O Dia Internacional do Asteroide é celebrado anualmente no dia 30 de junho e é reconhecido pela ONU como um dia de conscientização da população sobre os riscos que o impacto de um asteroide podem representar para a humanidade. Também serve de inspiração para que possamos aprender mais sobre essas rochas espaciais, o que pode nos ajudar a conhecer mais sobre o passado do Sistema Solar, dos planetas, da origem da vida na Terra e também proteger o futuro da humanidade.

Há várias décadas, estudamos os asteroides através de nossos telescópios utilizando diversas técnicas para descobri-los e para medir suas características físicas e químicas. Mas foi a partir dos anos 2000, que passamos a utilizar toda nossa tecnologia espacial para enviar missões e visitar esses pequenos corpos do Sistema Solar. 

NEAR Shoemaker visita Eros e abre era da exploração dos asteroides

[ Concepção artística da sonda NEAR Shoemaker em órbita do asteroide Eros – Imagem: NSSDC/NASA ]

O primeiro asteroide a ser visitado por uma sonda espacial foi o asteroide Eros. Em fevereiro do ano 2000, a sonda NEAR Shoemaker, da NASA, entrou em órbita de Eros, onde permaneceu por um ano. Durante esse tempo, a sonda fez um completo mapeamento da sua superfície, além de coletar dados das propriedades físicas e químicas do asteroide. 

Apesar de ser um Asteroide Próximo à Terra e de ser tão grande quanto a Baía da Guanabara, Eros não tem nenhum risco de atingir nosso planeta nos próximos milhões de anos. Mas além de nos ajudar a aprender mais sobre essa gigantesca rocha espacial, a missão NEAR Shoemaker abriu a era da exploração dos pequenos corpos do Sistema Solar. 

DART altera a órbita de Dimorphos

[ Ilustração da Sonda DART antes do impacto com Dimorphos, a Lua de Didymos – Créditos: NASA/Johns Hopkins APL/Steve Gribben ]

E 2023 é um ano repleto de conquistas e expectativas das missões espaciais para asteroides. Já em março, cientistas da NASA divulgaram os resultados do teste de redirecionamento de asteroide realizado pela missão DART no ano passado. 

A sonda DART atingiu o asteroide Dimorphos, o menor do sistema binário de Didymos. Era esperado que o impacto alterasse a órbita de Dimorphos, reduzindo em 30 segundos o tempo que ele levava para completar uma volta em torno de Didymos. Mas depois de meses de observações a partir de observatórios baseados na Terra, os cientistas concluíram que o impacto da DART reduziu o período orbital de Dimorphos em mais de 32 minutos. 

Pela primeira vez, a humanidade mudou a trajetória de um corpo celeste. A Missão DART também mostrou que nós temos uma opção para defender nosso planeta do impacto de um asteroide e garantir o futuro da espécie humana. 

OSIRIS-Rex traz amostras de Bennu para a Terra

[ Ilustração artística da descida da OSIRIS-Rex para coletar amostras do asteroide Bennu – Créditos: NASA/Goddard/University of Arizona ]

Mas as nossas missões espaciais para asteroides também tentam enxergar melhor nosso passado. Em setembro deste ano, devem chegar à Terra as amostras do asteroide Bennu coletadas pela sonda OSIRIS-Rex. Entre dezembro de 2018 e maio de 2021, a sonda da NASA permaneceu em órbita de Bennu, de onde mapeou a superfície do asteroide e realizou pesquisas espectroscópicas que detectaram a presença de minerais hidratados nas rochas. 

Bennu é uma espécie de pilha de entulhos, composta por diversos fragmentos de rochas carbonáceas, que são uma espécie de “argila primordial” formada a partir da nuvem molecular que deu origem ao Sistema Solar. Em sua composição, podem ser encontrados, além de água, compostos orgânicos que são blocos fundamentais da vida como a conhecemos. Então, as amostras trazidas pela missão OSIRIS-Rex, podem nos ajudar a compreender o surgimento da vida aqui na Terra. E mais do que isso: uma extensão dessa missão pode também garantir a continuidade da vida em nosso planeta.

É que depois de entregar essa importante encomenda espacial, a sonda OSIRIS-Rex vai seguir seu caminho pelo Sistema Solar e deve encontrar, em 2029 o perigoso asteroide Apophis, que aterrorizou a humanidade no início deste século. 

