A Grande Barreira de Corais, na Austrália, é o recife mais conhecido do mundo. No entanto, existem muitos outros que não são compostos majoritariamente de corais. É o caso do Recife Amazônico.
Para quem tem pressa:
O Recife Amazônico fica na foz do rio Amazonas, no Oceano Atlântico. Ele é classificado como mesofótico: “meso” significa meio e “fótico”, luz.
Raio-x do Recife Amazônico
Classificar o Recife Amazônico como mesofótico quer dizer que os organismos presentes não são muito dependentes da luminosidade, até por estarem entre 30 e 150 metros de profundidade.
A gente tem, nos recifes mesofóticos, uma participação maior de outros organismos como as algas calcárias, corais negros, octocorais ou gorgônias.
Ronaldo Francini Filho, professor do Centro de Biologia Marinha da USP
O especialista acrescentou que o visto no Amazonas é semelhante aos vizinhos na margem equatorial brasileira, em Abrolhos e no Caribe.
A proximidade do local com o Caribe não é apenas física. Isso porque a fauna e a flora dos recifes também estão relacionadas.
Segundo o professor, existem espécies que você só encontra na porção norte do rio Amazonas e outras que ficam só na porção sul. “Isso ocorre principalmente por conta da barreira do rio Amazonas”, explicou.
O nome disso é barreira biogeográfica. Mas, para Francini, é melhor chamá-la de filtro, por ser uma barreira intermitente, dependendo do nível do mar.
Quando o nível do mar está bem alto, uma lâmina de água salgada corre por baixo da pluma de água doce. É ela que permite a sobrevivência desses organismos que formam os recifes e esse corredor de conexão entre o Brasil e o Caribe, segundo o professor.
Uma pluma, na hidrodinâmica, é uma coluna de fluido – nesse caso, de água – que se move dentro ou ao redor de outro.
O Recife Amazônico também está integrado aos ecossistemas regionais brasileiros.
De acordo com o professor, existem evidências de que os nutrientes dos rios estão sendo incorporados ao longo da cadeia trófica num peixe que está no recife.
Temos uma interconexão, uma interdependência entre esses biomas. Existem evidências dos nutrientes que saem da floresta que estão abastecendo as esponjas marinhas. A gente tem essas migrações biológicas ao longo do desenvolvimento dos organismos, também tem essa questão da conectividade de nutrientes via o fluxo do rio.
Ronaldo Francini Filho, professor do Centro de Biologia Marinha da USP
Para o especialista, esta é uma clara interdependência entre esses ambientes. Ainda segundo Francini, isso ressalta a necessidade de manejo e desenvolvimento de estratégias de conservação de forma integrada.
Atualmente, apenas cerca de 5% do recife é conhecido. Para o professor, esse número pode ser ainda menor. No entanto, isso não desestimula as pesquisas e estudos que estão sendo feitos atualmente.
A gente precisa de muito mais ainda para conseguir ter o mínimo de noção sobre a diversidade, sobre o funcionamento do Recife Amazônico. Então, isso que, por um lado é ruim, porque a gente precisa da informação para conseguir avaliar potenciais impactos e planejar a criação de áreas protegidas, ao mesmo tempo é, para um pesquisador, para um cientista, estimulante, porque a gente tem a perspectiva de grandes descobertas.
Ronaldo Francini Filho, professor do Centro de Biologia Marinha da USP
O que é um recife?
Existem duas definições do que é um recife – uma mais abrangente e outra mais restrita, conforme explicou Ronaldo Francini Filho, professor do Centro de Biologia Marinha da USP.
A mais abrangente, segundo ele, seria qualquer coisa estruturada num substrato duro, consolidado, que fica abaixo do nível do mar. Neste caso, até uma rocha poderia ser um recife – inclusive, em naufrágios de navios, por exemplo, surgem recifes artificiais.
Já a definição mais restrita, de acordo com o professor, considera recifes estruturas consolidadas e rígidas, mas construídas a partir de organismos vivos – ou seja, eles seriam de origem biogênica.
Com informações do Jornal da USP
Fonte: Olhar Digital
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