Um artigo publicado esta semana na revista Geophysical Research Letters descreve a primeira vez que astrônomos conseguiram observar um vórtice de ar relativamente quente em Urano a partir da Terra. Isso fornece evidências da presença de um ciclone polar no norte do planeta, característica que desde a década de 1980 já se suspeitava existir.
A descoberta do vórtice setentrional em Urano foi feita através da detecção de emissão térmica na forma de ondas de rádio captadas usando o Very Large Array (VLA), rede de radiotelescópios localizada no estado norte-americano do Novo México.
Vórtices polares parecem ser uma característica comum a todos os planetas do Sistema Solar com atmosferas. Eles já foram observados em Vênus, na Terra, em Marte, em Júpiter, em Saturno, em Netuno e no polo sul de Urano. Acredita-se que correntes de jatos atmosféricos de alta altitude sejam responsáveis pela formação desses redemoinhos, embora os detalhes sejam diferentes em cada planeta.
Sonda da NASA detectou um ciclone no polo sul de Urano em 1986
Quando a sonda Voyager 2, da NASA, chegou à órbita de Urano, em 1986, detectou mudanças na velocidade do vento, que pode chegar a 900 km/h, no polo sul do planeta e que são consistentes com a existência de um vórtice polar lá.
No entanto, a espaçonave não conseguiu acessar o polo norte para ver se havia um vórtice ali também. Observar qualquer um dos polos de Urano a partir da Terra vinha sendo difícil até pouco mais de oito anos atrás. Isso porque Urano orbita o Sol inclinado para o seu lado em 97,8 graus, o que significa que por muito tempo só pudemos enxergar a região equatorial do planeta.
Desde 2015, no entanto, começamos a ter uma visão mais clara do polo norte de Urano conforme essa área começou a receber mais luz solar. Em 2018 e em 2022, o Telescópio Espacial Hubble observou uma calota brilhante sobre a região, fornecendo a primeira evidência de um ciclone polar no norte.
Com medições da circulação atmosférica e da mudança de temperatura nessa calota polar obtidas por observações do VLA feitas em 2015, 2021 e 2022, foi possível detectar um “colar escuro” tocando o planeta a 80 graus de latitude, espelhando um cordão brilhante observado pela Voyager 2 em torno do polo sul, que representa uma parte mais densa da atmosfera.
Dentro desse colar escuro, o VLA identificou um ponto luminoso, indicando temperaturas vários graus mais quentes no centro do vórtice do que fora dele (onde as temperaturas podem cair para menos 224ºC). Um ponto brilhante e quente como esse é uma característica muito típica de um ciclone.
Diferente dos ciclones da Terra
“Essas observações nos dizem muito mais sobre a história de Urano”, disse Alex Atkins, do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL), da NASA, que liderou as observações, em um comunicado. “É um mundo muito mais dinâmico do que se imagina”.
Segundo o estudo, ao contrário dos ciclones da Terra, o vórtice polar de Urano não é formado por vapor de água, mas por gelos de metano, amônia e sulfeto de hidrogênio. No entanto, pouco mais se sabe sobre isso no momento.
Observar e entender melhor os ciclones polares de Urano é um objetivo científico fundamental, e Atkins e seus colegas esperam continuar estudando o vórtice polar norte por muitos anos para observar se e como ele pode mudar ao longo do tempo.
Fonte: Olhar Digital
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