Sexta-feira, Novembro 22, 2024
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Como estão os planos de Putin para reconstruir a ‘Grande Rússia’?

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Desde que chegou ao poder em 1999, Vladimir Putin tem um desejo: reconstruir a Grande Rússia. Ele tem acumulado alguns ganhos que precisam ser destacados mas, de um tempo para cá, mais precisamente após a invasão à Ucrânia, o caminho parece ter mudado de rumo e se encaminhado mais ao acúmulo de tropeços do que de conquistas. No final de junho, o líder russo se deparou com a maior crise em 24 anos: a rebelião do Grupo Wagner contra Moscou. Os paramilitares eram o braço armado do Kremlin no exterior e se rebelaram contra o Ministério da Defesa. O motim de repercussão internacional mostra erros estratégicos e dá indícios de perda de poder do presidente, principalmente após a não punição de Yevgeny Prigozhin e de suas declarações sobre a guerra. O líder dos combatentes mercenários já chegou a afirmar que o exército ucraniano é um dos mais poderosos do mundo. A guerra no Leste Europeu completa 500 dias no começo de julho e, no momento, a Rússia só se defende enquanto a Ucrânia conduz uma contraofensiva.

“Ele acumulou igualmente ganhos e tropeços. Primeiro que houve uma melhora na qualidade de vida dos russos, entre 2000 e 2008, bastante significativa. Por conta, justamente, também do aumento do preço das commodities no mercado internacional”, fala Valdir da Silva Bezerra, mestre em relações internacionais pela Universidade Estatal de São Petersburgo. Mas ele também destaca que Putin acumulou problemas. “Houve um aumento no número de bilionários na Rússia, significativo. A gente percebeu bem pouco desenvolvimento em algumas partes do país comparadas a outras. Ou seja, uma grande parte da Rússia não obteve os frutos desse desenvolvimento econômico.” O especialista destaca um crescimento interessante na primeira década de 2000, mas depois o país passou a ser sancionado economicamente pelo ocidente e e precisou fazer uma virada para a Ásia, o que diminiu o número de parceiros internacionais. O problema de todo esse ciclo, ressalta Bezerra, é que aconteceu sob o comando do mesmo governante.

O mestre em relações internacionais mora na Rússia desde 2017 e acabou de lançar o livro ‘Um Elo com o Passado: A Rússia de Putin e o Espaço Pós-Soviético‘. O trabalho de seis anos de pesquisa mostra quais características a Rússia de Putin acabou retomando dos passados imperial e soviético, que fizeram parte do remodelamento do país nos planos doméstico e internacional. No material, Bezerra pontua que o país é reflexo dessas duas épocas, mas também destaca outros momentos importantes como o rompimento com o Ocidente, o controle sobre a questão democrática no país, a questão energética na Europa e intervenções russas nos países vizinhos e no Oriente Médio.

Vitelio Brustolin, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador de Harvard, ressalta que, até 2014, quando aconteceu a anexação da Crimeia, Putin vinha conseguindo travar uma estratégia vantajosa. “Ele conseguiu territórios na Geórgia, conseguiu que a Ucrânia não ingressasse e não fizesse um acordo comercial com a União Europeia, conseguiu manter as tropas russas na Transnistria e fortaleceu os laços com Belarus.”. O professor destaca que Aleksandr Lukashenko, presidente de Belarus, hoje é considerado um fantoche da Rússia e há planos abertos para que seu país seja tomado pelos russos até 2030. “É declarado o anseio do Putin em conseguir territórios, em expansões territoriais. O Putin afirma isso. Ele se compara a Pedro, o Grande.” Contudo, apesar da vantagem com a anexação da Crimeia, a guerra na Ucrânia vem sendo considerada um erro estratégico.

A Rússia tem 17% do território da Ucrânia. A estratégia de ocupar esses 17% não entrega a Putin os objetivos políticos declarados para essa guerra. “Os objetivos políticos do Putin com essa guerra eram, segundo ele mesmo, afastar a Ucrânia da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e da União Europeia, além de desmilitarizar o país”, explica Brustolin. Neste momento, todos os objetivos políticos saíram pela culatra, porque a União Europeia votou pelo ingresso rápido da Ucrânia. “A Ucrânia não pode ingressar, como não poderia ingressar no ano passado porque está em guerra, mas existe uma possibilidade aventada pelo presidente da França, Emmanuel Macron, de que o país receba ajudas anuais da Otan, como os Estados Unidos fazem com Israel, por exemplo.” O professor confirma o que foi dito pelo líder paramilitar que se rebelou contra Moscou: hoje, os ucranianos são militarmente muito mais poderosos do que eram em fevereiro de 2022, o que escancara que todas as intenções políticas de Putin deram errado.

guerra na Ucrânia

Para avançar, diz o pesquisador, o líder russo deveria ter continuado com a estratégia que usou em 2014 ao criar o Grupo Wagner, para incitar uma guerra civil na região e não enviar diretamente suas tropas – porque os paramilitares não são oficialmente um grupo do exército. Brustolin pontua que é contra a lei sobre forças paramilitares no país. “O que o Putin queria, e a gente percebe isso tanto pelas declarações dele quanto pelas disposições das tropas russas no terreno em fevereiro de 2022, era a soberania da Ucrânia. Ele queria tomar a capital e derrubar o Volodymyr Zelensky“, fala o especialista, destacando que, “se Putin conseguir manter assentamentos nas quatro regiões que ocupa, especialmente no Donbass, ele tem uma vitória limitada, mas uma derrota política na guerra se a Ucrânia ingressar na Otan e na União Europeia”. “Como a guerra é um evento político, uma derrota política é uma derrota na guerra.”

