Apesar de os destroços do submersível Titan terem sido encontrados na quinta-feira, 22, e se ter concluído que a causa do acidente foi uma implosão que matou instantaneamente todos os cinco tripulantes que estavam a bordo, ainda existem questões que precisam ser desvendadas. Esta, no entanto, não é uma tarefa fácil, em razão da dificuldade de resgate e pelo fato da embarcação estar em pedaços. Ainda é necessário recuperar os destroços do submarino, que se encontra a 3.800 metros de profundidade em meio ao Oceano Atlântico e em águas internacionais, ou seja, local a qual nenhum país tem jurisdição. A Guarda Costeira dos Estados Unidos, em entrevista coletiva na quinta, informou que ainda não é possível fazer uma cronologia de como tudo teria acontecido, mas que trabalham para decifrar o que gerou o acidente. Após a confirmação de que os pedaços encontrados eram do submersível e que todos estavam mortos, um jornal dos Estados Unidos teve acesso a uma informação que dizia que no domingo um sistema secreto do pais identificou uma anomalia na região em que o Titan foi encontrado, o que indica que o acidente aconteceu no próprio dia do desaparecimento. Especialistas ouvidos pela Jovem Pan explicam a importância em conseguir trazer esses destroços à superfície, para que se possa entender o que aconteceu e corrigir os erros que foram cometidos.
Vale lembrar que o Titan não era uma embarcação regularizada e que atendia aos requisitos para operação. Pelo contrário, era um submersível diferente e que, segundo a OceanGate, empresa do veículo e que oferece turismo para ver os destroços do Titanicpela bagatela de a US$ 250 mil, era o modelo mais leve e econômico que qualquer outra embarcação do tipo, com uma característica única: Monitoramento da Saúde do Casco em Tempo Real (RTM), que fornece um recurso de segurança incomparável que avalia a integridade do casco durante cada mergulho, segundo o site da empresa. “O Titan é o único submersível tripulado a empregar um sistema integrado de monitoramento de saúde em tempo real. Utilizando sensores acústicos localizados e medidores de tensão em todo o limite de pressão, o sistema RTM permite analisar os efeitos da mudança de pressão na embarcação à medida que o submersível mergulha mais fundo e avaliar com precisão a integridade da estrutura”, diz a empresa.
Problemas no casco podem ter sido o principal fator que levou a implosão do submersível, o que fez com que ele não aguentasse a pressão e fosse destruído em pedaços. “Quando você tem um submarino descendo, mergulhando, a pressão em volta dele vai aumentando à medida que ele vai descendo mais fundo. Quando ele está na superfície, a pressão é a pressão atmosférica, mas quando ele passa os 10 metros, já há duas atmosferas. Onde o Titanic está, a pressão é de 300 a 400 atmosferas”, explica o professor da Faculdade de Oceanografia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Marcos Fernández. “O que faz o submarino resistir a isso é o que a gente chama de casco de pressão, e o que mantém sua resistência é a forma dele e os materiais com os quais ele é construído”, acrescenta o especialista, que também fala que normalmente na construção de um submarino é utilizado aço e titânio, mas são poucos aqueles que são feitos com o último material. O Titan era feito de fibra de carbono e titânio.
Paulo Sumida, professor, diretor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP) e mergulhador que já esteve a 4.200 metros de profundida, faz uma analogia para entender a quantidade da pressão que se tem na região em que estava sendo realizada a expedição. Em suas palavras, é como se houvesse “uma locomotiva em cima da unha do seu dedão”. Para além da intensa pressão, ele também pontua a escassez de tecnologia no Titan, pois, para fazer expedições nas profundezas, é preciso ter um veículo que tenha segurança necessária para poder levar pessoas a estas regiões. “Acho muito estranho que o submersível desaparecido não pareça ter essa tecnologia. Ele era uma coisa muito simples. Um veículo simples e sem muitos mecanismos de resgate”, resume. O diretor da USP conta sua experiência com submersíveis utilizados em suas expedições. “Faço pesquisas em áreas muito profundas e muitas vezes tenho a oportunidade de mergulhar nesses submersíveis. Contudo, as instituições de pesquisa geralmente fazem os veículos muito seguros. Por exemplo, mergulhei em um submersível japonês capaz de mergulhar 6.500 metros”, conta, garantindo que esses submersíveis de pesquisa são muito confiáveis.
O que pode ter feito o Titan implorir?
O Titan já tinha feito outras expedições antes da de domingo, 18, e, em todas, havia tido sucesso, apesar de em algumas ter sido relatado a perda de conexão com o barco, o mesmo que aconteceu desta vez. Em razão da quantidade de vezes que o subermesível tinha operado, há um possibilidade de que ele estivesse fadigado, o que pode ter causado algum dano ao seu casco. Desta forma, ao ser submetido mais uma vez a uma intensa pressão, a estrutura não resistiu e implodiu. Jordi Mas-Soler, professor do Departamento de Engenharia Naval e Oceânica na Universidade de São Paulo, conta que existem diversas causas ou possíveis causantes que possam ser responsáveis pela implosão. “Estamos falando de algum tipo de dano quase imperceptível, alguma imperfeição na hora de construir o casco resistente, que acabou comprometendo a integridade estrutural dela depois de muitas missões”, diz o especialista, que enfatiza que existem muitas hipóteses, que vão desde alguma imperfeição ou dano.
