Ser demitido, naturalmente, não é legal. Mas, para dezenas de milhares de trabalhadores de tecnologia que perderam seus empregos nos últimos seis meses, a experiência também vem com memorando irritante que às vezes nem menciona a palavra “demissões”. Esses trabalhadores agora desempregados são repentinamente conhecidos como “entre os impactados”.

O Spotify seguiu o roteiro quando cortou 200 empregos na semana passada. “Sabemos que notícias como essa nunca são fáceis, especialmente para os afetados”, diz o memorando.

O termo se infiltrou até nas postagens do Twitter e LinkedIn dos próprios funcionários, que compartilham que estavam “entre os impactados” pelas notícias do dia.

Líderes de tecnologia pontificam sobre inovação, mas quando se trata de dar más notícias, a situação é outra. Ler esses memorandos todos juntos chega a cansar:

Isso é chamado de rotulagem eufemística, disse Sandra Sucher, professora da Harvard Business School que estuda como as empresas demitem trabalhadores. É um exemplo de “desengajamento moral”, no qual nossos cérebros tentam reestruturar ações moralmente difíceis que estamos prestes a realizar para torná-las mais palatáveis.

Em uma dispensa, esse desconforto aparece na linguagem (deve-se notar que a própria “demissão” foi introduzida como eufemismo – agora amplamente aceito – para demissões em massa).

Se você for realmente explícito, é uma rescisão involuntária que faz com que alguém não consiga pagar suas contas. Mas, é claro, não usamos essa linguagem.

Sandra Sucher, professora da Harvard Business School

Em vez disso, ela observou “imitação curiosa” acontecendo nesses memorandos. Mesmo que a frase “aqueles impactados” seja irritante e inespecífica, Sucher disse que aprecia o fato de gesticular para as emoções muitas vezes devastadoras que podem surgir com a demissão. “Pelo menos reconhece que esta ação tem efeito pessoal sobre os indivíduos”, salientou.

Sucher disse que é melhor do que falar sem parar sobre “realinhamentos estratégicos” ou “dimensionamento correto” de uma força de trabalho. Mas, para ser claro, várias empresas de tecnologia também fizeram isso.

Via Bloomberg