Há 500 dias a Ucrânia luta contra a Rússia para defender seu território e manter sua soberania. O conflito já deixou 18 mil civis mortos, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 6 milhões de refugiados e quase 6 milhões de pessoas deslocadas internamente, em uma população pré-guerra de 44 milhões. Atualmente, o confronto está em um impasse, mesmo com a contraofensiva ucraniana que está em curso desde o começo de junho e o motim contra Moscou que aconteceu no final do mês passado, assuntando a todos. Uma solução é algo distante da realidade, mas, levando em consideração quais eram os planos de Putin para o conflito e o tempo que ele está levando para executá-lo, principalmente se considerado que, inicialmente, o poderio militar russo era muito maior que o ucraniano, Kiev leva vantagem, porque está mais próxima da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), e a União Europeia e se tornou um dos exércitos mais poderosos do mundo por causa da constante ajuda que o Ocidente tem dado. O conflito, marcado por cinco fases importantes, acabou de ganhar mais um capítulo.
Desde o dia 24 de fevereiro o mundo não é mais o mesmo. A Rússia invadiu a Ucrânia com objetivo de “desnazificar” o país e impedir que ele entrasse para a Otan. Havia expectativas de que fosse um conflito rápido e que em pouco dias as tropas de Putin já tivessem dominado a capital e assumido o controle do país, mas não foi o que aconteceu. Logo nos primeiro dias, os russos conseguiram assumir algumas regiões ucranianas, incluindo a usina de Chernobyl e a zona portuária de Odessa. Os Estados Unidos e outros países ofereceram proteção para Zelensky, mas ele se negou a deixar o país e permaneceu lá para ajudar na guerra contra os russos. Logo nos primeiros dias de invasão, o mercado já começou a sofrer com o aumento do preço do gás e do petróleo e com o bloqueio dos portos para exportação de grãos – Rússia e Ucrânia são dois dos maiores produtores do mundo. Em Moscou, em outras cidades russas e diversos pontos do planeta, as pessoas foram às ruas se manifestar contra a invasão russa.
Alguns dias após a invasão, um aviso deu esperança a todos: a primeira rodada de negociação de cessar-fogo entre os países. Representantes russos e ucranianos se encontraram em Belarus para debater as pendências e tentar chegar a um acordo para cessar-fogo, ao mesmo tempo em que as tropas de Putin continuavam bombardeando cidades da Ucrânia e assumiam o controle de Kherson. As tentativas de diálogo aconteceram durante quatro rodadas, sendo esta a mais avançada, com Zelensky abrindo mão de seu desejo de ingressar na Otan e concordando em se tornar um país neutro, e Putin retirando suas tropas da capital, Kiev, e focando no leste do país, mais precisamente na região do Donbass, formada por Luhansk e Donetsk, duas áreas pró-Rússia que tiveram sua independência reconhecida pelo Kremlin dias antes da invasão. Esse recuo russo permitiu que os ucranianos tomassem o controle de regiões próximas e descobrissem em Bucha os primeiros indícios de um possível crime de guerra.
Passados cinco meses do conflito entre Rússia e Ucrânia, com ajuda da Organização das Nações Unidas (ONU) e do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, os países fecharam o primeiro acordo: o de exportação de grãos – que estava suspenso desde o começo do conflito e aumentou a insegurança alimentar do mundo. Kiev e Moscou assinaram dois textos idênticos, mas separados, sobre a exportação de grãos e produtos agrícolas através do Mar Negro. O acordo estava sendo negociado desde abril. Russos e ucranianos respondem por 30% do comércio mundial de trigo. Neste mês, por causa da escalada do conflito, Suécia e Finlândia, dois países nórdicos que há anos assumiram postura de neutralidade, reviram suas políticas e solicitaram suas entradas na Otan. O processo foi aceito pelos países-membros que agora trabalham para incluí-los o mais rápido possível na Aliança. Em meio à primeira conquista, outro atrito ficou mais evidente e começou a se alarmar tanto na Europa como na Ucrânia: o fornecimento de gás, essencial para os países, principalmente no inverno, que chegou em dezembro. A Rússia interrompeu o fornecimento de gás e, no mês seguinte, fechou o gasoduto Nord Steam, alegando que faria manutenções. Ela voltou a fornecer gás, mas os europeus alegaram que o fluxo estava menor do que o anterior. Foi uma redução de 20% da capacidade. Diante do cenário incerto, a União Europeia (UE) aprovou um plano de emergência para conter a demanda por gás. O plano é reduzir a demanda do gás em 15% a curto prazo.
