Neste mês, um drone decolou no Novo México, EUA, e subiu até a estratosfera, entrando em corrida para entregar veículos aéreos não tripulados para voar mais alto e por mais tempo como jamais antes.

Os drones já são muito utilizados nas guerras, tendo papel destacável na invasão à Ucrânia. Mas os militares há muito procuram algo que possa prover inteligência em alturas além do alcance dos tradicionais sistemas de defesa de radares e mísseis por longos períodos.

No caso de usuário comercial, drones de alta altitude podem ser solução para transmissão de serviços de internet em regiões de baixa conectividade.

Drones cada vez mais alto

No último teste de voo, o drone, chamado de PHASA-35, voou cerca de 19,8 km e voou por 24h antes de aterrissar. Espera-se que ele entre em serviço até o fim de 2026.

Concorrência

A Airbus também tem seu próprio drone especial: o Zephyr chegou a voar a 21,3 km de altura por 64 dias. Nos próximos meses, ele deve realizar testes específicos para o Departamento de Defesa e para uma empresa de telecomunicações japonesa de nome não revelado. A meta da empresa é a de deixá-lo no ar por 200 dias.

Dificuldades e tropeços

Contudo, a corrida para obter o drone que voa mais alto e por mais tempo está cheia de falhas. Boeing, Meta e Google estão entre os nomes que não conseguiram ir além nessa tentativa.

Drones militares que voam muito mais alto já em serviço exitem. São eles: o Global Hawk, da Northrop Grumman e o Reaper, da General Atomics Aeronautical Systems, podendo atingir 18,2 km e 15,2 km, respectivamente. Ambos voam por até 30h.

Para voar mais alto e mais longe, a BAE ajustou seu drone por anos, tendo o colocado para voar pela primeira vez em 2020.

O PHASA-35 possui 35 m de envergadura, mais ou menos o mesmo comprimento de um Boeing 737, mas pesa tanto quanto uma moto tradicional. Suas grandes asas se fazem necessárias para transporte dos painéis solares, responsáveis pela geração de energia, bem como para dar ao veículo sustentação suficiente no ar rarefeito da estratosfera.

A estrutura deve subir e descer mais de 19,3 km em clima variável. Dessa forma, os operadores devem obter dados meteorológicos bem precisos. Essas pessoas trabalham dia e noite.

Para o último voo de teste, os operadores receberam dados da meteorologia em tempo real do Met Office, serviço nacional do setor da Grã-Bretanha, para poder descobrir o melhor momento para que o equipamento possa decolar.

“É o equivalente a barco muito frágil atravessando corredeiras para chegar a clima mais calmo e além”, indica Steve Wright, professor associado de engenharia aeroespacial da University of the West of England, em Bristol, Inglaterra.

Quando na estratosfera, os drones enfrentam temperaturas de -40 °C, além da radiação solar (já que, nessas altitudes, a camada de ozônio já não atua mais), à qual seus componentes eletrônicos sofisticados serão expostos meses a fio. Sobre isso, Wright afirmou que “a eletrônica tem que ser super resistente”.

O Zephyr, da Airbus, chegou a quebrar durante turbulência sofrida em 2019, na Austrália. Ele “era extremamente sensível à instabilidade atmosférica nas fases de subida e descida”, segundo relatório do regular da aviação australiana.

No ano passado, problemas com o clima extremo derrubaram o drone mais uma vez, dessa vez nos EUA. Aquele que falhou em 2019 era modelo de teste anterior e, então o Zephyr foi aprimorado, pousando com sucesso quatro vezes. A informação é de Chris McLaughlin, que cuida de assuntos governamentais em Aalto, onde o drone da Airbus é produzido. O projeto já tem mais de 20 anos.

Como dito acima, a Boeing também tinha projeto similar. Ela planejou, por cinco anos, drone movido a energia solar de 12,1 m de largura, que poderia voar a 18,2 km por ao menos cinco anos. Os trabalhos foram interrompidos há cerca de dez anos. A Boeing nunca disse o motivo.

Em 2021, foi a vez da Alphabet (dona do Google) desistir de oferta para o envio de balões gigantes a até 22,8 km para fornecer acesso à internet em áreas remotas. A alegação da empresa é de que o projeto não era comercialmente viável.

O Facebook e a Ordnance Survey, agência de mapeamento do governo do Reino Unido, também cancelaram seus projetos de drones de alta altitude nos últimos anos.

Apesar disso, os desenvolvedores afirmam que imaginam alta demanda e que eles são capazes de colocar para funcionar. O mercado geral de serviços estratosféricos, que inclui várias aplicações para usos militar e comercial, pode valer até US$ 200 bilhões (R$ 958,3 bilhões) até a década de 2030, segundo a unidade de Aalto da Airbus.

Outros que trabalham com drones de altas altitudes incluem o SoftBank, do Japão, que testou, a nave Sunglider a 19 km em 2020, e o National Aerospace Laboratories, braço de pesquisa do governo indiano.

Esse tipo de drone é geralmente chamado de pseudo-satélites e podem agir de maneira semelhante, com algumas vantagens. O Zephyr, a exemplo, pode transmitir cobertura telefônica por 7,5 mil km², que equivale a 250 torres de telecomunicações no solo, segundo o desenvolvedor.

Esses drones de alta altitude também podem ser mais confiáveis em termos de qualidade de conectividade de sinal, capacidade de largura de banda e tempo de transmissão devido à sua distância mais próxima da Terra.

James Rogers, acadêmico que assessora o governo do Reino Unido, as Nações Unidas e outros sobre drones

Lançar um drone é mais barato e ecológico do que um satélite, segundo quem defende os drones, embora também possa ser melhor posicionado em um alvo. “É infinitamente controlável”, afirma McLaughlin acerca do Zephyr.

Para uso militar, os drones da nova era possuem assinaturas de radar bem baixas, em parte porque seus motores emitem menos calor quando comparados a jatos. Além disso, em tais alturas literalmente estonteantes, é muito mais difícil de abatê-los. “É muito difícil sermos vistos”, afirma Corfield.

Com informações de The Wall Street Journal