Durante muito tempo, os mamíferos marsupiais, grupo onde estão os gambás e os cangurus, foram considerados mais primitivos que os placentários. Mas um novo estudo desafia essa ideia e até aponta que eles se desenvolveram muito mais desde o último ancestral comum conhecido.
Essa ideia surgiu pelo fato dos marsupiais darem à luz a filhotes em estágios iniciais de desenvolvimento, de forma que ele se complete em bolsas conhecidas como marsúpios. Essas características teriam colocado esse grupo de animais como um intermediário entre os monotremados, mamíferos que botam ovos, e os placentários.
Essa é uma má interpretação de que evolução significa maior complexidade. A genética e alguns outros fatores mostram que estruturas complexas podem sumir e reaparecer ao longo da linhagem evolutiva.
Análise de espécimes
Na pesquisa publicada na revista Current Biology, pesquisadores do Museu de História Natural do Reino Unido utilizaram espécimes em diferentes estágios de desenvolvimento de 22 espécies atualmente vivas para construírem uma linha do tempo que explique melhor o que existe agora.
As imagens 3D feitas por meio de micro-tomografias altamente detalhadas apontou que o desenvolvimento do crânio nos marsupiais é retardado e deslocado quando comprados aos placentários e o ancestral comum compartilharam há 160 milhões de anos.
As descobertas sugerem que o curto período de gestação dos marsupiais representa um tipo de desenvolvimento mais especializado e que exigiu maiores mudanças nas características desses animais desde o ancestral comum, do que as que aconteceram com os placentários.
O que pudemos mostrar claramente é que o modo de desenvolvimento dos marsupiais é o que mais mudou desde o ancestral dos marsupiais e dos placentários. A forma como os marsupiais se reproduzem não é uma forma intermediária entre a postura de ovos e os mamíferos placentários. É apenas uma forma completamente diferente de desenvolvimento que os marsupiais evoluíram.
Anjali Goswami, bióloga evolutiva do Museu de História Natural do Reino Unido em resposta a Science Alert
No entanto, ainda é necessário mais pesquisas para apoiar a descoberta, principalmente pela pequena quantidade de espécies analisadas no estudo e falta de exemplos de desenvolvimento inicial de um ornitorrinco utilizado no estudo.
Demanda ambientais
De qualquer forma, mesmo que as diferentes características permitam traçar linhas evolutivas, não significa que a complexidade delas seja um fator determinante de quão mais avançada a espécie é. No caso dos mamíferos marsupiais, as mudanças podem ter acontecido por demandas ambientais ou pela falta delas.
A hipótese é que a forma de reprodução dos marsupiais garante maiores chances de sobrevivência para mãe em casos de estabilidade ambiental, mas essa teoria ainda precisa ser melhor testada
Os mamíferos placentários têm longos tempos de gestação, então se um animal passa por um período em que os recursos secam, tanto a mãe quanto a prole provavelmente morreriam porque é tudo interno. Com um marsupial, é uma estratégia de risco muito menor porque a mãe pode abandoná-los facilmente em um estágio de desenvolvimento muito inicial, então pelo menos a mãe pode sobreviver e tentar novamente mais tarde.
Anjali Goswami
Fonte: Olhar Digital
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