Se você pudesse enviar uma mensagem para uma civilização alienígena, o que é que você diria? Antes de responder, não deixe de levar em conta alguns fatos importantes: eles certamente não falam a nossa língua e talvez nem falem. Se tiverem alguma forma de escrita, ela não se parece em nada com a nossa. O mundo deles pode ser bem diferente da Terra e estes seres podem ter uma natureza bem diferente da humana.
Então a questão fundamental não é o que dizer, e sim, como poderíamos nos comunicar com uma civilização alienígena?
O ser humano é uma espécie altamente comunicativa. Essa capacidade foi de fundamental importância para o desenvolvimento das nossas sociedades e também da ciência. Às vezes exageramos um pouco, é claro, e achamos que é possível conversar com animais de estimação, com plantas, com mortos e até mesmo com um filho adolescente. Mas bater um papo com um alien é, sem dúvida, a mais desafiadora tentativa de comunicação da humanidade.
É desafiador não só por não sabermos como nos comunicar, mas principalmente porque não sabemos onde eles estão e nem mesmo se eles existem de fato.
Na tentativa de responder estas duas últimas questões, a NASA criou o programa SETI – Search for Extraterrestrial Intelligence, e desde então, passamos a procurar sistematicamente pela inteligência alienígena. O SETI funciona através de grandes radiotelescópios que varrem o céu procurando por padrões de sinais de rádio que só poderiam ser produzidos por alguma civilização extraterrestre tecnologicamente avançada.
Até hoje, nada de significativo foi detectado. Mas ao contrário daquele crush que fica esperando o seu contato mas nunca te liga, a busca humana por vida inteligente fora da Terra também é ativa. O chamado SETI-ativo, ou METI – Messaging to Extraterrestrial Intelligence é a nossa tentativa de contactar civilizações avançadas fora da Terra. Um exemplo destas mensagens, e que foi uma das mais importantes deste programa foi enviada há 20 anos, e ainda estamos esperando o retorno.
A mensagem, conhecida como Chamada Cósmica 2, foi enviada a partir do radiotelescópio RT-70 de Eupatória, na Crimeia, e de Roswell nos Estados Unidos, em 6 de julho de 2003. Ela foi direcionada para 6 estrelas próximas nas constelações de Cassiopéia, Órion, Câncer, Andrômeda e Ursa Maior.
O sinal foi direcional porque não dá para mandar uma mensagem em broadcast para todo o Universo como o carro da pamonha passando na sua rua. É preciso concentrá-lo numa única direção para que ele chegue com a máxima potência no seu destino, e possa ser detectado por uma possível civilização nas mediações da estrela. Do contrário, o sinal chegaria tão fraco que se perderia em meio ao ruído cósmico.
O sinal enviado foi projetado cuidadosamente para se destacar em meio ao ruído e ser facilmente percebido como uma fonte artificial de rádio. Assim, se um alienígena por acaso detectá-lo, saberá que ele não está sozinho no Universo, e poderá decifrar a mensagem codificada naquelas ondas de rádio. É claro que os cientistas tentaram facilitar o máximo as coisas, mas essa tarefa não deve ser nada fácil.
Aqui na Terra, durante séculos, o significado dos hieróglifos egípcios eram completamente desconhecidos. Por mais que fosse uma linguagem escrita, cunhada pelo homem e relatando fatos do nosso próprio mundo, não fazíamos ideia do que ela significava. Até que no final do Século XVIII, os arqueólogos encontraram a “Pedra Rosetta”, contendo um mesmo texto escrito na forma hieroglífica do Egito antigo, em demótico e em grego antigo.
A Pedra Rosetta foi fundamental para a compreensão moderna da escrita do antigo Egito e fundou um novo ramo do conhecimento, a egiptologia. Por isso, a mensagem enviada na Chamada Cósmica continha em seu primeiro trecho uma sequência de informações planejadas para ser uma espécie de Pedra de Rosetta terrestre, dando todas as pistas para que nossos alienígenas do outro lado da linha, consigam decifrar o restante da mensagem.
Mas para isso, nós precisávamos de uma linguagem comum entre homens e aliens. E essa linguagem é a matemática. Qualquer civilização capaz de construir um dispositivo para receber ondas de rádio do espaço precisa de um bom conhecimento de matemática e física para realizar essa tarefa. Por isso, logo no início da mensagem, ela procura estabelecer uma base numérica comum, definindo caracteres de 0 a 9 e uma representação binária para eles.
Na sequência, alguns conhecimentos de física são introduzidos. A física é essencial para que possamos descrever quem somos e de onde enviamos a mensagem. E tudo isso só é possível se estabelecermos unidades de medida comum. Para medir o tempo e a distância, foi utilizado o espectro do hidrogênio, porque qualquer alienígena familiarizado com o espectro reconheceria facilmente suas linhas e as relações. Os átomos de hidrogênio e hélio, os mais comuns no Universo, foram utilizados para estabelecer uma unidade de massa. Com tempo, distância e massa, outras unidades poderiam ser facilmente derivadas.
Tudo isso foi formatado na mensagem como uma imagem codificada no sinal de rádio. A opção pela imagem se mostrou mais vantajosa, principalmente porque possibilitaria o uso de pequenos diagramas para incrementar o nível da informação. Além disso, falhas na transmissão ou decodificação não iriam prejudicar todo o resto do conteúdo.
Símbolos especiais foram criados para estabelecer uma comunicação escrita com os alienígenas. E assim como nos hieróglifos egípcios, cada símbolo representa uma ideia e não um carácter.
Noções de química e biologia também foram transmitidas para apresentar mais informações sobre a humanidade. Conhecimentos que só podem ser alcançados a partir de uma grande compreensão do Universo, como a tabela periódica, tentando estabelecer uma linguagem comum através da natureza e da Ciência.
Infelizmente não sabemos se existe alguma civilização alienígena nas direções em que as mensagens foram enviadas. E ainda precisamos de muito tempo para saber, já que as ondas de rádio enviadas 20 anos atrás, ainda estão no meio do caminho até as estrelas escolhidas. A primeira só vai chegar ao destino em 2036.
E caso exista alguma civilização extraterrestre capaz de receber e decifrar a nossa Chamada Cósmica, eles vão saber que não muito distante dali, existe uma civilização minimamente avançada habitando o terceiro planeta de uma estrela mediana. Ao final da mensagem, convidamos nossos novos amigos extraterrestres a retornar a ligação. Depois de contar um pouco quem somos e o que sabemos, fazemos as mesmas perguntas e esperamos uma resposta.
Fonte: Olhar Digital
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