Em uma sala lacrada atrás de guardas armados e três fileiras de arame farpado alto no depósito Pueblo, do Exército, no Colorado (EUA), uma equipe de braços robóticos desmontava algumas das últimas do vasto e medonho estoque de armas químicas dos Estados Unidos.

Para quem tem pressa:

Entraram projéteis de artilharia cheios de agente de mostarda mortal que o Exército vinha armazenando há mais de 70 anos.

Os robôs amarelos brilhantes perfuraram, drenaram e lavaram cada concha, depois assaram a 815ºC.

De lá saiu sucata inerte e inofensiva, caindo de uma esteira rolante em uma lixeira marrom comum com um barulho retumbante.

“É o som de uma arma química morrendo”, disse Kingston Reif, que passou anos pressionando pelo desarmamento fora do governo e agora é subsecretário adjunto de defesa para redução de ameaças e controle de armas.

Arsenal dos EUA

Montagem de fotos de armas químicas dos EUA
(Imagem: Michael Ciaglo/The New York Times)

A destruição do estoque levou décadas. E o Exército estadunidense diz que o trabalho está quase concluído.

O depósito perto de Pueblo destruiu sua última arma em junho; o punhado restante em outro depósito em Kentucky será destruído nos próximos dias.

Quando eles se forem, todas as armas químicas publicamente declaradas do mundo terão sido eliminadas.

O estoque americano, construído ao longo de gerações, era chocante em sua escala:

Armas químicas

Montagem de fotos de máscaras de gás e homens paramentados em estoque de armas químicas dos EUA
(Imagem: Kenny Holston/The New York Times)

Eram uma classe de armas considerada tão desumana que seu uso foi condenado após a Primeira Guerra Mundial. Mas, mesmo assim, os Estados Unidos e outras potências continuaram a desenvolvê-las e acumulá-las.

Alguns tinham versões mais mortíferas dos agentes de cloro e mostarda que se tornaram infames nas trincheiras da Frente Ocidental.

Outros mantiveram agentes neurotóxicos desenvolvidos posteriormente, como VX e Sarin, que são letais mesmo em pequenas quantidades.

As forças armadas estadunidenses não são conhecidas por terem usado armas químicas letais em batalha desde 1918.

No entanto, durante a Guerra do Vietnã, o Exército usou herbicidas como o Agente Laranja que eram prejudiciais aos humanos.

Os Estados Unidos também tiveram um extenso programa de guerra biológica e armas biológicas. Essas armas foram destruídas na década de 1970.

O acordo

Central de controle do estoque de armas químicas dos. EUA
(Imagem: Kenny Holston/The New York Times)

Os Estados Unidos e a União Soviética concordaram em destruir seus estoques de armas químicas em 1989.

Quando o Senado ratificou a Convenção de Armas Químicas em 1997, os EUA e outros signatários se comprometeram a se livrar das armas químicas de uma vez por todas.

Porém, destruí-las não foi fácil. Elas foram construídas para serem disparadas, não desmontadas. A combinação de explosivos e veneno as torna excepcionalmente perigosas de manusear.

Funcionários do Departamento de Defesa certa vez projetaram que o trabalho poderia ser feito em poucos anos a um custo de cerca de US$1,4 bilhão (aproximadamente R$6,8 bilhões).

Agora, está encerrando com décadas de atraso, a um custo próximo de US$42 bilhões (R$204 bilhões) – 2.900% acima do orçamento. Mas está feito.

Com informações de The New York Times (em inglês)

Já assistiu aos novos vídeos no YouTube do Olhar Digital? Inscreva-se no canal!