Capturas feitas pelo Telescópio Espacial Hubble ao longo de mais de uma década permitiram que astrônomos encontrassem um objeto misterioso compacto na Via Láctea, 800 vezes mais massivo que o Sol, que está criando um caos entre as estrelas próximas.
Segundo o astrofísico Eduardo Vitral, do Instituto de Ciência de Telescópios Espaciais (STScI), centro de operações da NASA responsável pelo Hubble e pelo Telescópio Espacial James Webb (JWST), tudo indica se tratar de um buraco negro de massa intermediária localizado na Constelação de Escorpião, a 6 mil anos-luz da Terra.
Se confirmado, isso pode aumentar a evidência crescente da presença desses pesos médios cósmicos no Universo, dos quais poucos foram encontrados até agora.
“É muito pequeno para que possamos explicar além de ser um buraco negro único”, disse Vitral em um comunicado emitido pela Agência Espacial Europeia (ESA), parceira da NASA na gerência do Hubble, nesta terça-feira (23). “Alternativamente, pode haver um mecanismo estelar que simplesmente não conhecemos, pelo menos dentro da física atual”.
Buracos negros de massa intermediária são raros
Grande parte dos buracos negros encontrados até agora – incluindo os 100 milhões abrigados na Via Láctea – assumem dois tamanhos: pequenos, de apenas 10 a 100 vezes a massa do Sol, e gigantescos, que são alguns milhões ou até bilhões de vezes mais pesados que o astro.
Buracos negros de tamanho médio, que os astrônomos acreditam residir nos centros de pequenas galáxias se alimentando vorazmente de estrelas, são muito mais difíceis de detectar e ainda mais complicados de confirmar, devido à falta de explicação para sua formação e dificuldades em pesá-los com precisão.
Embora as evidências de vários candidatos permaneçam inconclusivas, em 2014, cientistas confirmaram que um buraco negro de tamanho médio se encontrava a cerca de 12 milhões de anos-luz de distância da Terra.
Agora, a equipe de Vitral acredita ter avistado outro “buraco gravitacional”, desta vez muito mais perto de casa, depois de analisar 12 anos de dados do Hubble em um aglomerado estelar próximo chamado Messier 4 (ou M4).
Como todos os buracos negros, este não pode ser visto diretamente. Em vez disso, a equipe usou dados da espaçonave de mapeamento estelar Gaia, da ESA, para entender o movimento caótico das estrelas no centro do M4, onde elas estão presas no campo gravitacional do suposto buraco negro, “como abelhas pululando em torno de uma colmeia”, segundo a descrição da imagem.
Objeto encontrado pelo Hubble não poderia ter outra explicação
Embora o buraco negro ainda não tenha sido confirmado, os modelos atuais sugerem que uma região tão única e compacta de alta massa não poderia ser formada por outros processos.
Vitral e sua equipe conduziram simulações numéricas para ver se a massa de 800 sóis poderia ser criada por um grupo de buracos negros ou futuros buracos negros, como estrelas de nêutrons ou anãs brancas, descobrindo que o que foi detectado pelo Hubble é mais compacto do que o que as simulações são capazes de produzir.
“Se o objeto não for um único buraco negro de massa intermediária, seriam necessários cerca de 40 buracos negros menores amontoados em um espaço de apenas um décimo de um ano-luz para produzir os movimentos estelares observados”, diz o comunicado.
Fonte: Olhar Digital
Comentários