Em 30 de junho de 1908, um asteroide destruiu cerca de 80 milhões de árvores na Sibéria em mais de 2.150 km².

Apelidado de Evento de Tunguska, é considerado o maior impacto de asteroide registrado na história. No entanto, ninguém jamais encontrou os fragmentos de asteroides ou o local de impacto.

Uma teoria popular é que o asteroide formou o Lago Cheko, lago de água doce a cerca de 8 quilômetros do epicentro da explosão. O lago tem cerca de 500 metros de largura e 54 metros de profundidade.

Luca Gasperini, diretor de pesquisa do Conselho Nacional de Pesquisa da Itália, e seus colegas, disseram que a forma cônica e a profundidade do lago lembravam uma cratera de impacto.

Em estudo publicado em 2012 na revista Geochemistry, Geophysics, Geosystems, eles estimaram que os sedimentos no fundo do lago vinham se acumulando há 100 anos, enquanto evidências de árvores no fundo do lago indicam que o poço cobre floresta antiga.

Mas alguns especialistas não ficaram convencidos. Em 2017, pesquisadores liderados por Denis Rogozin, do Instituto de Biofísica da Seção Siberiana da Academia Russa de Ciências, realizaram suas próprias análises e concluíram que os sedimentos do lago tinham pelo menos 280 a 390 anos, “significativamente mais antigos que o Evento Tunguska de 1908”

E em novo estudo publicado em 2 de maio na revista Doklady Earth Sciences, Rogozin e seus colegas apresentaram mais evidências para refutar a ideia de que o Lago Cheko é o local de impacto do asteroide Tunguska.

Anteriormente, muitos pesquisadores acreditavam que a forma incomum de cone do Lago Cheko era única na região, dando peso à ideia de que um asteroide o formou.

Mas Rogozin e seus colegas analisaram dois lagos próximos – Zapovednoye e Peyungda – que ficam a 50 km e 60 km do local de impacto suspeito. Ambos também são em forma de cone.

A diferença na idade dos sedimentos do lago coloca em questão a origem do impacto desses lagos – isso exigiria a chegada de três corpos espaciais quase idênticos em momentos diferentes, o que é altamente improvável, visto que os lagos estão localizados quase no mesmo local na Terra.

Pesquisadores, no estudo

Daniel Vondrák, que estuda ecossistemas de lagos na Charles University em Praga, República Checa, disse à Live Science que está convencido pelas evidências de Rogozin.

No entanto, a forma cônica dos lagos não é a única evidência de que Cheko foi formado pelo evento Tunguska, disse Gasperini.

Em artigo publicado no servidor de pré-impressão arxiv, em 2018 (que ainda não foi revisado por pares), Gasperini e sua equipe levantaram a hipótese de que Tunguska foi causado por um asteroide de “pilha de escombros” – mistura estruturalmente fraca de fragmentos de um asteroide monolítico.

Como resultado, o asteroide se dividiu em duas partes – uma com cerca de 60 metros de largura e outra com cerca de seis a dez metros de largura. O menor desses dois colidiu com a Terra, formando o Lago Cheko, escreveram.

A equipe detectou anomalia de dez metros de largura no fundo do lago, que pode ser fragmento restante do asteroide.

Ao perfurar até o centro do lago, alguém poderia testar a composição da anomalia para confirmar essa hipótese. No entanto, a equipe de Gasperini não consegue mais acessar o local devido à guerra na Ucrânia.

“Os cientistas russos poderiam facilmente fazer este teste, em vez de continuar a publicar artigos mostrando dados semelhantes aos nossos com interpretações muito questionáveis”, disse Gasperini à Live Science.

O que deve ter acontecido com o asteroide?

Se Cheko não foi formado pela cratera de impacto de Tunguska, então o que aconteceu com o asteroide que incendiou os céus há mais de um século?

Um artigo publicado em 2020 na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society sugeriu que grande asteroide de ferro passou pela atmosfera da Terra e depois se afastou de nosso planeta sem se separar. Isso, segundo a equipe, explicaria por que nenhum vestígio do asteroide foi encontrado.

Outro artigo publicado no arxiv no mês passado apresentou outra hipótese – que o asteroide se separou e se espalhou pela paisagem.

Embora muitos fragmentos tenham queimado na atmosfera, a equipe disse que pedaços menores poderiam ter sobrevivido e atingido a Terra em “campo espalhado”.

Este artigo sugere que as rochas do asteroide podem estar a cerca de 16 a 19 km a noroeste do epicentro, “mesmo que a lama e a vegetação possam ter feito qualquer vestígio desaparecer”.

Com informações de Live Science