A decisão da CBF causou certo espanto, e não apenas pelo nome escolhido para comandar a seleção brasileira. Fernando Diniz está longe de ser unanimidade, mas é a forma como vai assumir o cargo o fator mais surpreendente: como interino, e dividindo o posto como técnico do Fluminense. Algo semelhante com o que aconteceu em 1998 com Vanderlei Luxemburgo, então no Corinthians.
A experiência de Luxemburgo com o posto dividido terminou com comemoração, e pode parecer, a luz dos resultados, um caso de sucesso. O Corinthians foi campeão brasileiro em 98, antes de Luxa se dedicar exclusivamente à seleção, vencendo a Copa América no ano seguinte. Mas o percurso foi problemático para o treinador, para o Timão e para a seleção.
Ao contrário de Carlo Ancelotti, com compromisso assumido com o Real Madrid e, por isso, impossibilitado de confirmar oficialmente o acerto com a CBF, Vanderlei Luxemburgo não deixou à seleção à espera. Mas o então técnico do Corinthians fez uma exigência: não abandonar o clube no meio da temporada.
Como hoje, com Fernando Diniz, a decisão de Luxemburgo causou certa surpresa e foi recebida entre o apoio e as críticas. Com uma diferença: à época Luxa era já um técnico consagrado, com dois títulos brasileiros no currículo, ao contrário de Diniz.
Luxemburgo não foi contratado para ser interino. Embora não tenha completado o ciclo até 2002, que acabou com o pentacampeonato sob comando de Luiz Felipe Scolari, Luxa tinha o voto de confiança, e por isso a CBF abriu exceção para que ele continuasse no Corinthians. No caso de Diniz, o técnico do Fluminense sabe que o convite é temporário, embora a princípio com a possibilidade de seguir na seleção como auxiliar de Carlo Ancelotti no futuro.
Como já adiantamos, o sucesso no Brasileirão faz com que parte das decepções tenham sido esquecidas. A pior delas a eliminação na fase de grupos da Copa Mercosul, evitando vexame maior com a vitória sobre o Peñarol na despedida, no dia 14 de outubro. No banco, no entanto, estava sentado Oswaldo de Oliveira… Vanderlei Luxemburgo comandava a seleção contra o Equador no mesmo dia, com vitória por 5 a 1, a primeira sob seu comando.
A estreia de Luxemburgo havia sido contra a Iugoslávia, hoje extinta, e com empate em 1 a 1, em setembro. Dois dias depois, o treinador voltava suas atenções para o Corinthians no Brasileirão, dando início a uma sequência de derrotas: Cruzeiro, Santos, Racing e Palmeiras. O time ainda empatou com o Goiás e foi derrotado pelo Flamengo antes do alívio na seleção, contra o Equador.
O desgaste era visível. A maratona de jogos e viagens cobrou preço na parte física e mental para Luxa, que reconheceu o cansaço antes do compromisso contra a seleção equatoriana. O técnico teria perdido nove quilos em sua passagem pelo Corinthians, a maior parte deles neste processo entre clube e seleção, recebendo críticas nos dois trabalhos e tendo de gerir problemas. Entre eles, conflitos de interesse, como o de convocar, ou não, atletas sob seu comando no clube.
O cenário atual deverá ser diferente para Fernando Diniz com a paralisação dos jogos no Brasil durante as datas Fifa. Um ponto positivo a favor do técnico. Ao mesmo tempo, os compromissos com Luxa eram poucos e insignificantes – três jogos amistosos. Diniz vai comandar em 2023 o Brasil no dobro de jogos, e todos eles em eliminatórias para a Copa do Mundo. Enquanto isso, o Fluminense vive fase conturbada, a pior desde o retorno do técnico às Laranjeiras. Como Luxa, Diniz deve estar preparado para sofrer pressão em frente dupla, ciente de que ninguém lhe será grato pelo esforço e dedicação se não tiver resultados positivos.
Fonte: Ogol
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