Um novo estudo sobre os meteoritos de Marte que caem na Terra, publicado este mês na revista Science Advances, pode ter descoberto como esse processo acontece – desvendando, assim, um mistério que há décadas desperta o interesse da comunidade científica.

Meteoritos de uma variedade de fontes despencam na superfície da Terra há milênios, mas, até cerca de 50 anos atrás, Marte não era sugerido como uma possível origem desse bombardeio.

Até que, na década de 1970, medições da atmosfera marciana feitas pelos orbitadores Viking, da NASA, foram identificadas como correspondentes aos gases presos nessas rochas espaciais. Começou aí uma saga para se entender como isso acontece.

Batizado formalmente como “Noroeste da África (NWA) 7034”, e apelidado de “Beleza Negra”, este meteorito marciano pesa cerca de 320 gramas. Crédito: NASA

Na nova abordagem, cientistas do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) e do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da NASA simularam a “pressão de choque” que é experimentada pelas rochas de Marte ao serem ejetadas do planeta. 

Ao fazer isso, eles descobriram que pode não ser tão difícil como se pensava catapultar uma rocha do Planeta Vermelho para o espaço.

“Não estamos em Marte, então não podemos assistir a um ataque de meteorito pessoalmente”, disse o membro da equipe e cientista planetário do JPL, Yang Liu, em um comunicado. “Mas podemos recriar um tipo semelhante de impacto em um ambiente de laboratório. Ao fazer isso, descobrimos que é preciso muito menos pressão para lançar um meteorito de Marte do que pensávamos”.

Ao deixarem a superfície de Marte, atravessarem a atmosfera daquele planeta, passarem dentro e fora do quase vácuo do espaço e, em seguida, através da atmosfera da Terra para, então, atingirem a superfície terrestre, as rochas devem sobreviver a temperaturas e pressões massivas e a um eventual pouso forçado.

Até agora, esses meteoritos são a única maneira de estudar as rochas marcianas de perto e pessoalmente, enquanto nenhuma amostra é coletada diretamente naquele planeta e trazida para análise.

Um fragmento do meteorito Tissint, que caiu na Terra em 2011, vindo de Marte. Créditos: Ludovic Ferriere/Museu de História Natural de Viena

Meteoritos de Marte são ejetados com menos força do que se pensava

Quando um mineral plagioclásio é exposto a pressões extremas como as causadas por impactos gigantes, é gerado um material vítreo conhecido como maskelynite. Isso significa que encontrar maskelynite dentro de uma rocha pode sugerir o tipo de pressões a que ela foi exposta. 

Segundo o site Space.com, nos últimos cinco anos, meteoritos marcianos foram encontrados com uma mistura de plagioclásio e maskelynite, o que delimita a quantidade de pressão que eles devem ter experimentado.

Os autores do novo estudo decidiram destrinchar rochas da Terra contendo plagioclásio para observar como altas pressões fazem com que o mineral se transforme. Isso envolveu o uso de uma arma poderosa para explodir as rochas com projéteis disparados a cinco vezes a velocidade do som, simulando os tipos de pressões que as rochas ejetadas de Marte experimentariam.

Experimentos anteriores mostraram que o plagioclásio se torna maskelynite a uma pressão de choque de 30 gigapascals (GPa), que é 300 mil vezes a pressão atmosférica na Terra ao nível do mar. Esses testes exigiram a reverberação de ondas de choque através de uma câmara de aço, algo que não dá uma imagem precisa do que acontece durante os impactos em Marte, no entanto.

Nos novos experimentos, sem que essa câmara de aço atuasse sobre as ondas de choque, os cientistas descobriram que a transição do plagioclásio para maskelynite na verdade ocorreu em apenas 20 GPa – ou seja, é necessária uma força muito menor do que se acreditava.

Os resultados batem com observações de outros minerais de alta pressão em meteoritos que apoiam a ideia de que rochas marcianas experimentam pressões de choque de menos de 30 GPa durante a ejeção.

Com base nesses novos parâmetros de pressão de choque, os cientistas podem ser capazes de rastrear meteoritos marcianos até os impactos gigantes que inicialmente os lançaram ao espaço.