Domingo, Novembro 24, 2024
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Aposta alta do Vasco, Ceni tem desafios e traumas a superar para alterar cenário

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Transformação. Talvez seja essa a grande palavra para definir o iminente casamento entre Rogério Ceni e Vasco da Gama. Tanto para um, quanto para outro, a união pode significar uma mudança de padrão, uma página virada para iniciar um novo momento no futebol. De duas histórias, diga-se, de muitas vitórias e conquistas. 

É inegável que o Vasco é um dos clubes mais tradicionais do futebol brasileiro. Primeiro campeão sul-americano de clubes, sepultando La Máquina do River Plate, de Di Stéfano, Labruna e companhia; campeão da Libertadores; da Mercosul na virada do século; Brasileiro quatro vezes; time do maior artilheiro do Brasileirão, Roberto Dinamite; de Romário à Barbosa, passando por Ademir e Juninho. Tradição essa que, nos últimos anos, foi manchada por rebaixamentos a perder de conta, administrações nocivas e carência de ídolos. Mesmo de jogadores à altura da grandeza do clube. 

Ceni, por sua vez, foi dos jogadores mais vitoriosos do futebol brasileiro. Tem mais Libertadores que o Vasco. Tem o Mundial que o Gigante da Colina viu bater na trave e só. Campeão com a seleção, fora os feitos de goleiro-artilheiro que são imbatíveis no âmbito mundial. Uma lenda que se tornou técnico, ganhou idolatria no Fortaleza e títulos importantes no Flamengo, mas que, também, vem de um momento difícil, com um trabalho muito contestado em seu clube do coração, o São Paulo, um treinador obcecado para o bem, e para o mal. 

A história de ambos, agora, se une. O Vasco tenta convencer Ceni com um dos maiores salários do futebol brasileiro, deixando de lado o frenesi por treinadores estrangeiros e apostando alto em um nome do mercado nacional, que também tem traumas a superar na Colina. Que terá muitos desafios e pontos a melhorar para voltar a fazer o que tanto sabe, assim como a torcida vascaína: celebrar títulos. 

Ir à São Januário e ouvir que “se não ganhar, a coisa vai ficar feia” (o maior eufemismo para abordar o tema), virou rotina na vida do torcedor vascaíno. Ir em São Januário, por si só, já é traumático o suficiente para um torcedor cansado de fracassos. A queda em 2008 foi apenas a ponta do iceberg. Uma sequência de fracassos fez o tradicional Vasco ter, desde o início do século para cá, apenas um breve momento de protagonismo no cenário nacional, com Ricardo Gomes e no time de Dedé, Diego Souza, Alecsandro e companhia. Um time campeão da Copa do Brasil, vice-campeão brasileiro e eliminado pelo Corinthians, que agradece até hoje a Diego Souza, na Libertadores. 

Por mais que tente, é inevitável o torcedor vascaíno não se acostumar ao fracasso (a chamada banalização do fracasso). E imaginar um quadro diferente se tornou quase impossível. O movimento para a alteração estatutária que levou o time a se tornar SAF, no movimento natural do futebol brasileiro, fez o vascaíno sorrir brevemente. Os resultados ruins e a zona de rebaixamento no Brasileirão, porém, trouxeram os traumas das últimas campanhas à tona. Nada parece ter mudado. 

Lutar contra o rebaixamento, por sinal, não é novidade, também, para Ceni. Em 2019, o técnico assumiu o Cruzeiro na luta contra a degola. Foram apenas duas vitórias em oito jogos, uma saída conturbada e um rebaixamento que acabou por não ser evitado ao final da campanha celeste. O rebaixamento é um trauma difícil de ser superado. Mas lutar contra ele fará parte da rotina de Ceni e Vasco, caminhando, dessa vez, lado a lado. 

Além de toda a questão traumática e de superação, o casamento entre Vasco e Rogério Ceni, para dar certo, terá um lado desafiador muito grande tanto para clube (SAF), quanto para o técnico. Para escrever uma nova história, será necessário buscar novas saídas, ter atitudes diferentes e tomar decisões mais acertadas. 

Independente de Ceni, o Vasco terá de usar a próxima janela de transferências para ser certeiro. Erros, como nos últimos mercados, não serão perdoado. Ter um elenco desequilibrado, com posições carentes, só irá perpetuar os resultados ruins. Ao contrário das últimas quedas, entretanto, o Vasco pode contar com base um pouco mais sólida. 

Desde o início da temporada, o torcedor vascaíno teve a impressão que houve grande evolução na linha defensiva da equipe (apesar das carências no sistema defensivo, como um todo). Nas primeiras quedas, o Cruz-Maltino sofreu com incertezas no gol. Jardim, dessa vez, deu segurança. Léo é líder e referência técnica na saída de bola. Piton, apesar de ter oscilado, ainda é a melhor opção do clube na lateral esquerda nos últimos anos. Pumita, se bem auxiliado na defesa e com mais confiança, pode ajudar do outro lado. Faltaria, aí, um zagueiro destro capaz de passar a confiança que nem Bambu, e nem Capasso, conseguiram até o momento. E com mais experiência que o promissor Miranda. Além de opções em caso de problema com os titulares. 

No meio, ficou clara a dificuldade de Jair atuar como primeiro volante. Por características do mesmo. Barbieri insistiu, e perdeu pontos por isso. O meio ficou desprotegido. Um jogador para atuar como primeiro volante (que não é, também, a dos promissores Marlon e Galarza) e um camisa 10 devem ser as grandes prioridades no próximo mercado. Devem ser o ponto de grande investimento do clube na janela, já que são, até o momento, o Calcanhar de Aquiles do time, que é frágil na defesa e que cria pouco na frente. Terceiro pior ataque e terceira pior defesa. 

A atuação da diretoria vascaína no mercado não deve, porém, resolver os problemas por si só. Ceni terá um papel protagonista nessa retomada do clube no restante da temporada. Para isso, precisa, também, melhorar alguns pontos fulcrais que minaram alguns de seus trabalhos anteriores.

Em setembro de 2019, Ceni deixou o Cruzeiro pela estremecida relação que tinha com algumas das lideranças do time. A saída do Flamengo, anos depois, foi por desgastes internos com alguns profissionais do clube, e a relação com atletas também era colocada em dúvida. 

Recentemente, no São Paulo, o treinador chegou a discutir com o atacante Marcos Paulo em um treinamento, e alguns atletas reclamaram com a diretoria da postura do técnico. O desgaste, unido a resultados ruins, acabaram com Ceni demitido semanas depois. Sem ele, e com Dorival Júnior, o São Paulo conseguiu retomar a confiança na temporada e vem em uma fase mais positiva. 

Como Carlo Ancelotti já dizia, a “liderança não se trata apenas de tomar decisões, mas também de ouvir, compreender e valorizar as contribuições de cada membro da equipe”. Como gerir pessoas em momentos de crise será o grande desafio de Ceni em São Januário nas próximas semanas. Ambos, clube e técnico, terão a oportunidade de superar traumas, mostrar evolução e reconstruir a trajetória para conquistar títulos no cenário nacional. 

Fonte: Ogol

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