quilos”, disse Pantin.
Dezenas de pequenos crocodilos de pele esverdeada com manchas pretas e olhos claros aguardavam sua transferência em pequenos tanques. De um lado, numa casinha, ovos do casal fértil – cerca de 40 por posta – são incubados por cerca de 90 dias, enterrados na areia a 33 centímetros de profundidade, entre 30 e 34 graus centígrados e umidade de 85% a 90%. Os animais, cujo ciclo reprodutivo é anual, nascem por volta de maio.
‘Potencial turístico’
A soltura dos crocodilos gigantes tem, ainda, um “potencial turístico” que deve ser aproveitado, ressaltou Diego Bilbao, diretor da Rio Verde, que organiza excursões para assisti-la. Se os locais – inclusive comunidades indígenas – virem no crocodilo uma “fonte de renda”, ressalta, “ajudam a protegê-lo”.
O zoológico dos Pantin, que desenvolve programas de preservação de outras espécies endêmicas, com o Pintassilgo-da-venezuela (Spinus cucullatus), o sapo rajado de Rancho Grande (Atelopus cruciger) ou a tartaruga Rhinoclemmys diademata, costuma receber visitas de escolas.
“Eu adoro”, afirma Hernandez. “A sementinha da conservação se planta desde pequenininho”, ressalta.
Histórias e ameaças
No folclore local, crocodilos-do-orinoco aparecem, por exemplo, em canções. Uma delas é “Mercedes”, do falecido músico venezuelano Simón Díaz. Letra usa como metáfora do adultério um crocodilo devorar uma mulher enquanto ela se banha num rio.
Animal ficou à beira da extinção na primeira metade do século 20 pela caça, por conta da sua pele muito cobiçada. Assim, mais de 2,5 milhões de peles foram exportadas da Venezuela entre 1931 e 1934, segundo números oficiais. Hoje, esse comércio é proibido, mas ainda há ameaças. Consumo de sua carne e ovos, além da contaminação de rios e canais.
Com informações da AFP
Fonte: Olhar Digital
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