Um artigo publicado na revista Nature desafia o senso comum sobre a origem do ser humano. O novo estudo contraria a teoria mais aceita, difundida há muitos anos, de que o Homo sapiensteria surgido a partir de uma única população ancestral no leste ou no sul da África.
Com um poderoso modelo computadorizado e análise de dados genéticos, cientistas do Canadá e dos EUA sugerem que a humanidade descende, na verdade, de diversos grupos primitivos espalhados pelo território africano.
Especificamente, a equipe liderada pela antropóloga Brenna Henn, professora da Universidade da Califórnia em Davis, aponta duas populações distintas que coexistiram paralelamente durante cerca de um milhão de anos antes de se misturar pelo continente.
“Não sabemos onde eles moravam, mas estavam suficientemente distantes uns dos outros para que ocorressem pequenas diferenças genéticas entre os grupos”, afirmou a pesquisadora à BBC News Mundo.
Carência de fósseis dificulta precisão do início da evolução humana
É fato que nossos ancestrais surgiram na África há pelo menos 300 mil anos, já que essa é a idade estimada do fóssil mais antigo associado ao ser humano moderno já encontrado. No entanto, como não existem muitos desses fósseis datando desse período inicial da nossa história evolutiva, é muito difícil fazer análises conclusivas.
Além disso, a distribuição geográfica dos restos mortais confunde o entendimento sobre como as espécies surgiram e se espalharam pelo continente africano antes de se alastrar pelo mundo.
A arqueóloga Eleanor Scerri, do Instituto Max Planck, na Alemanha, participou de um estudo em 2018 que acabou se tornando uma das bases para as novas descobertas.
“Nós analisamos dados arqueológicos, fósseis, genéticos e climáticos e defendemos que os seres humanos evoluíram a partir de diversas populações na África. Chamamos este modelo de multirregionalismo africano ou modelo estruturado pan-africano”, explica a cientista. “Atualmente, afirmamos que os modelos genéticos deveriam incorporar cenários estruturados e convidamos os geneticistas a fazê-lo”.
Segundo ela, se isso fosse desenhado, o provável é que o esquema “se pareceria mais com ramos de videira entrelaçados do que com uma árvore da vida”. O entrelaçamento desses ramos, com separações frágeis causadas pelas diferenças genéticas, deu lugar a um conceito evolutivo que os pesquisadores do novo estudo descrevem como “um ramo fragilmente estruturado”.
Tecnologia ajuda a desvendar mistérios da origem do ser humano
Para chegar a esses resultados, o time liderado por Henn fez uso de um poderoso modelo computadorizado. “A equipe utilizou um software desenvolvido por um dos autores, Simon Gravel, da Universidade McGill em Montreal, no Canadá, que conseguiu coordenar a ampla potência informática necessária para o modelo ampliado”, diz o artigo.
Então, foram incorporados dados de sequenciamento de genomas de 290 pessoas que moram atualmente no leste e no oeste da África e membros do povo nama, que vive no sul do continente africano.
Em seguida, eles criaram cenários distintos de populações existentes na África durante diferentes períodos de tempo e observaram quais poderiam produzir a diversidade de DNA encontrada nas pessoas vivas hoje em dia.
Segundo o artigo, essa difusão de dados genômicos ajudou os pesquisadores a compreender e rastrear o movimento histórico dos genes ao longo das gerações. Foi assim que eles determinaram que todo ser humano descende de pelo menos duas populações distintas que viviam na África um milhão de anos atrás.
Além disso, também foram analisados dados do genoma de 91 cidadãos europeus para representar a influência da era pós-colonial e dos neandertais, a espécie humana extinta que se concentrou na Europa até cerca de 40 mil anos atrás.
Sejam ou não confirmadas as conclusões do artigo de Henn, não há mais dúvidas de que a complexidade da origem da nossa espécie continuará sendo objeto de estudos cada vez mais apoiados pela evolução tecnológica.
Fonte: Olhar Digital
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