Domingo, Novembro 24, 2024
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‘Brasil não tem peso para influir na guerra entre Rússia e Ucrânia’, diz Rubens Barbosa

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou ao poder focado na política internacional e tendo com um de seus principais objetivos recolocar o Brasil no mundo. Desde janeiro, quando tomou posse, realizou várias viagens internacionais e se encontrou com mais de 30 líderes mundiais. Como mostrou a reportagem da Jovem Pan, ele foi o presidente que mais viajou desde a redemocratização do Brasil. Levantamento realizado de janeiro a maio mostrou que Lula estava fora do território brasileiro em 20 de 150 dias de governo – a soma não conta a viagem recente para o Japão, Itália e França. Até quase a metade do ano, Lula havia tido mais encontros com líderes internacionais do que com representantes do Congresso. O petista, que ao derrotar Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de 2022 recebeu o título de ‘salvador da democracia’ pela imprensa internacional, foi recentemente classificado por um jornal francês como ‘falso amigo do Ocidente’. Durante o início do seu terceiro mandato, algumas pautas foram presentes, como: Guerra na Ucrânia, o acordo entre União Europeia e Mercosul, moeda comum com a Argentina, ‘apoio’ a ditaduras e aproximação com Rússia e China. Em entrevista ao site da Jovem Pan, o ex-embaixador do Brasil em Washington Rubens Barbosa afirma que Lula começou bem e acertou nas três prioridades – retorno ao cenário internacional, colocar América do Sul em destaque e apostar no meio ambiente e mudanças climáticas -, mas avalia que falta uma visão estratégica. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

Como avalia os seis primeiros meses do governo Lula?

“Lula começou bem, as três prioridades que ele colocou estão corretas: volta ao cenário internacional, América do Sul como prioridade e meio ambiente e mudança do clima, tudo isso está perfeito e ele tomou medidas para isso, mas isso está sem uma visão estratégica de médio e de longo prazo do governo no planejamento e na implementação dessas políticas. Na questão de voltar a colocar o Brasil no mundo, ele escolheu a questão da guerra, e o Brasil não tem peso para influir sobre a Rússia e Ucrânia. Para eles fazerem a paz, eles que vão decidir quando vão suspender o conflito.”

Em entrevista à Jovem Pan em janeiro, Barbosa já havia declarado que não apostava na sugestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para criar um grupo da paz. Na ocasião, ele disse se tratar de um “gesto do petista de querer ter uma influência e participação, além de ser uma forma de se inserir no contexto internacional”. Porém, não acreditava que esse grupo realmente fosse ser criado – como não aconteceu até agora – e que pudesse existir alguma consequência disso, porque “os EUA não querem, a Rússia e Ucrânia não vão querer e a China vai apresentar uma proposta de paz independente desse grupo”. Os chineses apresentaram uma proposta que também não avançou até o momento.

O que o senhor pensa do acordo entre Mercosul e União Europeia? Acredita que será implantado até o final do ano? 

“Esse é um dos pontos principais. A novidade é o encontro com o Emmanuel Macron, presidente da França. A novidade, em termos de retórica, é que ele diz para o Macron que o documento adicional da UE, o protocolo, é uma ameça a países que são parceiros estratégicos. E não se pode ameaçar parceiros. Mas há a questão da preocupação com as medidas restritivas europeias sobre os produtos brasileiros por causa do meio ambiente. Acho que essa coisa retórica vai ser superada e acho que até o final do ano eles vão conseguir superar isso assinando.”

Durante encontro com o presidente Lula, em Brasília, a chefe da Comissão Europeia, Úrsula von Der Leyen, afirmou o interesse em firmar o acordo Mercosul-UE até o final do ano. “Estamos perto da linha de chegada. Acho que chegou o momento de cruzar essa linha. Eu e o presidente Lula nos comprometemos em concluir o acordo o quanto antes. No mais tardar, no final do ano”, projetou a representante europeia, acrescentando que a parceria “é mais que um acordo, é uma plataforma para diálogo e engajamento de longo prazo”. O acordo está em discussão desde 1999.

Há uma discussão sobre o Brasil fazer parte do Ocidente ou do Sul Global. Como o mundo enxerga a América Latina, em especial o Brasil? 

“A América Latina é importante para o Brasil, mas para o mundo não é importante. Rússia e China estão de olho aqui, mas, geopoliticamente, não é importante, está na periferia. Agora, para o Brasil, é importante porque ele deve ser o líder, ele tem que ser líder da região. Quanto à questão do mundo ocidental, acho que os Estados Unidos estão abrindo duas frentes complicadas com a Rússia e com a China. Com exceção de cerca de 40, 50 países que estão seguido os EUA e apoiando a sua posição, os outros 150 não estão. O Brasil está entre os que não estão querendo tomar partido nem de um lado e nem de outro, está em uma posição de não alinhamento ativo. Não é que ele seja omisso, não é que não toma partido de nem um e nem outro. É que não interessa a nós, que somos ocidentais. O Brasil é um país ocidental, mas hoje os interesses do Brasil são muito grandes na Ásia e os outros 150 países estão com essa mesma posição. Desses, tem a China como principal parceiro, então ninguém quer brigar com a China por causa dos EUA. Cada um está defendendo seu interesse. E o Brasil está defendendo seus interesses ao ficar em uma posição. Não é neutralidade, é uma não interferência ativa, porque o Lula está querendo fazer a paz, continuamos a não colocar sanções com a Rússia, temos uma posição clara e correta sobre essa questão geopolítica da divisão do mundo como os americanos estão querendo fazer.

Fonte: Jovem Pan News

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