“São muitas as possibilidades para epxlicar o que aconteceu: poderia ter sido uma colisão ou, no momento de preparar o submersível para descer na profundidade, alguma questão diferente”, resume. Jordi pontua que a aposta da empresa de fazer um submersível mais leve e econômico pode ser o principal problema, uma vez que, diferente do que eles pregavam, há diversos indícios que apontam que o acidente foi causado, entre outras coisas, por escassez de recursos. Para Marcos Fernández, a fadiga é a causa mais provável do acidente. “Era um material novo, que não está bem testado. O casco dele foi o primeiro submarino feito com fibra de carbono”, explica. Ele também comenta que existe um documentário que mostra como é realizada a construção do casco, feito de titânio e fibra de carbono. “Os dois componentes têm coeficiente de dilatação diferente. Então, isso também poderia ajudar a criar uma folga entre um componente e outro. Aí, basta uma pequena fissura ou rachadura para a estrutura ceder. Então, provavelmente, foi uma questão de fadiga que não foi devidamente percebida”, acrescenta.
Restos mortais e os destroços serão recuperados?
Essa ainda é uma pergunta que não foi respondida. Os especialistas dizem, porém, que o resgate dos restos mortais é complexa. “Deve haver fragmentos da estrutura do submersível em uma região profunda. Então, dificilmente vão conseguir recuperar toda a estrutura do submersível. Talvez eles recuperem em alguma parte”, diz Jordi. Fernández endossa o raciocínio e afirma que os corpos “provavelmente ficaram muito deformados com uma uma implosão desse tipo”. “Dificilmente você vai resgatar o corpo de alguém. Você pode tentar resgatar partes. Isso se espalhou na coluna d’água, mas não sei se esse exercício seria um bom até para as famílias”, pondera. Ele pontua que, além de gastar muito tempo, será necessário recolher os pedaços e fazer teste de DNA para saber para descobrir quem é. ” Não sei se vale a pena gastar tanto dinheiro e tanto sofrimento para resgatar isso. É importante resgatar peças do submersível para poder entender o que aconteceu. E isso é mais fácil que fazer, mas o corpo humano, nessas pressões e sofrendo o processo todo da implosão, os tripulantes devem estar estraçalhados”, lamenta. Além desse problema, Sumida também fala que, com o passar do tempo, os corpos serãp rapidamente consumidos pelos organismos marinhos de profundidade.
Como acontece a implosão?
Uma implosão é o oposto de uma explosão, ou seja, é um processo em que um objeto, estrutura ou edifício é colapsado em direção ao seu centro. Ainda não se sabe o motivo que levou a implosão e o momento em que tudo aconteceu, porém, é sabido que trata-se de um evento bem rápido. Paulo Sumida,explica que a implosão é o “resultado da falha estrutural do casco do submersível, fazendo com que a pressão externa exercida pela coluna de água de quase quatro quilômetros esmague e comprima o ar que está dentro da cápsula. Provavelmente aconteceu tão rápido que os tripulantes nem tiveram tempo de pensar”. Mas-Soler, por outro lado, pontua que a implosão pode ocorrer a qualquer momento, desde que a pressão atinja o ponto de ruptura do casco. Os especialistas concordam que a implosão do Titan deve ter ocorrido na mesma hora em que perderam contato com a superfície, ou seja, um pouco antes de chegar ao fundo, o que explicaria os três pedaçoes do caso espalhados no fundo do mar. Aileen Maria Marty, ex-oficial da Marinha e professora de medicina de catástrofes da Universidade da Flórida, disse em entrevista à emissora americana CNN que os cinco ocupantes do submarino do Titanic sequer sentiram que estavam morrendo, porque o cérebro humano não é capaz de entender a situação tão rapidamente. “A coisa toda teria colapsado antes que as pessoas lá dentro percebessem que havia um problema. Os ocupantes do Titan morreram sem saberem que iriam morrer. Em última análise, entre as muitas maneiras das quais podemos morrer, essa foi indolor”, disse Marty.
Marcos Fernández, citando uma fala do cineasta de Titanic, James Cameron, que visitou 33 vezes os destroços, disse que mesmo após mais de 100 anos do naufrágio, o acidente ainda continua deixando mortos, além dos mais de 1.500 que morreram em 14 de abril de 1912. “Você nunca teve um acidente com esse submarino de grande profundidade, nunca teve um acidente desse tipo e um colapso de casco, e, agora, você está tendo um acidente no mesmo lugar onde o Titanic teve o acidente dele. É no mesmo lugar. É como se o navio tivesse clamado mais cinco vidas. Isso é muito triste, na verdade, mas vai ser um passo para frente. Foi uma contribuição do cara tentar fazer essa experiência desse navio, que era um barco experimental. Já vimos que deu problema, agora vamos tentar entender por que houve problema para não acontecer mais com outras pessoas daqui para frente”, disse. Por causa do contrato que foi assinado pelos tripulantes antes de embarcar no Titan, a empresa não deve ser responsabilizada pelo acidente. Nos termos, estava escrito que a expedição poderia acabar em morte.
Fonte: Jovem Pan News
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