Os mapas de Marte estão cheios de apelidos que possuem nomes de lugares na Terra, exploradores e até personagens de desenhos animados.
O rover Perseverance da NASA está atualmente investigando afloramentos rochosos ao longo da borda da Cratera Belva de Marte. Cerca de 3,7 mil quilômetros distantes, o rover Curiosity, também da NASA, recentemente perfurou amostra em local chamado “Ubajara”. A cratera tem nome oficial; o local da perfuração é identificado por um apelido, daí as aspas.
Ambos os nomes estão entre os milhares aplicados pelas missões da NASA não apenas a crateras e colinas, mas, também, a cada pedregulho, seixo e superfície rochosa que estudam.
A principal razão pela qual escolhemos todos esses nomes é ajudar a equipe a acompanhar o que estão encontrando a cada dia. Mais tarde, podemos nos referir às muitas colinas e rochas pelo nome enquanto as discutimos e, eventualmente, documentamos nossas descobertas.
Ashwin Vasavada, cientista do projeto da missão Curiosity no Laboratório de Propulsão a Jato da NASA no sul da Califórnia, EUA
A maneira como os cientistas criam os identificadores evoluiu desde os primeiros dias, 25 anos atrás, quando eles usavam nomes de personagens de desenhos animados. Abaixo, um vídeo da NASA, em inglês, ajuda a entender melhor como se dá esse processo:
Nomes oficiais
A diferença entre um nome oficial em Marte e um não oficial é aparentemente simples: os apelidos oficiais foram aprovados por corpo de cientistas conhecido como IAU (União Astronômica Internacional, em tradução livre). A IAU define padrões para nomear recursos planetários e registra os nomes no Gazetteer of Planetary Nomenclature.
Mais de dois mil locais em Marte têm nomes oficiais, mas ainda mais apelidos não oficiais pontilham o mapa marciano.
Apelidos curiosos
As primeiras missões à Marte às vezes seguiam rota caprichosa com apelidos, até mesmo usando nomes de personagens de desenhos animados. “Yogi Rock”, “Casper” (“Gasparzinho”, o fantasminha camarada) e “Scooby-Doo” estavam entre os nomes não oficiais aplicados pela equipe por trás do primeiro rover da NASA, o Sojourner, no final dos anos 1990.
A filosofia mudou com os rovers Spirit e Opportunity, cujas equipes começaram a usar nomes mais intencionais. Por exemplo, a equipe do Opportunity apelidou uma cratera de “Endurance” para homenagear o navio que transportou a malfadada expedição do explorador Ernest Shackleton à Antártica.
Os nomes dos lugares onde o Curiosity e o Perseverance desembarcaram homenageiam os escritores de ficção científica Ray Bradbury e Octavia E. Butler, respectivamente.
A equipe do InSight nomeou uma rocha que havia sido empurrada pelos retrofoguetes da sonda durante o pouso de “Rolling Stones Rock”, em homenagem à banda de rock britânica. Já a equipe do Curiosity nomeou uma colina marciana em homenagem a seu colega Rafael Navarro-González, que morreu de complicações da Covid-19.
Marte, uma extensão da Terra
Apesar de exceções ocasionais, as missões Curiosity e Perseverance mantêm apelidos baseados em locais terrestres. Antes do Curiosity pousar em 2012, a equipe do rover criou mapa geológico da área de pouso.
Eles começaram desenhando uma grade, formando quadrados, ou quadrantes equivalentes a cerca de 1,2 quilômetros de cada lado. Esses quadrantes seriam temáticos em torno de um local de importância geológica na Terra.
Então, como agora, os membros da equipe sugeriram ideias de temas com base em locais onde trabalharam ou com os quais têm ligação pessoal, e discutiram informalmente qual seria o mais interessante de incluir, tendo em conta que vários nomes seriam homenageados em futuros artigos científicos.
Depois que um tema é escolhido, centenas de nomes que se encaixam nesse tema são compilados. Muitos são necessários, porque os nomes disponíveis podem diminuir rapidamente, já que o Curiosity pode ficar em quadrante por vários meses.
Para o último quadrante do Curiosity, a equipe do rover escolheu um tema com o nome de Roraima, o Estado mais ao norte do Brasil, e do Monte Roraima, o pico mais alto das montanhas de Pacaraima, localizado perto da fronteira de Venezuela, Brasil e Guiana.
Isso marcou o primeiro tema do quadrante sul-americano. A região enriquecida com sulfato que o Curiosity está explorando atualmente, com suas colinas de topo plano e encostas íngremes, os lembrou das montanhas “mesas” na serra de Pacaraima.
Para o Perseverance, os cientistas escolheram temas de parques nacionais. O rover agora está explorando o quadrante das Montanhas Rochosas e recentemente perfurou rochas em local com o apelido de “Pico Powell” do Parque Nacional das Montanhas Rochosas.
Com informações de Phys.org
Fonte: Olhar Digital
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