Com o boom das redes sociais e a incessante busca por visualizações, seguidores e dinheiro nessas plataformas, muitos usuários extrapolam a moralidade e o que é considerável por nossa sociedade para obter essas coisas.
Uma rede visada para isso é o TikTok, famosa por suas lives e vídeos – e influencers desesperados por tudo que citamos no primeiro parágrafo.
E um caso recente chamo a atenção: um perfil, de nome Jasmine Carter, transmitia, ao vivo, de uma das várias janelas nas ruas que circundam a Cracolândia, em São Paulo (SP), um grupo de usuários de drogas presente no local.
Além disso, ela propagou fake news, ao afirmar que o governo possui auxílio chamado “Bolsa Crack de R$ 700 e pouco”. Também prometeu que, caso chegasse aos dez mil seguidores, jogaria moedas para o grupo. Alguns seguidores faziam piadas.
Porém, ela não alcançou seu objetivo e, de quebra, teve sua conta banida na quarta-feira (10), quando o conteúdo viralizou no Twitter. O vídeo em si rendeu 250 mil curtidas.
Entrei no TikTok à noite, bem na hora da live dela, peguei uma parte dela rindo dos usuários sob efeito de K9, e, depois, comemorando o tanto de visuzalizações. Saí com a sensação de ter visto um episódio muito triste de ‘Black Mirror’ [série de TV].
Comentário de um usuário do TikTok
A citação do usuário à série britânica de TV da Netflix, “Black Mirror”, calha, pois a produção aborda, em realidade distópica, aspectos sombrios da vida de seus personagens, sendo que, em muitas das vezes, o enredo de sofrimento é provocada pela tecnologia.
Outros casos
O perfil de Jasmine não está sozinho na exploração de tragédias por fama e dinheiro. Um motociclista filmou usuários na Cracolândia e a musicalizou com a canção “Ilusão (Cracolândia)”, de MC Hariel, além de comentar: “Cena apocalíptica”.
Foram 4,6 milhões de visualizações e 223 mil curtidas. Outra postagem similar foi postada em 30 de março e recebeu 6,8 milhões de visualizações, 223 mil curtidas e 5,3 mil comentários: “Não é um filme de zumbi, é a Cracolândia no Centro de São Paulo”, comentou.
Outro vídeo na plataforma mostra GCMs (Guardas Civis Metropolitanos) em ação de limpeza das ruas nas quais os usuários permanecem e dão vida à Cracolândia. Isso é algo rotineiro na vida dos policiais, mas quem postou o vídeo quis brincar com a situação. “Zumbis ladrões na Cracolândia”, escreveu. O registro é de 23 de abril, um domingo. São 5,6 milhões de visualizações, 146,9 mil curtidas e 1,2 mil comentários.
Remuneração
Recentemente, o TikTok passou a remunerar os criadores de conteúdo, porém, não se sabe quais os valores praticados pela plataforma. A maneira de isso ser feito é via apoio dos seguidores, que enviam “presentes virtuais” aos criadores de conteúdo, comprados com dinheiro real.
O usuário efetua a compra de moedas, que podem ser trocadas por figurinhas, que são os “Presentes virtuais”. O pacote mais barato de moedas custa R$ 0,90 e vem com 12.
No mundo, o TikTok possui cerca de um bilhão de usuários com contas ativas. No Brasil, porém, a rede não faz essa contabilização.
Violação dos direitos humanos
A vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Priscila Akemi Beltrame, há clara violação de direitos humanos nos conteúdos publicados na rede social sobre a Cracolândia. “A população vulnerável tem direito à privacidade”, alerta.
Outros especialistas em direitos humanos entendem haver possibilidade de dano moral mesmo após a retirada do conteúdo.
Esses vídeos banalizam a falta de humanidade e o caráter de fragilidade. O que a gente espera é que [os usuários] sejam tratados com dignidade pelo poder público e pela sociedade.
Priscila Akemi Beltrame, vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB
A OAB afirma que a desumanização dos dependentes químicos é tão banalizada, que está presente até em operações policiais, como a Operação Caronte (Caronte é um personagem da mitologia grega, barqueiro responsável por levar as almas dos recém-mortos ao inferno). Desde fevereiro, ela se chama Resgate.
Ações
Quanto a atitude do TikTok de remover o perfil de seus servidores, Ivo Correa, advogado e professor do Programa de Políticas Públicas do Insper, a elogiou, destacando que casos assim são mais óbvios, mas que há conteúdos disfarçados, como publicam o vídeo de uma coisa e falam de outra.
O advogado e professor chama esse limiar de “fronteira”, o grande desafio na hora de controlar o é publicado em redes sociais.
Há também toda uma indústria de como violar as regras de uma plataforma. As plataformas podem criar as regras que quiserem, mas qualquer pessoa pode discordar e pedir a remoção de conteúdo. As autoridades têm papel importante. Tem coisas que a plataforma pode fazer, mas tem coisas que só o Judiciário pode fazer.
Ivo Correa, advogado e professor do Programa de Políticas Públicas do Insper
Ele também comentou sobre a PL das Fake News e suas consequências nas redes sociais e big techs. “Isso gera problemas para elas, sobrecarrega a Justiça. Terrorismo, atentado à instituição democrática, isso as plataformas têm que remover imediatamente. É o que está em discussão no Congresso”, pontua.
Resposta do TikTok
Respondendo ao questionamento do g1, o TikTok alega que está comprometido “em defender a dignidade humana individual e garantir que nossa plataforma não seja usada para que se aproveitem de pessoas vulneráveis”.
Para moderar conteúdos, a plataforma detalha haver misto de denúncias, tecnologia e moderação humana. “A plataforma identifica, faz análise e derruba o perfil, em muitos casos o vídeo sequer sobe”, explica.
Leia abaixo a resposta completa do TikTok:
Nós levamos extremamente a sério a responsabilidade que temos em proteger a integridade da plataforma e da nossa comunidade, seguindo o compromisso de combater comportamentos de exploração humana. Estamos comprometidos em defender a dignidade humana individual e garantir que nossa plataforma não seja usada para que se aproveitem de pessoas vulneráveis, proibindo e removendo conteúdos que violem nossas Diretrizes da Comunidade sempre que identificados.
TikTok, em resposta ao g1
Com informações de g1
Fonte: Olhar Digital
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