Domingo, Novembro 24, 2024
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Futebol Total aproxima Ancelotti e Diniz: Analisamos semelhanças e diferenças

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Quando comparamos Carlo Ancelotti a Fernando Diniz, a primeira impressão pode ser de antagonismo. Um teórico choque de estilos, como vimos recentemente em Real Madrid e Manchester City, na Liga dos Campeões. Fugindo dos rótulos, construídos sem bases sólidas, há mais similaridades que diferenças entre os dois técnicos, e elas começam com uma inspiração em comum: o Futebol Total.

O berço das similaridades entre os técnicos está justamente na Itália, país de nascimento de Ancelotti. Ou melhor, em uma influência de um antigo técnico de Carlo no Milan, que o fez repensar o futebol. Arrigo Sacchi e o Futebol Total moldaram o técnico Carlo Ancelotti, assim como, anos mais tarde, também moldaram o treinador Fernando Diniz. 

Na Itália do catenaccio, Arrigo Sacchi foi uma espécie de luz. O “Mágico de Milão” mostrou aos italianos uma alternativa ao futebol defensivo aplicado até então, que sucumbia sem títulos da Liga dos Campeões desde a Internazionale de Helenio Herrera, que superou o Benfica, de Eusébio, em 1965.

Fã de Rinus Michels e do Futebol Total holandês, Sacchi, mesmo sem a experiência de uma carreira como jogador e de passagens por grandes equipes, transformou o Milan no final da década de 1980. O time abusava das mudanças posicionais que eram a marca do futebol de Michels, valorizando a bola e gerando muita imprevisibilidade aos adversários.

Apesar de ter vencido apenas um título da Serie A, Sacchi levou o Milan a dois títulos da Liga dos Campeões e dois da Supercopa da Europa, encantando o continente com um futebol vistoso. No time, havia um tal de Carlo Ancelotti…

Tendo em Arrigo Sacchi uma grande influência em seu tempo de jogador, Carlo Ancelotti se aposentou no início da década de 1990 para ser auxiliar de Sacchi na seleção italiana. Esteve, inclusive, com seu mentor na Copa de 1994, nos Estados Unidos, vencida, nos pênaltis, pelo Brasil. 

Ancelotti levou consigo alguns conceitos aplicados por Sacchi. A liberdade posicional, por exemplo, é um deles. O posicionamento do “Triângulo das Bermudas” do Real Madrid, por exemplo, deixa bem claro isso.

Na saída sustentada dos Merengues nos tempos em que os três magos jogavam juntos, Kroos poderia aparecer entre os zagueiros no apoio e Casemiro em uma linha à frente, com Modric mais avançado. Ou, por outro lado, poderiam descer Kroos e Modric, e Casemiro avançar. Ou, em uma terceira via, Casemiro ser o homem a recuar para Kroos e Modric aparecerem no meio na tentativa de criação da superioridade numérica no setor, normalmente com a aproximação de Valverde. O uruguaio, por sinal, sempre teve muita liberdade com o técnico, aparecendo na ponta, no meio, recuado na lateral, ou em qualquer lugar que precisasse no campo. 

A visão “inglesa” do jogo, que recentemente tentou estigmatizar Ancelotti como um técnico pragmatista, talvez tenha uma avaliação parcial demais da carreira de um dos grandes técnicos de uma geração. Ancelotti se mostrou, por outro lado, criativo para se adaptar a diferentes situações. O 4-4-2 do Milan campeão da Europa com Pirlo, Gattuso, Seedorf e Kaká no meio, por exemplo, deu lugar ao 4-3-3 do Real também campeão europeu, com Casemiro, Kroos e Modric. 

A liberdade posicional, também, reflete na individualidade dos jogadores no campo. Vide o crescimento de Vinícius Júnior no Real Madrid, por exemplo. Com liberdade criativa e de movimentos, Vini se tornou um dos principais jogadores do futebol mundial, com uma dinâmica ofensiva favorável a sua imprevisibilidade. 

Ao contrário do que muitos pensam, conceitualmente, Fernando Diniz está mais próximo de Carlo Ancelotti do que de Pep Guardiola. O próprio Diniz, certa vez, em entrevista ao Sportv, tentou explicar a grande diferença conceitual que existe entre ele e o técnico catalão. 

“Por gostar de ter a bola, obviamente as pessoas me associam ao jeito do Guardiola jogar, mas para por aí (em ter a bola). A maneira dele ter a bola é quase o oposto da minha. É um jogo mais posicional (o de Pep). Os jogadores respeitam muito a posição e a bola vai no espaço. Eles obedecem um determinado espaço para ficar e se movimentar dentro dele. O jeito que eu vejo futebol nesse momento é quase que “aposicional”. Os jogadores conseguem migrar mais de posição, o campo fica mais aberto e o jogo fica mais livre. Em determinados setores do campo a gente se aproxima. Um é um jogo mais preso dentro das posições e o outro mais livre”, explicou. 

A liberdade posicional pregada por Diniz vem da escola de Michels, portanto, da fonte que bebeu Ancelotti. O conceito de Futebol Total, dos jogadores funcionando como uma unidade, alterando sua posição no campo de acordo com a circunstância da partida, une o Real, de Ancelotti, ao Flu, de Diniz. 

Apesar de terem como base o Futebol Total e de, normalmente, optarem pelo 4-3-3 como formação inicial, Diniz e Ancelotti, naturalmente, têm algumas diferenças claras em seus planos de jogo. Enquanto o técnico brasileiro procura sempre criar a maior superioridade numérica possível em um setor do campo, Ancelotti, geralmente, opta por atrair de um lado para inverter o corredor. Kroos, muito por conta de sua qualidade no passe de média e longa distância, sempre foi fundamental para o italiano por isso. 

Os times de Ancelotti não precisam ficar tanto tempo com a posse de bola, por essa capacidade de atração para liberar o lado oposto. Normalmente os contra-ataques são fatais, e as jogadas imprimidas com muita velocidade. Já os times de Diniz geralmente ficam mais tempo com a posse de bola, trabalhando em um jogo muito mais apoiado, buscando criar e resolver as jogadas no mesmo setor preferencialmente. 

Na fase defensiva, enquanto geralmente os times de Ancelotti optam por marcação em bloco médio, as equipes de Diniz, apesar de eventuais variações de acordo com os adversários, tendem a pressionar um pouco mais alto, induzindo o rival para os lados do campo. 

O conceito de Futebol Total tem uma presença muito mais evidente nos times de Diniz do que nos times de Ancelotti. É comum, por exemplo, observarmos dois pontas no mesmo lado do campo nos jogos do Fluminense. No Real, seria muito difícil imaginar Vinícius Júnior se juntando a Rodrygo na direita, por exemplo. 

Conceitualmente mais próximos do que parecem, Ancelotti e Diniz parecem ser o futuro da seleção. Ao invés de uma batalha de teorias, o que o futuro da seleção merece, e pode ter, é uma troca de experiências de escolas de futebol que se complementam, e podem, juntas, acrescentar, e muito, ao futebol brasileiro. 

Fonte: Ogol

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