Diferente de tudo o que tinha sido registrado até o momento, setembro foi um ponto de virada para a Ucrânia: foi o momento em que os ucranianos lançaram uma contraofensiva e conseguiram recuperar territórios. De acordo com Zelensky, foram libertados 2.500 km² de áreas que estavam sob controle das tropas inimigas. Com os avanços ucranianos, e principalmente com a explosão de uma ponte que liga a Rússia à Crimeia – anexada desde 2014 e um ‘apego’ de Putin – o russo convocou 300 mil reservistas para a guerra, decisão que gerou uma crise interna. Mais do que isso, algumas autoridades russas chegaram a pedir a renúncia do líder. Com um cenário não favorável para o chefe de Estado da Rússia, ele resolveu anexar quatro regiões – Kherson, Donetsk, Luhansk e Zaporizhia – que estavam parcialmente ocupadas. Contudo, um dia depois, as tropas russas deixaram a região de Kherson, mostrando ainda mais uma fragilidade russa no conflito.
Com a guerra mais equilibrada e a Rússia deixando de ser superior, Putin resolveu usar a natureza como estratégia. Ele tem apostado na destruição das infraestruturas energéticas para tentar fazer os ucranianos cederem em meio ao rigoroso inverno que já atinge a região. Os bombardeios e destruições que fizeram as autoridades da Ucrânia declararem racionamento de eletricidade em várias cidades que têm lutado contra a escuridão para poderem sobreviver ao rigoroso inverno não abalaram Zelensky e suas tropas, que afirmaram que vão continuar lutando e que não têm medo do escuro. Prova disso foi a reconquista de Kherson, um dia classificado pelos ucranianos como “histórico”. Os moradores saíram às ruas para celebrar a conquista. Apesar dos recentes avanços, o comandante das Forças Armadas da Ucrânia, Valery Zaluzhny, declarou que previa uma nova ofensiva russa contra Kiev nos primeiros meses do ano. Para os especialistas, “no momento, a estratégia russa prevê a intensificação do inverno como fator-chave para o cansaço da resistência ucraniana ao mesmo tempo em que executam ataques com mísseis à infraestrutura energética do país. O grande balizador do conflito em 2023 será a resposta russa ao envolvimento, direto ou indireto, da Otan”, diz Guilherme Thudium. O cientista político Leandro Consentino acredita que levará “um pouco mais de tempo de impasse desse conflito, porque ele não é de fácil resolução”.
Contraofensiva na Ucrânia e rebelião contra Moscou
Em 24 de fevereiro de 2023, a Guerra na Ucrânia completou um ano. Desde então, a Ucrânia prometia uma contraofensiva, mas, até junho, nada aconteceu. Contudo, no começo do sexto mês do ano, o exército de Volodymyr Zelensky deu início ao que havia prometido e conseguiu recuperar algumas regiões. Ao mesmo tempo em que a Ucrânia avançava, a Rússia sofria um motim, realizado no final do mês. A crise foi o maior desafio enfrentado por Vladimir Putin desde 1999, quando assumiu o poder, e colocou em cheque o seu poder, gerando questionamento se ele estava ficando enfraquecido. Entre a sexta-feira, 23, e o sábado, 24, o grupo paramilitar Wagner, que atuava ao lado das tropas russas desde o início da invasão, se rebelou contra o governo russo. A relação ficou ruim após o líder do Wagner, Yevgueni Prigozhin, acusar o Ministério da Defesa da Rússia de atacar acampamentos do grupo, levando à morte de diversos integrantes da organização. Prigozhin prometeu retaliação e iniciou a rebelião contra o governo de Vladimir Putin, prometendo, inclusive, depor o comando militar do país.
Mais tarde, entretanto, ele disse que não tinha como objetivo derrubar Putin, mas salvar o seu grupo e mostrar como a defesa da Rússia estava frágil. Porém, apesar do episódio que deixou todo o mundo sob atenção, porque aconteceu de forma inesperada, Prigozhin colocou fim ao motim, alegando que era para evitar o derramamento de sangue. O fato de Putin ter condenado a ação como traição, mas não ter punido nenhum dos envolvidos, e sim dado opções para ele, como se juntar ao exército ou se exilar em Belarus, gerou questionamentos sobre seu poder, até porque o líder paramilitar que tinha ido para o país vizinho, atualmente, voltou para território e se encontra lá. Mas, desde que cessou a rebelião, ainda não apareceu em público.
Fonte: Jovem Pan News
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