Durante audiência realizada nesta quinta-feira (13), deputados republicanos acusam a presidente da FTC, Lina Khan, de “assédio” ao Twitter, afirmando que a investigação da agência, que já dura meses, sobre a companhia de Elon Musk como “extorsão”.

Eles baseiam parte de suas acusações em nova reclamação vinda do Twitter pedindo a uma corte federal para finalizar o pedido da FTC de restringir as práticas de segurança de dados da rede social, afirmando que a agência entrou em “espiral fora de controle e se tornou contaminada por preconceitos”.

Os acusadores indicam, ainda, que a FTC tentou influenciar a Ernst & Young, auditor independente contratado pelo Twitter para avaliar se estava de acordo com o pedido da agência.

Os membros do comitê Republicano, contudo, teriam omitido detalhes-chave, que revelariam o caos nebuloso pelo qual o Twitter passa desde a chegada de Musk.

“Seria grande fardo para pequeno número de pessoas para executar a mesma estrutura de controle”, ele afirmou a um investigador da FTC, que questionou como as “restrições de recursos” afetariam o programa de segurança de dados do Twitter.

Guerra Twitter vs. FTC

As informações surgem durante impasse entre Twitter e FTC, que alertou a companhia de Musk, nos últimos dias, que as faltas de respostas da rede social quanto à entrega de documentos contrariam uma ordem de consentimento assinada pela empresa e atualizada pela FTC em 2022 depois de denúncias de que a empresa teria enganosamente usado números de telefone e e-mais para direcionar anúncios.

A agência comentou ainda que considerará uma violação se Musk não for depor em 25 de julho, em São Francisco. Em sua reclamação, o Twitter pediu para que a FTC desconsidere essa possibilidade.

Ernst & Young cobra dívida alta do Twitter, mas alega que a FTC a pressionou para auditar certas áreas da empresa (Imagem: WonderPix/Shutterstock)

Lina Khan na berlinda

A queixa foi apresentada em Tribunal Distrital dos EUA no norte da Califórnia horas antes do depoimento de Lina Khan no Capitólio, onde teve recepção hostil dos republicanos, que a acusaram de dar péssima administração à FTC e politizar a investigação da rede social.

Para Musk, que foi acompanhando a audiência no Twitter, escreveu em seu microblog que a troca de farpas entre Khan e o presidente do Comitê Judiciário da Câmara, Jim Jordan, foram “extremamente preocupantes”, e alegou que há “excesso insanamente ilegal da FTC”.

Jordan disse que a liderança de Khan é um “desastre” e caracterizou a abordagem da chefe da FTC de “intimidação seguida de inação”. Ele ainda pressionou Khan ao perguntar por que ela está “assediando o Twitter”, que respondeu que o trabalho da FTC no Twitter “volta em uma década”.

O republicano usou como referência também trecho do depoimento do sócio da Ernst & Young, que disse que as comunicações da agência o fizeram sentir “como se a FTC estivesse tentando influenciar o resultado do ‘noivado’ antes mesmo de começar”.

A Ernst & Young foi questionada pela FTC o que sabia sobre as mudanças no Twitter durante a mudança de comando. Em janeiro, Roque alegou aos advogados da rede social que a FTC chegou a dar uma lista de áreas a serem analisadas pela auditora. O sócio pontuou ser pedido incomum.

Era quase como se estivessem nos dando componentes de nosso programa de auditoria para executarmos.

David Roque, sócio da Ernst & Young, em conversa com advogados do Twitter

Sobe o ocorrido, a chefe da FTC afirmou não estar familiarizada com os detalhes desse depoimento em particular. A FTC também se recusou a comentar o arquivamento da investigação.

Contudo, cartas anexadas aos autos do processo indicam que a FTC rejeitou as reivindicações da empresa. Um grupo de advogados da FTC enviou, nesta terça-feira (11) carta aos representantes de Musk, chamando as acusações do executivo de que o órgão está sendo parcial de “completamente infundadas”.

Os advogados alegaram que não há “nada inapropriado” sobre a investigação da agência e acusaram os representantes da rede social de fazerem “trecho seletivo” da transcrição do depoimento de Roque.

De modo algum a equipe da FTC buscou ‘influenciar’ a EY [Ernst & Young] para emitir relatório concluindo haver deficiências no programa de privacidade e segurança da informação do Twitter.

Reenah L. Kim, Anne Collesano e Erik Jones, advogados da FTC, em carta aos advogados do Twitter

Por sua vez, a Ernst & Young não quis comentar, citando “litígio ativo em relação a antigo compromisso”.

A deputada republicana Becca Balint disse ter sido coincidência “bastante feliz” que as evidências que sustentam as acusações dos republicanos tenham sido divulgados “de maneira tão oportuna”.

Lina Khan foi duramente criticada pelos Republicanos e muito defendida pelos Democratas

Investigação é antiga

Essa investigação conduzida pela FTC começou antes da aquisição do Twitter por Elon Musk. Em 2022, a agência chegou a investigar reclamação do denunciante Peiter “Mudge” Zatko, que afirmou que a empresa escondeu “deficiências flagrantes” em violação de ordem advinda da FTC.

Relembre o caso

Em acordo realizado em 2011, o Twitter aceitou implementar, monitorar e ajustar salvaguardas de segurança para melhorar a proteção de seus usuários. Contudo, no ano passado, o Departamento de Justiça dos EUA acusou a empresa de solicitar a seus usuários seus números de telefone alegando ser necessário para incrementar a segurança e, então usar essas informações para fins de marketing.

O Twitter aceitou pagar US$ 150 milhões (R$ 719,4 milhões) por ter, supostamente quebrado o acordo firmado há 12 anos, que o impedia de realizar declarações falsas acerca da segurança de dados pessoais.

Nova guerra entre Democratas e Republicanos

Do lado dos Democratas, quem também defendeu a FTC foi Jerrold Nadler, principal democrata no Comitê Judiciário na Câmara.

Ele criticou a atitude dos republicanos, afirmando que eles estão desperdiçando dinheiro dos contribuintes estadunidenses ao proteger executivo de tecnologia que expressa suas opiniões políticas.

Além disso, o deputado defendeu Khan contra as acusações de que a investigação sobre o Twitter foi politizada.

O Twitter está com problemas por não proteger adequadamente a privacidade de seus usuários por mais de uma década. Este trabalho não tem nada a ver com o novo dono da empresa e suas visões políticas. Proteger a privacidade do usuário não é político.

Jerrold Nadler, deputado democrata e membro do Comitê Judiciário na Câmara, durante depoimento de Lina Khan

Com informações de The Washington Post