Há uma história “esquecida” no Campeonato Espanhol. O título antecipado do Barcelona e a imagem arranhada da liga após os consecutivos ataques racistas a Vinícius Júnior deixaram de lado uma quase silenciosa Real Sociedad, que após 10 anos pode retornar à Liga dos Campeões.
Quarto colocado de momento em La Liga, o clube basco está a uma vitória de pisar novamente no principal palco do futebol europeu. Numa temporada memorável, que venceu os gigantes Real Madrid e Barcelona, a Real Sociedad construiu a terceira melhor defesa do torneio e se tornou sensação baseada em nomes que passam longe do hype.
Comandados desde 2019 por Imanol Alguacil, os Txuri-urdin, na verdade, têm como marca registrada nos últimos anos justamente a consistência defensiva. Alguacil, que era lateral direito e fez praticamente toda sua carreira na Real Sociedad, tanto como jogador, quanto treinador, apresenta progresso em seus números temporada pós temporada. Atualmente, ele é o terceiro mais longevo da elite espanhola, atrás apenas de Jagoba Arrasate, do Osasuna, e Simeone, do Atlético, que está há 11 anos no cargo.
A montagem de elenco da Real Sociedad para 2022/23 não foi das que mais chamou a atenção na Espanha. A maior parte do trabalho foi manter a base de anos anteriores e repor perdas importantes, como a do sueco Alexander Isak ou do belga Adnan Januzaj.
Na verdade, se as mudanças no clube da temporada passada para esta fossem despertar o interesse seria mais pelo lado negativo. Isak deixou o clube após longa queda de braço para reforçar o Newcastle por valores recorde. A reposição mais óbvia seria um retorno de Willian José, que estava emprestado ao Betis, mas por lá permaneceu, desta vez em definitivo.
Contratações da Real Sociedad para 2022/23 foram apenas cinco, todas elas focadas na fragilidade do time nos últimos anos: o ataque. A tal reposição para Isak acabou por ser Alexander Sorloth, que já estava no time, por empréstimo, mas havia retornado ao RB Leipzig e acabou cedido novamente. Tefusa Kubo, o “Messi japonês” foi outro reforço e chegou sob grande desconfiança, após temporada entre altos e baixos no recém-promovido Mallorca. Por fim, mais um nome importante que saiu desse pacote foi Brais Méndez, meia que tem passagens pela seleção espanhola, mas já vinha em desgaste no Celta de Vigo.
Sorloth, Kubo e Méndez até pareciam não prometer muito, mas entregaram justamente o que Alguacil precisava: acabar com a dependência de Mikel Oyarzabal. Artilheiro e líder em participação em gols do clube nos últimos anos, Oyarzabal está longe de ser, propriamente, um goleador. Além de tudo, acabou gravemente lesionado no início da temporada e perdeu até a Copa do Mundo.
Sem seu principal jogador nas últimas temporadas, Alguacil abriu mão da formação com três atacantes que vinha apostando nos últimos anos e adotou um clássico 4-4-2. Com menos atacantes, o time, ironicamente, se mostrou mais eficiente e solidário no ataque.
O norueguês Alexander Sorloth foi o primeiro a crescer em desempenho. De um tímido 2021/22, com oito gols, o atacante quase dobrou seus números neste ano, com 15 gols até o momento, sendo 14 deles de dentro da área e sempre aproveitando a assistência de outro companheiro, como um bom centroavante.
Diferente de Kubo e Sorloth, porém, Méndez é um meia ofensivo que se apresenta para fazer companhia a um “solitário” David Silva. Aquele mesmo, veterano, ex-Manchester City. Silva está na Real Sociedad há três temporadas e sofreu no passado como único responsável no meio de campo a pensar o jogo.
Aliado à Silva e Méndez, no meio de campo da Real Sociedad, ainda vale destacar Mikel Merino. O time, que ficou conhecido pela consistência defensiva, não poderia ter somente destaques no ataque. O volante vive o auge da carreira e voltou a ser chamado pela seleção espanhola, após dois anos de lado. Diferente de um passado mais destruidor, o espanhol é outro que ajudou Alguacil a melhorar os números ofensivos, cada vez mais ajudando, também, na criação de jogadas: já são nove assistências em 2022/23.
Para saber se história dessa Real Sociedad terá um final feliz, há uma oportunidade única neste final de semana. O clube enfrenta o Atlético de Madrid, no sábado, em confronto direto pelo terceiro lugar – ainda que improvável, os bascos podem voltar a terminar entre os três primeiros lugares pela primeira vez desde 2002/03. Mesmo se não ultrapassar os Colchoneros, os Txuri-urdin só precisam de dois pontos para voltar à Champions. Diferente de outros torneios nacionais da Europa, na Espanha ainda faltam duas rodadas a serem disputadas. O último jogo é contra o Sevilla.
Fonte: Ogol
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