Denominada GRB 221009A, a explosão cósmica mais brilhante já detectada na história da observação espacial foi vista pela primeira vez em 9 de outubro de 2022, por telescópios de raios gama e raios-X. A provável supernova que causou a explosão estava a 2,4 bilhões de anos-luz de distância da Terra.

Conforme noticiado pelo Olhar Digital, dois estudos publicados em março deste ano trouxeram detalhes sobre o evento que, de tão incomum, desafia qualquer modelo previsto pela ciência. 

Ambas as pesquisas descobriram que a evolução das ondas de rádio lançadas pela explosão estelar foi mais lenta do que os modelos determinam, levantando questões sobre como a liberação de energia evolui durante ultrapoderosas explosões de raios gama (GBRs, na sigla em inglês).

Esses eventos são flashes breves e brilhantes de luz que os cientistas acreditam ser as manifestações mais poderosas do nosso universo desde o Big Bang. Elas são liberadas durante rebentações estelares extremas ou supernovas, quando uma estrela moribunda fica sem combustível e colapsa em uma estrela de nêutrons ou mesmo em um buraco negro

Uma animação de lapso de tempo feita a partir de dados do Observatório Neil Gehrels Swift, da NASA, mostra a explosão de raios gama mais brilhante já registrada e a evolução de seu brilho posterior ao longo de 12 dias. Créditos: NASA/Swift/A. Beardmore (Universidade de Leicester)

Embora a GRB 221009A – apelidada de BOAT (sigla em inglês para “mais brilhante de todos os tempos”) – tenha durado apenas alguns segundos, a explosão deixou para trás um “brilho posterior” de emissões em todo o espectro de luz que pode persistir por anos, segundo Tara Murphy, astrofísica da Universidade de Sydney e coautora de um dos estudos apresentados no início do ano.

Explosão estava direcionada para a Terra

A localização distante da explosão, que é na direção da constelação de Sagitário, ou a Flecha, foi para trás do Sol, do ponto de vista da Terra, em dezembro de 2022, só ressurgindo em meados de fevereiro. 

Isso permitiu uma nova pesquisa sobre o evento, com a medição do brilho remanescente da explosão, fornecendo uma explicação para o estranho episódio. De acordo com o estudo mais recente, publicado na última quarta-feira (7) na revista Science Advances, o jato estava apontado diretamente para a Terra, “algo muito parecido com uma mangueira de jardim inclinada para borrifar diretamente um alvo”, o que poderia elucidar, de alguma forma, por que havia tanto brilho.

Liderada por Brendan O’Connor, astrofísico da Universidade George Washington e cientista do Centro de Voos Espaciais Goddard, da NASA, a equipe de autores do artigo usou também outra analogia para ilustrar o que aconteceu.

Segundo eles, podemos pensar em um farol na beira do mar. Conforme sua luz gira, a intensidade do brilho varia, até se voltar diretamente para os nossos olhos. Nesse momento, a luminosidade fica mais intensa para nós.

Essa explicação é plausível para o brilho da BOAT. No entanto, ainda permanecem outros mistérios, como o fato de não terem sido vistas as bordas do jato e a diminuição lenta da luz de raios gama. 

Por essa razão, a equipe desconfiou que ainda havia uma outra razão para a intensidade da explosão. “Nosso trabalho mostra claramente que o GRB tinha uma estrutura única, com observações revelando gradualmente um jato estreito embutido em um fluxo de gás mais amplo, onde normalmente seria esperado um jato isolado”, disse O’Connor.

Segundo ele, a emissão se tornou mais longa que o normal porque os jatos de raios gama precisam passar pelo interior da estrela em colapso e atravessá-la por completo. No caso da GRB BOAT, “a quantidade de mistura que aconteceu entre o material estelar e o jato fez toda a diferença, de modo que o gás aquecido pelo choque continuou aparecendo em nossa linha de visão até o ponto em que qualquer assinatura característica de um jato teria sido perdida”.

Para a obtenção de mais informações que possam, enfim, explicar por completo o fenômeno, mais estudos se fazem necessários sobre os campos magnéticos das estrelas explosivas e seus jatos. 

Como a BOAT está bem perto da Via Láctea, isso aumentam as oportunidades dos astrônomos de aprofundar suas pesquisas, que podem até mesmo ajudar a desvendar outros segredos do cosmos, como a formação dos buracos negros e a presença de matéria escura no universo.

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