Você já teve a sensação de “ouvir” o silêncio? Quando você vai dormir, ao término de uma conversa, etc. Afinal, nós o “detectamos”? Nós o “escutamos”?
Simon e Garfunkel estavam certos?
Em 1964, a dupla Simon e Garfunkel criou uma das músicas mais conhecidas e ouvidas do mundo: “The Sound of Silence” (o som do silêncio, em português). Podemos, então, trazer esta questão para os dias atuais: o silêncio tem som?
Um estudo publicado na segunda (17) na Proceedings of the National Academy of Sciences quer comprovar (ou refutar) isso. Nele, os pesquisadores usaram uma série de ilusões sônicas para mostrar que as pessoas percebem o silêncio tanto quanto elas ouvem sons.
Essa ideia o fez pensar se o silêncio, a absência do som, foi algo que realmente experienciamos, “ou se o silêncio é apenas forma de falta de experiência?”.
Apesar de que a banda famosa nos anos 1980, Depeche Mode, já dizia: “Enjoy the Silence” (aproveite o silêncio, em português).
Chaz Firestone, cientista cognitivo na Johns Hopkins e outro autor do estudo, afirmou que o silêncio “não é de fato um som, mas, ainda assim, acontece que podemos ouvi-lo, então, evidentemente, escutar é sobre algo mais do que apenas sons”.
O som do silêncio
Contudo, apenas perguntar “você consegue notar o silêncio?” é uma questão complicada. Então, os dois pesquisadores, ao lado do filósofo Ian Philips, perguntou uma questão diferente: A mente trata o silêncio da mesma forma que trata os sons?
Os pesquisadores testaram pessoas recrutadas on-line com uma série de sons ilusórios. O primeiro teste comparou único som longo com dois curtos, que, juntos, davam o mesmo tempo que o longo.
Porém, quando os pesquisados ouviam os dois sons curtos, elas os percebiam como apenas um longo.
Para aplicar essa ilusão ao silêncio, eles inverteram o teste, usando sons de restaurantes, lojas cheias, trens e parques infantis, inserindo trechos silenciosos para os participantes compararem.
Os pesquisadores supuseram que, se as pessoas percebem o silêncio como sua própria forma de som, então, o silêncio poderia ser assunto para a mesma ilusão dos sons utilizados no primeiro teste. Mas, se as pessoas percebem o silêncio como a falta de som, então, a ilusão não existe.
Outros testes inseriram o silêncio em diferentes contextos para produzir mais ilusões sônicas. Em cada caso testado, os participantes perceberam a ilusão de um período de silêncio sendo mais longo, assim como teriam percebido uma ilusão de um som mais longo.
“Quando ouvi isso pela primeira vez, pensei: ‘uau! Isso funciona!’”, afirmou Goh. Mesmo que ele tenha feito os testes por conta própria e soubesse que os períodos de silêncio foram exatamente do mesmo tempo, ainda assim, ele experienciou a ilusão de que um período de silêncio era mais longo que dois.
Não é nem tipo, ‘oh, meio que funciona com silêncios, mas é muito mais fraco’. Não, você obtém o mesmo efeito.
Chaz Firestone, cientista cognitivo na Johns Hopkins e outro autor do estudo
Em outras palavras, as pessoas reagem ao silêncio da mesma forma que aos sons, mesmo que eles não estejam “ouvindo” algo.
Poderia ser fácil rejeitar a ideia de que o silêncio tem um som, disse Sami Yousif, cientista cognitivo na Universidade da Pensilvânia que não participou do estudo. Sons são ondas impactando as células em seus ouvidos. Já o silêncio, não, mas isso não significa que não podemos detectar o silêncio.
O estudo, segundo Yousif, mostra que “aqueles espaços em branco são também uma forma de evento, eles são um tipo de unidade representada em nossa experiência”.
Ele ainda apreciou como os pesquisadores usaram as ilusões com o silêncio ao invés de sons. “Foi muito inteligente a forma como eles usam tais fenômenos conhecidos e aplicam ao silêncio.”
Apesar de os cientistas ainda não estudarem como o cérebro humano responde ao silêncio, Goh sugeriu que pesquisas existentes fortaleceram a ideia de que alguns neurônios e processos neurais estiveram envolvidos na percepção do silêncio.
E, sabendo que perceber o silêncio o torna “mais alto”, “o silêncio é uma real experiência”, disse Goh. Dessa forma, talvez possamos ter mais atenção aos momentos de quietude, uma vez que sabemos que podemos ouvir os “sons” do silêncio. Ou seja: aproveite o silêncio.
Com informações de The New York Times
Fonte: Olhar Digital
Comentários