Lionel Messi foi apresentado neste domingo, juntamente com Sergio Busquets, para tentar salvar a temporada do Inter Miami. É claro que a chegada de La Pulga no futebol norte-americano significa mais que isso. Simboliza muito mais. Mas a primeira missão do argentino em Miami será tentar interromper uma trajetória de sucessivos fracassos.
Não fosse a chegada de Messi, e também Busquets, o clima em Miami nesse momento seria de terra arrasada. O Inter Miami faz uma temporada abaixo da crítica, na última colocação da sua Conferência. Nenhuma equipe, contando as duas Conferências, perdeu mais jogos na temporada que a equipe da Flórida: foram 14 derrotas. 12 pontos separam o novo time de Messi do D.C United, nono colocado, que jogaria uma espécie de play-in, um mata-mata antes dos playoffs.
Messi chega em Miami em um momento de pausa na MLS. O torneio ficará parado de agora até 20 de agosto, quando será jogada a Leagues Cup, novo torneio da Concacaf que irá reunir 47 times profissionais de Canadá, Estados Unidos e México. Poderá ser, também, uma oportunidade para o Inter Miami recuperar um pouco da autoestima, tão castigada ao longo da temporada.
Na janela de transferências do início do ano, o Inter Miami perdeu Gonzalo Higuaín (aposentado), Alejandro Pozuelo (saiu como agente livre para atuar na Turquia) e Damion Lowe (negociado com o Philadelphia Union). A grande contratação, para repor a saída de Higuaín, foi Josef Martínez, um dos grandes nomes da MLS, que brilhara no Atlanta United. O experiente defensor ucraniano Sergii Kryvtsov também chegou, após longa carreira no Shakhtar Donetsk, assim como o argentino ex-Godoy Cruz Franco Negri e o meia Niciolás Stefanelli, vindo do futebol sueco. O defensor canadense Kamal Miller chegou no decorrer da temporada.
Kryvtsov foi um dos poucos a se salvarem no setor defensivo da equipe nesta temporada, com a ressalva de algumas grandes atuações também do goleiro Drake Callender. Negri sofreu com bolas nas costas (e também com uma lesão), Miller não foi regular. O Inter Miami tem a terceira pior defesa da Conferência, a quarta no geral.
A falta de criatividade do meio para frente, talvez, seja um problema ainda mais grave. Só duas equipes fizeram menos gols que o Inter Miami na temporada da MLS: Toronto FC e Colorado Rapids. O mexicano Rodolfo Pizarro, que ocupava a vaga de Designated Player do time (o jogador que pode ganhar além do teto da Liga, teoricamente o craque), não marcou qualquer gol na temporada em 15 jogos, e deu apenas uma assistência. Foi o grande fracasso do ano em Miami.
O brasileiro Jean Mota tentou assumir o protagonismo nas dez partidas que esteve em campo, mais adiantado, e conseguiu quatro assistências, mas se machucou. O meia Gregore, ex-Bahia, também sofreu com uma lesão e ficou boa parte da temporada fora. Com a bola chegando pouco, Martínez conseguiu apenas seis gols até aqui na temporada, pouco para quem já passou duas vezes dos 30 gols em um ano de MLS.
Com muitas lesões ao longo da temporada, o Inter Miami usou e abusou da sua academy nesta temporada. Ian Fray (zagueiro de 20 anos), Noah Allen (lateral esquerdo de 19 anos), David Ruiz (volante de 19 anos) e Benjamin Cremaschi (meia de 18 anos) fizeram todos suas estreias na MLS nessa temporada, assim como o atacante dominicano Edison Azcona (19).
Cremaschi, promessa argentina revelada na Flórida, somou 13 partidas como titular na MLS na temporada, enquanto Ruiz, hondurenho presente no último Mundial sub-20, fez nove. Os dois ganharam sequência no trio de meio-campistas do Inter Miami nas últimas rodadas, assumindo o protagonismo que nomes mais experientes não conseguiram (como citado).
Na MLS, não é tão normal a utilização de atletas sub-20. A opção de muitos jogadores pela Universidade (que os tiram dos clubes e só os liberam de volta pelo menos depois dos 22) limita muito a iniciação de jovens no campeonato. O Inter Miami tem a vantagem de estar na Flórida, com forte presença de latinos. A cultura, mais próxima da forma como nós, sul-americanos, vivemos o futebol, encurta um pouco essa distância e os bons jogadores costumam dar preferência ao futebol logo em um primeiro momento, optando por uma universidade que deixe-os jogar profissionalmente (jogadores de universidades D1, a divisão mais competitiva esportivamente, normalmente com bolsas atrativas para os estudantes, não podem ter vínculo profissional com nenhum clube). Não à toa, a maior parte dos jovens utilizados pelo Inter Miami possuem nacionalidade (ou são descendentes) de países latinos.
Até esse momento da temporada, o Inter Miami usou dois esquemas preferencialmente: o 4-3-3 e o 4-2-3-1. As muitas lesões durante a temporada e as características dos jogadores que se tornaram opção foram modificando o panorama em alguns momentos.
A tendência era de busca por profundidade pela canhota, principalmente quando Negri esteve disponível. Os Herons, apesar de a característica da MLS ser de uma liga de jogo mais direto, tentam construir o jogo com mais bola no chão, aproveitando a qualidade no passe vertical de Miller. O time busca criar superioridade numérica pelo meio para, então, dar mais velocidade pelas laterais.
Na fase defensiva, o time se fecha em um 4-4-2. Os zagueiros costumam avançar muito para dar o bote no meio, o que, ao longo da temporada, deixou alguns espaços importantes para os adversários. O lado esquerdo da defesa se mostrou vulnerável em muitos momentos.
A chegada de Tata Martino indica que o esquema mais usado deve ser o 4-3-3, com Busquets de meia central ao lado de Cremaschi e Mota (ou Gregore, dependendo do jogo). Busquets pode recuar, assim como fez com o técnico no Barcelona, formando uma linha de três defensores.
O papel de Messi ainda é incerto. Se no Barça o técnico chegou a usá-lo como falso 9, na seleção argentina Messi chegou a atuar com Tata aberto na direita. A presença de Martínez, muito mais eficiente pelo meio (e com capacidade de fazer o falso 9), pode indicar um Messi aberto na direita, como se viu em Paris.
Na próxima sexta, no DRV PNK Stadium, contra o Cruz Azul, do México, pela Leagues Cup, Tata dará algumas respostas. E o Inter Miami, como esperam os fãs do soccer, começará a entrar em uma nova era. Com muito trabalho pela frente…
Fonte: Ogol
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