A Lenovo não é uma empresa conhecida pelos servidores, mas seguiu no caminho da IBM quando comprou a companhia americana. Uma das soluções criadas pela marca para manter estes enormes computadores operacionais foi inserir água morna para deixar a temperatura controlada e economizar energia. A solução é chamada de Neptune e passei alguns minutos conhecendo a ideia, que promete reduzir custos até em inteligência artificial.

O que você precisa saber:

Certamente você pensou que água morna tende a ser mais quente que a gelada na hora de resfriar alguma coisa, e está certo. O carro tira todo calor possível do líquido no radiador, o mesmo é feito nos PCs que utilizam um sistema de liquid cooling. Mas, no lado do custo, você gasta mais energia em alguma forma de baixar radicalmente a temperatura, do que deixar a natureza fazer isso sozinha.

Essa é a ideia do Neptune, sistema criado pela Lenovo faz algum tempo e que promete ser uma solução de custo reduzido para lidar com o consumo energético em servidores que podem até fazer a inteligência artificial funcionar.

Ele funciona assim: no lugar de ventoinhas movendo o calor gerado pelo servidor para fora do rack, ou de qualquer outra parte onde ele está, o sistema espalha tubos de cobre em todos os locais onde a temperatura sobe. Eu vi ele presente no meio das placas de vídeo, processadores e memória RAM, mas também em outros chips menores da placa.

Servidor da Lenovo com sistema Neptune (Imagem: André Fogaça/Olhar Digital)
Servidor da Lenovo com sistema Neptune (Imagem: André Fogaça/Olhar Digital)

O Neptune não é nada novo, já está no mercado desde 2012, mas vem conseguindo entregar ainda mais passagens de água por locais que precisam ser resfriados. Principalmente com a tendência do mercado fazer o consumo energético dos servidores quadruplicar até 2030 – isso por conta da demanda enorme gerada pela IA.

Água morna é eficiente, mesmo não parecendo

Um comparativo rápido deste consumo crescente está no ChatGPT, criado pela OpenIA e agora dentro da Microsoft. Para treinar a linguagem dele, ainda em desenvolvimento para errar menos, a empresa precisou de 10 mil placas de vídeo da Nvidia rodando por alguns anos. Tudo isso gera calor e custo energético para reduzir a temperatura – que se continuar subindo, pode fazer o servidor parar.

Servidor da Lenovo com sistema Neptune (Imagem: André Fogaça/Olhar Digital)
Servidor da Lenovo com sistema Neptune (Imagem: André Fogaça/Olhar Digital)

Existem soluções de redução drástica na temperatura e que fazem a água passar por uma espécie de geladeira, antes de entrar para o servidor. O Neptune mantém a água morna, em média de 45 °C e essa escolha permite economia de espaço e dinheiro para o servidor.

Este corte nos custos está na ausência de um sistema separado apenas para refrigerar a água quente que tirou o calor dos servidores, pois o Neptune utiliza a temperatura menor do ambiente para este trabalho, de graça. O espaço dentro do prédio pode ser menor para a mesma capacidade de computação, enquanto a água mais aquecida consegue ser reutilizada dentro do edifício, como em piscinas, torneiras e chuveiros.

Perguntei para a Lenovo se o custo maior para refrigeração líquida afugenta clientes e a empresa disse que não, mas reconheceu que a solução tende a ser mais de 10% mais cara do que apenas inserir ventoinhas. Por outro lado, a eficiência de baixar a temperatura com água está 2,5 vezes superior ao vento gerado pelos coolers. Juntando isso com a redução no custo de espaço e de energia que não é mais gasta no radiador ativo (passivo por aqui), o investimento retorna em cerca de um ano.

Servidor da Lenovo com sistema Neptune (Imagem: André Fogaça/Olhar Digital)
Servidor da Lenovo com sistema Neptune (Imagem: André Fogaça/Olhar Digital)

Quem usa o Neptune da Lenovo hoje?

Essa foi a pergunta crucial do dia, até para ver se este texto teria alguma possibilidade de sair. Enfim, a Lenovo não disse quais são os clientes em 2023, mas mostrou nomes em uma apresentação e que são de 2021. Eles incluem nomes importantes de tecnologia e de educação, como as universidades de Yale, Harvard, Nova York, MIT e o centro tecnológico de Virginia, junto do estúdio de cinema DreamWorks, o sistema nacional de meteorologia do Uruguai e até a BP – concorrente britânica para a Petrobras.

A DreamWorks diz que utilizar um sistema de resfriamento passivo de seus servidores fez o custo energético deles cair em cerca de 30%, sem mudar a capacidade de lidar com os filmes produzidos.

André Fogaça viajou para Raleigh a convite da Lenovo.

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