O futebol tem dessas coisas. Dessas coisas que proporcionam uma decepção profunda, raiva, tristeza, que inversalmente e na mesma proporção se transformam em outras coisas. O milagre do Sheffield Wednesday e a loucura em Hillsborough mostram como é bom estar vivo, porque morto, no máximo, está quem não ama o futebol.
Quem já sofreu com o amargor e a impotência diante de uma iminente eliminação num mata-mata, mas teve a felicidade inexplicável de presenciar a reviravolta, certamente queria, por um dia, ser torcedor do Sheffield Wednesday. É como uma droga. Vicia.
Estar na pele dos Owls há uma semana não deve ter sido fácil. No dia 12 de maio, o clube foi goleado por 4 a 0 no jogo de ida do play-off da League One, a terceira divisão da Inglaterra. Naquele momento, o Sheffield estava virtualmente eliminado, com o sentimento de injustiça por ter ficado a dois pontos do acesso direto à segunda divisão. Na primeira fase, foram 19 pontos a mais que seu algoz, o Peterborough, que se classificou na última rodada, naquela que é conhecida como bacia das almas.
O confronto de volta entre os clubes decorreu na quinta-feira (18). O Sheffield tinha a missão inegociável de, no mínimo, devolver o placar para seguir à prorrogação. O primeiro gol saiu cedo, aos nove minutos do primeiro tempo, de pênalti. Ainda na etapa inicial o time conseguiu o 2 a 0. A situação parecia controlada quando Reece James, não aquele do Chelsea, outro, marcou o 3 a 0. Aí veio a agonia.
Aí a agonia, obviamente, depende da perspectiva. O azarão, o underdog, o vilão Peterborough via os minutos passarem lentamente. Faltavam pouco menos de 20 para o jogo acabar, mas a cada olhada no relógio era uma unha a menos nos dedos. E nem Einstein com a teoria da relatividade, do espaço-tempo, explicaria como, no mesmo estádio, os minutos passavam tão rápido em outra perspectiva, na do Sheffield e de seus torcedores.
O gol que levou o jogo para a prorrogação só saiu aos oito minutos de acréscimos, com uma imperativa e compreensiva revolta do Peterborough. Teoricamente, o jogo só teria seis minutos acrescidos, mas a bola continuou a rolar e o gol saiu naquele que deveria estar no dicionário dos gols chorados.
Oito jogadores do Sheffield na área contra o time todo, sim, 11 jogadores do Peterborough. A bola foi cruzada na segunda trave, Aden Flint cabeceou para a pequena área, e caindo no gramado, entre quatro marcadores, Liam Palmer marcou. O milagre estava (quase) feito.
Com 4 a 0 no tempo regulamentar, o jogo seguiu para a prorrogação. Não se tratava naquele momento de um milagre consumado, mas um misto de sentimento com uma própria agonia. Um gol contra de Lee Gregory, à favor do Peterborough, foi quase como uma provação aos fiéis do Sheffield. Naquele momento, tudo poderia ter desandado.
Novamente, naquela corrida contra o relógio, o Sheffield Wednesday conseguiu mais uma vez o gol que precisava. Callum Paterson marcou o tento que selou o placar final da partida, 5 a 1. Teria de ser resolvido nas penalidades.
A bola na marca da cal, o goleiro sob a linha e um gol que se apequena. Disputa de pênaltis é sempre divertida – para quem não está envolvido nela.
Na disputa alternada, um gol para o Sheffield, um gol para o Peterborough. Um gol para o Sheffield e… uma bola carimbada no trevessão pelo Peterborough. Com a vantagem novamente na partida, os Owls não titubearam e abraçaram o milagre.
Com a classificação veio o êxtase, que tomou conta de um abarrotado Hillsborough Stadium. Insandecidos, os torcedores do Sheffield Wednesday invadiram o gramado, abraçaram os jogadores, correram pelo campo com quem corre pelo encontro com o divino. A classificação estava completa, mas não a epopeia. Ainda há um capítulo final: este foi apenas o primeiro mata-mata do play-off. É preciso aguardar o vencedor de Bolton x Barnsley para saber o adversário do jogo que vale o acesso.
Fonte: Ogol
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