Putin nomeado premiê

Em agosto de 1999, Boris Yeltsin, primeiro presidente da Rússia após o fim da União Soviética, nomeou como premiê o então praticamente desconhecido Vladimir Putin. O ex-chefe do FSB (ex-KGB) assumiu rapidamente uma imagem de homem forte em um país traumatizado por uma série de atentados atribuídos a separatistas chechenos, que deixaram quase 300 mortos. Enfraquecido por problemas de saúde e pelo consumo de álcool, Yeltsin renunciou em 31 de dezembro e Putin o sucedeu nas eleições presidenciais de março de 2000.

Guerra da Chechênia

De 2000 a 2009, o conflito contra os rebeldes chechenos e islamitas, marcado pelas atrocidades e bombardeios de Grozny, deixou dezenas de milhares de vítimas. Vários sequestros de autoria reivindicada pela rebelião terminaram em operações letais das forças russas, como no Teatro de Moscou (850 reféns e 130 mortos) e em uma escola de Beslan, na Ossétia do Norte (mais de 1.000 reféns e 330 mortos, dos quais 186 crianças).

Putin se torna influente 

Em seus dois primeiros mandatos, Putin aumentou sua influência no Parlamento, colocou os governadores regionais sob o controle de Moscou, reforçou o FSB e dominou os veículos de comunicação e os oligarcas. Mikhail Khodorkovsky, dono do grupo petroleiro Yukos, resistiu e foi preso. Em 2006, a morte da jornalista crítica do poder Anna Politkovskaya e o envenenamento do ex-espião russo Alexander Litvinenko provocaram uma onda de indignação mundial.

Impedido de governar e Guerra na Geórgia 

A Constituição russa proíbe um terceiro mandato consecutivo e Putin designa como sucessor seu subordinado Dmitri Medvedev, eleito em 2 de março de 2008 sem rivais reais. Putin se torna primeiro-ministro e mantém sua influência. Em agosto de 2008, o Exército russo intervém na Geórgia, ex-república soviética candidata à Otan, depois que o governo tentou retomar o controle de um território separatista pró-Rússia. Moscou esmaga o Exército georgiano.

Putin presidente e plano da ‘Grande Rússia’

No fim de 2011, uma onda de protestos explode após acusações da oposição de fraude nas eleições legislativas. Dezenas de milhares de pessoas se manifestam semanalmente em Moscou. Reeleito presidente em março de 2012, Putin reprime brutalmente as passeatas. Ele quer reconstituir a “Grande Rússia” anexando, em 2014, a península ucraniana da Crimeia, com o pretexto de combater uma revolução em Kiev impulsionada, segundo ele, pelas potências ocidentais. A operação desencadeia uma guerra no leste da Ucrânia com os separatistas pró-Rússia.

Apoio à Síria e repressão à oposição 

A partir de 2015, o Exército russo passa a apoiar o presidente sírio, Bashar al-Assad, cujas tropas enfrentam forças rebeldes e jihadistas. A intervenção salva o regime e a Rússia ganha peso no Oriente Médio, principalmente depois de bombardear em massa cidades como Aleppo. Desde 2020, o Kremlin empreende uma política de repressão sistemática. Sua principal vítima é Alexei Navalny. Após sobreviver a um envenenamento que atribui ao Kremlin, o inimigo jurado de Putin cumpre uma pena de nove anos e pode ser condenado a três décadas de prisão em um julgamento em curso atualmente. ONGs, redes sociais, sites e veículos de comunicação críticos ao governo são bloqueados na Rússia.

Invasão à Ucrânia e rebelião dos paramilitares

Em 24 de fevereiro de 2022, Putin envia seu Exército à Ucrânia, argumentando que deseja salvar a minoria russa naquele país e “desnazificar” a ex-república soviética, que vê como muito próxima da Otan. Em discurso transmitido pela TV em 24 de junho de 2023, Putin denuncia “uma ameaça mortal” e um risco “de guerra civil”, diante de uma rebelião liderada pelo líder da milícia Wagner, Yevgeny Prigozhin, contra o comando militar russo. Os combatentes do grupo Wagner iniciam uma marcha para Moscou mas, à noite, Prigozhin anuncia o seu recuo, para evitar um “derramamento de sangue russo”.

*Com informações da AFP

Fonte: Jovem Pan News

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