Na última década, pesquisadores da vida selvagem aprimoraram técnicas para recuperar o DNA ambiental, ou eDNA — pequenas quantidades de material genético que todos os seres vivos deixam para trás. No entanto, desde o início, os cientistas têm recuperado grandes quantidades de DNA humano.

Para eles, isso é considerado poluição, uma espécie de captura acidental do genoma humano que prejudica seus dados. Mas e se alguém se propusesse a coletar intencionalmente o eDNA humano?

Como o eDNA é usado

Uma ferramenta poderosa e econômica para ecologistas, o eDNA está presente em todos os lugares — flutuando no ar ou permanecendo em superfícies, até mesmo na água. Cientistas têm conhecimento da existência do DNA ambiental há décadas, mas não acreditavam que pudesse ser usado na identificação de indivíduos, dado seu tamanho diminuto e nível de degradação.

Os pesquisadores têm usado esse método para detectar espécies invasoras antes que elas se estabeleçam, rastrear populações vulneráveis ou secretas de animais selvagens e até mesmo redescobrir espécies consideradas extintas.

A tecnologia de eDNA também é utilizada em sistemas de vigilância de águas residuais para monitorar o Covid e outros patógenos.

O que é possível fazer com o eDNA humano?

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Entre a poeira, pólen e pequenas partículas encontradas no ar, pode estar o DNA humano. Imagem: Ralf Geithe / Shutterstock.com

David Duffy, um geneticista de vida selvagem da Universidade da Flórida, começou a encontrar DNA humano em todos os lugares que olhava enquanto buscava uma maneira melhor de rastrear doenças em tartarugas marinhas.

Em um experimento, ele e seus colegas coletaram uma amostra de água de um riacho e a analisaram usando um sequenciador de nanoporos, capaz de ler trechos mais longos de DNA. Os pesquisadores recuperaram inesperadamente DNA humano legível das amostras.

A análise das amostras limitadas revelou informações sobre ancestralidade genética alinhadas com a composição racial da região. Também foram encontradas mutações-chave associadas a diabetes, problemas cardíacos e doenças oculares.

Os resultados de suas pesquisas, publicados nesta segunda-feira na revista Nature Ecology & Evolution, demonstram que os cientistas podem recuperar informações médicas e genealógicas a partir de fragmentos minúsculos de DNA humano presentes no meio ambiente.

Questões éticas

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Imagem: gopixa / Shutterstock.com

Éticos forenses e estudiosos do direito afirmam que as descobertas da equipe da Flórida aumentam a urgência de regulamentações abrangentes sobre privacidade genética.

Para os pesquisadores, isso também destaca um desequilíbrio nas regras em torno de tais técnicas nos Estados Unidos. Eles apontam ser mais fácil para as autoridades policiais implantarem uma nova tecnologia incompleta, do que para os pesquisadores científicos obterem aprovação para estudos que confirmem se o sistema realmente funciona.

Erin Murphy, professora de direito na Faculdade de Direito da Universidade de Nova York especialista no uso de novas tecnologias no sistema legal, descreve novas técnicas de coleta de DNA como “irresistíveis” para autoridades policiais.

Isso pode representar dilemas para a preservação da privacidade e das liberdades civis, especialmente à medida que o avanço tecnológico permite a obtenção de mais informações a partir de amostras cada vez menores de eDNA.

Informações genéticas e privacidade

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Imagem: Billion Photos / Shutterstock.com

Com informações de The New York Times.