Um artigo publicado esta semana na revista Fossils descreve a descoberta de uma nova espécie de mosassauro, um lagarto marinho da época dos dinossauros que tinha dentes estranhos e sulcados, diferentes de tudo o que já se viu.
De nome científico Stelladens mysteriosus, esses animais com “dentes de chave Philips” e duas vezes o tamanho de um golfinho viviam onde hoje é o Marrocos, no Período Cretáceo Superior. Eles foram dizimados na grande extinção que assolou a Terra há 66 milhões de anos e acabou com 90% de todos os seres vivos do mundo, após a queda do asteroide Chicxulub.
Segundo o estudo, esses monstros marinhos de dentição bizarra seriam parentes distantes de animais como os dragões de Komodo, as cobras e as iguanas.
A Bacia de Oulad Abdoun, no Marrocos, é um importante local para fósseis de vertebrados, com depósitos de fosfato que variam do Cretáceo Superior ao Paleogeno Inferior, compreendendo cerca de 25 milhões de anos. Foi lá que os cientistas encontraram esta nova espécie de mosassauro.
Formato incomum desses dentes é inédito
Embora compartilhasse algumas semelhanças com outros mosassauros, o que chamou a atenção dos pesquisadores foi justamente o formato incomum dos dentes desse animal.
Diferentemente da maioria dos mosassauros, que tinham cristas serrilhadas semelhantes a lâminas na parte de trás e na frente dos dentes, que os ajudavam a devorar suas presas, esta nova espécie tinha entre quatro e seis lâminas correndo verticalmente em cada um, atribuindo uma aparência estrelada nas pontas.
“É uma surpresa”, disse Nick Longrich, paleontólogo do Milner Centre for Evolution, da Universidade de Bath, na Inglaterra, que liderou o estudo. “Não é como qualquer mosassauro, ou qualquer réptil, mesmo qualquer vertebrado que já vimos antes”.
O fato de vários dentes terem sido encontrados com a mesma configuração indica que a forma estranha não foi provocada por uma patologia ou por alguma mutação.
Lagarto marinho tinha dieta desconhecida
Segundo Longrich, esses dentes únicos sugerem uma estratégia de alimentação diferenciada, ou uma dieta especializada, mas ainda não está claro o que o animal comia. “Não temos ideia do que esse animal se alimentava, porque não sabemos de nada semelhante vivo hoje ou em registro fóssil”.
De acordo com o artigo, os dentes encontrados são pequenos, mas robustos, e com desgaste nas pontas, o que descarta presas de corpo mole. Também não seriam fortes o suficiente para esmagar animais de couraça muito dura, como ouriços e estrelas do mar, no entanto.
“Isso pode sugerir que eles comiam algo pequeno e levemente blindado – amonites de casca fina, crustáceos ou peixes ósseos – mas é difícil saber”, disse Longrich. “Havia animais estranhos vivendo no Cretáceo, que não existem mais. É possível que esse mosassauro ocupasse um nicho de dieta que simplesmente não existe mais, e isso pode explicar por que nada disso é visto novamente”.
Embora os cientistas tenham debatido o papel das mudanças ambientais do final do Cretáceo na extinção, esse fóssil, junto a outras descobertas recentes do Marrocos, sugere que os mosassauros estavam evoluindo rapidamente até o fim.
Depósito fóssil no Marrocos pode surpreender ainda mais
O novo estudo mostra que, mesmo após anos de trabalho no Cretáceo do Marrocos, novas espécies continuam a ser descobertas. Segundo os autores, em um ecossistema muito diverso, pode-se levar décadas para encontrar todas as espécies raras.
“Não estamos nem perto de encontrar tudo nesses leitos”, disse Longrich, “Esta é a terceira nova espécie a aparecer, apenas este ano. A quantidade de diversidade no final do Cretáceo é simplesmente impressionante”.
Nour-Eddine Jalil, professor do Museu de História Natural e pesquisador da Universidade Cadi Ayyad, no Marrocos, coautor da pesquisa, disse que a fauna produziu “um número incrível de surpresas”: mosassauros com dentes dispostos como uma serra, uma tartaruga com focinho em forma de snorkel, uma infinidade de vertebrados de várias formas e tamanhos e, agora, um mosassauro com dentes em forma de estrela.
“Diríamos as obras de um artista com uma imaginação transbordante”, declarou. “Os locais do Marrocos oferecem uma imagem incomparável da incrível biodiversidade pouco antes da grande crise do fim do Cretáceo”.
Fonte: Olhar Digital
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