Dizem que todas histórias fantásticas começam com “era uma vez”. Essas histórias, dizem, são para crianças e fazem despertar um imaginário lúdico, sobre um tempo muito, muito distante e sempre têm um final feliz, mas servem para a escapar da realidade, afinal, são apenas contos de fadas. Era uma vez, portanto, uma história destinada a contrariar a lógica desses contos. Era uma vez o Sheffield Wednesday e a epopeia que levou ao acesso da Championship.
Parecia impossível para qualquer um, de Stanley Kubrick a Quentin Tarantino, criar um roteiro tão fantástico quanto a reviravolta do Sheffield contra o Peterborough, na primeira eliminatória do play-off da terceira divisão inglesa. O Sheffield Wednesday, para quem não se lembra, perdeu o jogo de ida por 4 a 0, depois ganhou o jogo de volta por 5 a 1 e se classificou nas penalidades. A história da agonia, do milagre e do êxtase foi contada na última semana. Pois bem, o Sheffield ressignificou o sentido de emoção no futebol.
Anestesiados pela épica classificação à decisão dos play-off, milhares de torcedores do Sheffield lotaram parte de Wembley. Sim, como a Royal Opera House está para o teatro em Londres, Wembley está para o futebol. O palco mais importante do esporte recebeu a decisão da última vaga para a Championship, a segunda divisão inglesa. O vilão da história do Sheffield, desta vez, era o Barnsley.
É quase um sentimento masoquista. Se é possível resolver um jogo no tempo normal, quem poderia escolher sofrer até o último minuto para conquistar o objetivo? Escolher, provavelmente, ninguém terá escolhido, mas é por essas linhas tortas que um acesso da terceira para a segunda divisão da Inglaterra poderia ganhar os olhos do mundo. Afinal, quem ligaria para o Sheffield Wednesday?
Ao entrar em campo em Wembley, o time escalado pelo jamaicano Darren Moore parecia orientado a cumprir à risca o papel da expecativa criada há uma semana: subir, mas com um espetáculo. Há quem considere um espetáculo uma atuação hollywoodiana, ou guardioliana, um tiki-taka, uma goleada. Há também quem seja mais adepto de algo dramático. O Sheffield é para este público.
No tempo regulamentar, Sheffield Wednesday e Barnsley empataram em um 0 a 0 animado, com repetidas oportunidades de gols impedidas pelos goleiros dos dois lados. Harry Isted e Cameron Dawson foram, sem dúvidas, os protagonistas. A partida teve de seguir para a prorrogação e o empate sem gols seguiu insistentemente até o final da primeira parte do tempo adicional.
Decidido a acabar com o sentimento sádico do sofrimento dos Owls, o galês Will Vauks marcou um golaço logo no primeiro ataque do segundo tempo da prorrogação. O lance nasceu na ponta direita, um cruzamento para trás, na meia-lua e o meia acertou aqueles chutes de rara felicidade, no ângulo. A explosão de felicidade durou poucos segundos – o gol acabou anulado, por impedimento.
Quando ninguém mais esperava por qualquer decisão com a bola rolando e a movimentação nos bancos de reservas já era sobre a ordem da cobrança das penalidades, surge a obra de Josh Windass. Windass é daqueles que só pode ser um profeta enviado por eles, os Deuses do futebol. No último minuto da prorrogação, jogada de Lee Gregory pela direita, cruzamento para o centro da área e uma cabeçada, um peixinho, para estufar a bola no fundo da rede. O estádio veio abaixo. Não é todo dia que se vê um conto de fadas escrito e concluído. Aliás, todas histórias que começam com “Era uma vez” terminam do mesmo jeito: e foram felizes para sempre.
Fonte: Ogol
Comentários