Nos comerciais, o WhatsApp diz que você pode “enviar mensagens em particular” com seu aplicativo de bate-papo. Novos anúncios da Apple se gabam de que um iPhone dá a você controle sobre quem vê seus dados de saúde.

Essas duas promessas de privacidade também estão sendo exibidas lado a lado em outdoors em São Francisco, EUA.

O WhatsApp e a Apple estão fazendo grandes coisas para defender sua privacidade. Cada empresa também desempenha um papel no comprometimento de suas informações pessoais.

A existência das mensagens de marketing do WhatsApp e da Apple também mostra que você está ganhando a luta por sua privacidade e segurança.

Era comum ouvir que apenas criminosos e paranoicos se preocupavam com a privacidade digital. Agora, empresas gigantes sabem que todos nós nos importamos.

Suas mensagens de texto com sua irmã podem não ser secretas, mas merecemos saber que as conversas que acreditamos serem privadas realmente são.

É isso que as empresas querem dizer quando falam em criptografia de ponta-a-ponta, como o WhatsApp vem fazendo em uma campanha publicitária há mais de um ano.

Suas mensagens são codificadas para que ninguém, exceto você e os destinatários da mensagem, possam lê-las. Se os hackers roubarem suas mensagens, eles verão coisas sem sentido.

O WhatsApp está certo em se gabar de sua criptografia. O aplicativo disponibilizou a criptografia para bilhões de pessoas. Mas:

“É tristemente importante que arranhemos a superfície e entendamos o que está por trás do slogan”, disse Meredith Whittaker, presidente do aplicativo de bate-papo criptografado Signal.

O maior problema com o discurso de privacidade do WhatsApp é que o aplicativo pertence à Meta, empresa na qual muitos não confiam.

Sim, o conteúdo das conversas e ligações do WhatsApp é privado, inclusive da própria Meta. Outros detalhes não.

Quando você usa o WhatsApp, a Meta conhece seus números de telefone e de seus contatos no WhatsApp, com que frequência você abre o aplicativo, sua localização aproximada e o nível de bateria do seu telefone.

A empresa de Mark Zuckerberg diz que não mantém registros sobre com quem você está trocando mensagens ou usa informações de contato para personalizar anúncios para você no Facebook ou Instagram.

Os fanáticos por privacidade também criticam o WhatsApp por não criptografar “metadados” – detalhes, como com quem você conversou e quanto tempo durou sua chamada do WhatsApp.

Como aprendemos com os bancos de dados do governo dos EUA sobre chamadas e e-mails dos estadunidenses, os metadados podem ser reveladores (outras empresas, incluindo a Apple, também salvam metadados de seu histórico de bate-papo).

Ícone do WhatsApp com número um vermelho no canto superior direito ao lado de ícone do Instagram numa pasta do iPhone
Imagem: BigTunaOnline/Shutterstock

O que fazer sobre o WhatsApp e sua promessa de privacidade

O WhatsApp ainda pode ser uma ótima escolha. O grupo de privacidade do consumidor Electronic Frontier Foundation escreveu há alguns anos que o WhatsApp e o Signal são bons aplicativos de bate-papo privado para a maioria das pessoas. A entidade afirmou ainda que não existe aplicativo de bate-papo perfeito para todos.

Os dados de saúde da Apple sob seu controle: verdade, porém…

O mais novo marketing da Apple se concentra em seu aplicativo Saúde. É onde seu iPhone salva informações, como quanto tempo você dormiu ontem, o número de passos que você deu e se você tomou remédio de colesterol.

Nesta semana, a Apple disse que adicionará mais recursos de saúde, incluindo opção para registrar suas emoções.

Os comerciais da Apple estão certos ao dizer que os dispositivos da empresa minimizam as informações coletadas sobre você. A empresa da maçã também criptografa suas informações de saúde em seus próprios aplicativos e serviços.

A Apple também diz que presta mais atenção se algum aplicativo em seu telefone deseja acessar informações de seus arquivos de Saúde.

Os aplicativos devem se comprometer a não vender suas informações de saúde para corretores de dados ou usar as informações para direcionar anúncios. Não está claro como a Apple verifica essas promessas de aplicativos.

Mas a Apple também é cúmplice na economia de coleta de dados, inclusive para seus dados confidenciais de saúde (assim como o Google).

A Apple fecha os olhos para muitos dos hábitos maliciosos dos aplicativos. A empresa realmente não atrapalha se o aplicativo que você usa para pesquisar a erupção cutânea de seu filho vende essas informações a um intermediário de publicidade ou se um aplicativo de cupom que tem permissão para seguir sua localização passa informações sobre pessoas que visitaram clínicas de aborto, por exemplo.

A companhia disse que, quando a empresa encontra aplicativos que violam suas regras, ela trabalha com os desenvolvedores para resolver o problema. Afirmou ainda que pode banir infratores reincidentes de sua loja de aplicativos.

Podemos não querer que a Apple seja o policial onisciente das práticas de dados de aplicativos. Ainda assim, não é totalmente verdade quando a Apple diz que as informações de saúde em seu iPhone são totalmente privadas e estão sob seu controle.

Pessoa segurando iPhone enquanto ativa a Siri
Imagem: Wachiwit/Shutterstock

O que fazer sobre a Apple e sua promessa de privacidade

Infelizmente, seu poder individual é limitado. Sua melhor proteção pode ser a paranoia. Não acredite que um aplicativo em seu telefone esteja mantendo suas informações privadas.

Não acredite que, se um aplicativo for relacionado à saúde, você está legalmente protegido pelas leis de seu país de privacidade de saúde. Você, provavelmente, não está.

Andrew Crawford, consultor sênior de políticas do Center for Democracy & Technology, recomenda que você revise as configurações do seu telefone para garantir que você se sinta bem com os aplicativos que registram em todos os lugares que você estiver.

Crawford também sugeriu que, se você estiver indo a locais sensíveis, como clínicas de saúde para tratamento de depressão, considere deixar o telefone em casa. Esta não é uma escolha sensata para todos.

Via The Washington Post