Injetar uma proteína antienvelhecimento em macacos idosos pode melhorar sua função cognitiva, revela um estudo. As descobertas, publicadas nesta semana na Nature Aging, podem levar a novos tratamentos para doenças neurodegenerativas.

Para quem tem pressa:

É a primeira vez que a restauração dos níveis de klotho – uma proteína natural que diminui em nossos corpos conforme envelhecemos – demonstrou melhorar a cognição num primata.

Pesquisas anteriores em camundongos mostraram que injeções de klotho podem prolongar a vida dos animais e aumentar a plasticidade sináptica – capacidade de controlar a comunicação entre neurônios, em junções chamadas sinapses.

Dados os estreitos paralelos genéticos e fisiológicos entre primatas e humanos, isso pode sugerir aplicações potenciais para o tratamento de distúrbios cognitivos humanos.

Marc Busche, neurologista do grupo UK Dementia Research Institute da Universidade College London

A proteína tem o nome da deusa grega Clotho, uma das Parcas, que tece o fio da vida.

Memória dos macacos

Macaco sentado na grama
(Imagem: Charles J. Sharp/Wikimedia Commons)

O estudo envolveu testar as habilidades cognitivas de velhos macacos com 22 anos, em média, antes e depois de uma única injeção da proteína klotho.

Para fazer isso, os pesquisadores usaram um experimento comportamental para testar a memória espacial. Os macacos tiveram que lembrar a localização de uma guloseima comestível, colocada lá por um pesquisador.

A coautora do estudo, Dena Dubal, médica pesquisadora da Universidade da Califórnia, em São Francisco, comparou o teste a lembrar onde você deixou o carro num estacionamento ou lembrar uma sequência de números alguns minutos depois de ouvi-la. Essas tarefas tornam-se mais difíceis com a idade.

Os macacos tiveram um desempenho significativamente melhor nesses testes após receberem klotho.

Antes das injeções, eles identificaram os locais corretos em cerca de 45% das vezes, em comparação com cerca de 60% das vezes após a injeção. A melhora foi sustentada por pelo menos duas semanas.

Ao contrário de estudos anteriores envolvendo camundongos, doses relativamente baixas de klotho foram eficazes.

Isso adiciona um elemento de complexidade às descobertas, o que sugere um modo de ação com mais nuances do que se pensava anteriormente, diz Busche.

Como a proteína antienvelhecimento funciona

Mão de médico sobre monitor com imagens de tomografia de cérebro
(Imagem: Getty Images)

Ainda não está claro exatamente como a injeção de klotho tem esse efeito na cognição ou por que dura tanto tempo.

Para começar, esse tipo de proteína não pode atravessar a barreira do sangue para o cérebro. Além disso, descobrir seu mecanismo é uma questão de descobrir quais intermediários estão envolvidos, explicou Dubal.

Porém, este estudo “certamente nos dá esperança”, disse ela. “E há uma razão muito forte para entrar em testes clínicos em humanos agora”, acrescentou.

Gøril Rolfseng Grøntvedt, neurologista da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia em Trondheim, concorda que mais estudos são necessários para responder a essas questões.

Grøntvedt e sua equipe descobriram anteriormente que pessoas com Alzheimer que têm níveis naturalmente mais altos de klotho tendem a sofrer menos comprometimento cognitivo do que aquelas com níveis mais baixos.

Isso levanta a possibilidade de que o aumento artificial de klotho possa ter efeitos benéficos.

Uma compreensão melhor do modo de ação da proteína será “crucial” para a realização de seu potencial clínico, disse Grøntvedt.

Com informações de Nature

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