Apophis, o novo destino da OSIRIS-Rex

[ Sonda OSIRIS-Rex se aproximando do asteroide Apophis – Imagem: Reprodução Youtube ]

O Apophis causou alvoroço na comunidade científica assim que foi descoberto por conta do risco de impacto com a Terra em 2029, 2036 e 2068. Somente após as aproximações em 2013 e 2021, os astrônomos reuniram informações suficientes para refinar a sua órbita e afastar todas as chances de impacto nos próximos 200 anos. Felizmente, porque as consequências de um impacto seriam devastadoras já que o asteroide tem cerca de 450 metros e poderia arrasar países inteiros caso atingisse a Terra. 

Mesmo afastadas as chances de impacto, é preciso monitorar e estudar mais essa rocha espacial para evitar surpresas desagradáveis no futuro. Por isso, a sonda OSIRIS-Rex deve receber uma nova missão, nomeada de OSIRIS-Apex. A sonda deve alcançar o asteroide em 2029, logo após a passagem próxima do Apophis pela Terra, a partir de então deve iniciar uma campanha de 18 meses de estudos em órbita do asteroide. 

Lucy e os fósseis do Sistema Solar

Missões espaciais para asteroides também podem nos ajudar a compreender a história do Sistema Solar. É o caso da Missão Lucy, que ao longo de 12 anos vai estudar 6 asteroides troianos de Júpiter, que compartilham a mesma órbita do Gigante Gasoso, nos chamados Pontos de Lagrange L4 e L5.

Por estarem confinados em uma órbita estável além da linha de gelo, esses asteroides podem ser como fósseis da formação planetária do Sistema Solar. E por seu caráter arqueológico, a missão recebeu o nome de Lucy, o mais antigo fóssil de hominídeo encontrado na Etiópia. O fóssil, por sua vez, foi nomeado em referência à música “Lucy In The Sky With Diamonds”, dos Beatles.

Em novembro deste ano a Lucy irá sobrevoar o asteroide Dinknesh, ainda no Cinturão Principal. Ela só deve atingir os pontos de Lagrange de Júpiter, onde estão os alvos principais da missão, em 2027. Mas antes a sonda ainda deve sobrevoar outros dois asteroides no Cinturão principal, totalizando 9 objetos visitados em uma missão de US$ 981 milhões. Um custo pequeno, considerando o retorno científico da missão. Mas imagine se pudéssemos ter um retorno financeiro da exploração espacial de asteroides.

Missão Psyche Explorer visita o Mundo de Metal

[ Ilustração artísitica da sonda Psyche visitando o asteroide com mesmo nome – Créditos: NASA/JPL-Caltech/Arizona State University/Space Systems Loral/Peter Rubin ]

Existe um asteroide no Cinturão Principal que deve ser alvo preferencial para futuras missões de mineração espacial. Trata-se do Psyche, um verdadeiro mundo de metal, com cerca de 280 km de diâmetro. 

Análises espectrais mostraram que Psyche parecia ser um asteroide inteiramente metálico, o que levou os cientistas a acreditar que se tratava de um núcleo exposto de um protoplaneta que foi destruído por um impacto. 

Entretanto, medições recentes mostram que sua densidade é baixa demais para um núcleo remanescente. Esclarecer essas dúvidas é um dos principais objetivos da Missão Psyche Explorer, que deve ser lançada pela NASA em outubro. Se tudo der certo, a sonda deve alcançar o asteroide em 2029 e iniciar uma fase de 10 meses de estudos em órbita de Psyche.

Além de estudar suas características físicas e químicas, a Missão Psyche deve obter informações que ajudem a explicar como o asteroide foi formado e compreender melhor como funcionam os núcleos planetários. Essa missão não vai explorar comercialmente o Psyche, mas seus resultados podem apontar a viabilidade de futuras missões de mineração do asteroide, que poderia valer até 10 quatrilhões de dólares. 

Aprendendo com os asteroides

Como vimos, os asteroides não são apenas motivo de preocupação para a humanidade. As missões espaciais que visitam esses objetos podem nos ajudar a compreender a história da origem do nosso Sistema Solar, da formação dos planetas e até mesmo do surgimento da vida aqui na Terra. Além é claro, das missões que podem nos trazer algum retorno financeiro ou evitar um impacto catastrófico no futuro. Por isso, se quisermos aprender mais sobre nosso passado e garantir o futuro da humanidade, devemos continuar a explorar esses pequenos corpos do Sistema Solar.