Saturno é um dos planetas mais interessantes do Sistema Solar, principalmente em razão de seus famosos anéis e por conter mais de 140 satélites naturais. Um deles, Encélado, tornou-se recentemente alvo do Telescópio Espacial James Webb (JWST), que trouxe revelações sobre uma importante característica dessa lua.

Em 2005, a sonda Cassini, da NASA, registrou cortinas de gêiser saindo de fissuras semelhantes a “faixas de tigre” perto do polo sul de Encélado. “Gêiser” é um termo usado para descrever uma nascente termal que entra em erupção periodicamente, lançando uma coluna de água quente e vapor para o ar. 

Segundo os cientistas responsáveis pela sonda, alguns desses jatos, às vezes, chegavam a jorrar 200 kg de água por segundo, com algumas partículas chegando a se tornar parte dos anéis de Saturno.

Representação artística de um sobrevoo da sonda Cassini por Encélado, satélite natural de Saturno, mostra os jatos de pluma expelidos pela lua. Crédito: NASA/JPL-Caltech

Uma década de dados da missão Cassini forneceu evidências de um oceano líquido profundo dentro da crosta gelada de Encélado, escapando para o espaço através de um “criovulcanismo” contínuo. Como um lugar tão pequeno e frio pode sustentar tanta atividade geológica tem sido um enigma científico contínuo.

Considerando que, segundo estudos, Encélado apresenta ingredientes necessários para sustentar a vida – pelo menos os que conhecemos – isso significa que uma amostra das plumas dos gêiseres é algo realmente precioso.

Telescópio James Webb pode ver além do que a Cassini foi capaz

É bem possível que evidências de atividade biológica possam estar contidas nas plumas, algo que a sonda Cassini não foi capaz de identificar, por não ter sido projetada para isso (já que não se sabia da existência dessa atividade).

Agora, com o Webb, as coisas mudaram. Posicionado muito mais distante de Saturno do que o falecido orbitador, o telescópio espacial, usando apenas 4,5 minutos de seu precioso tempo, revelou uma coluna muito maior do que a Cassini poderia detectar, estendendo-se muito mais para o espaço do que o diâmetro de Encélado, que é de 504,2 km.

Ou seja, segundo as medições do mais poderoso observatório espacial de todos os tempos em operação, as fontes termais dessa lua são capazes de atingir mais do que o dobro de altitude do que se sabia anteriormente.

Próximos passos da pesquisa sobre a lua Encélado

Segundo a astrofísica Sara Faggi, pesquisadora de Pós-Doutorado do Centro de Astrobiologia Goddard, da NASA, na Divisão do Sistema Solar, as observações serão descritas em um artigo científico que trará, entre outras informações, o volume de água liberado pela pluma detectada pelo Webb e sua temperatura.

O JWST também analisou o espectro da luz solar refletindo em Encélado e encontrou evidências de muitos compostos que poderiam sugerir atividade geológica ou biológica no oceano da lua. “Temos muito mais surpresas”, disse Faggi à revista Nature.

Uma nova etapa da pesquisa, que vai contar com a dedicação do telescópio por 27 minutos (seis vezes mais do que a anterior), terá como objetivo encontrar elementos químicos associados à habitabilidade, como compostos orgânicos e peróxido de hidrogênio. “A nova observação nos dará nossa melhor chance até agora de procurar indicadores de habitabilidade na superfície de encélado”, diz o líder do projeto, Christopher Glein, geoquímico do Instituto de Pesquisa do Sudoeste (SwRI).

Agora, é aguardar pelas novidades que o estudo pode trazer sobre esse surpreendente objeto do Sistema Solar.