O corte brusco nos preços de seus veículos parecem não ter afetado negativamente a Tesla. Pelo contrário: a montadora de EVs de Elon Musk experimentou aumento de 20% de sua receita.

Ainda assim, Musk advertiu, nesta quarta-feira (19), os investidores, que mais reduções podem ser necessárias e que a empresa pode reduzir a produção neste trimestre enquanto atualiza suas fábricas.

Os cortes nos preços dos veículos Tesla foram de 14% e 28%, a depender do modelo. As ações da empresa caíram 4% em negociações após o pregão.

Não controlamos as macro-condições. Se elas estão estáveis, penso que os preços também estarão. Mas, se elas não estiverem estáveis, então, temos que diminuir os preços.

Elon Musk, em conversa com analistas e investidores

Enquanto a taxa de entregas de novos veículos da Tesla subiu para 83% entre abril e junho, a receita não cresceu tanto, subindo 47%, para US$ 24,9 bilhões (R$ 119,3 bilhões). Ainda assim, essa receita bateu as previsões dos especialistas pesquisados pela FactSet, que, em média, imaginaram cenário de US$ 24,2 bilhões (R$ 115,9 bilhões).

A companhia de Musk colocou como meta crescimento de 31% de sua produção neste ano, enquanto o bilionário sugeriu algo próximo de 50%, ou duas milhões de unidades, se possível.

Ainda nesta quarta-feira (19), ele alertou que a produção do terceiro trimestre será “um pouco menor”, com a companhia atualizando suas fábricas durante o verão estadunidense, mas indicou que isso não deve afetar a meta da Tesla de entregar 1,8 milhões de automóveis neste ano.

Os esforços da Tesla para perseguir as vendas foram as principais preocupações dos investidores da empresa que analisaram os resultados do dia.

Mudança de direção

Entre janeiro e março, a Tesla passou por desaceleração na taxa de crescimento de suas entregas e viu seu primeiro lucro trimestral ano-a-ano cair desde 2019.

O corte de preços, que começou no primeiro trimestre, seguiu. Os clientes pagaram, em média, cerca de US$ 45 mil (R$ 215,6 mil) por seus veículos da Tesla no segundo trimestre, enquanto, há um ano, essa média era de US$ 56 mil (R$ 268,3 mil).

Já a margem bruta automotiva da empresa, observada de perto, excluindo o dinheiro ganho com a venda de créditos regulatórios, se aproximou de 18%, menor taxa desde 2017.

Essa margem, indicador do custo das vendas, foi ajudada, em parte, pelos esforços da Tesla em reduzir suas despesas internas, de acordo com a própria montadora.

Neste ano, os executivos da empresa têm elogiado os esforços para reduzir o montante gasto na fabricação dos EVs por meio de uma série de ações, incluindo o aumento da automação das fábricas e reduzindo o número de partes usadas.

Fachada de fábrica da Tesla
Imagem: Reprodução/Bloomberg

Ações

As ações da montadora de Musk mais que dobraram neste ano até esta quarta-feira (19), após começarem 2023 em baixa em meio ao nervosismo sobre se a demanda estava diminuindo para seus carros.

Também havia incerteza sobre o foco de Musk na Tesla após ter comprado o Twitter no fim do ano passado. Porém, tais dúvidas parecem ter sido aliviadas desde que o dono de Tesla, Twitter e SpaceX nomeou Linda Yaccarino como CEO da rede social.

Tecnologia de carregamento também ajudou

O anúncio recente de GM e Ford em adotar a tecnologia de carregamento de EVs da Tesla também ajudou a destacar as vantagens de Musk no mercado de elétricos, especialmente com suas concorrentes mostrando sinais de inchaço em seus inventários. Na segunda-feira (17), por exemplo, a Ford cortou o preço inicial de sua picape EV, a F-150 Lightning, em cerca de US$ 10 mil (R$ 47,9 mil).

A redução, junto com a queda dos preços de EVs em geral, levantou questão mais ampla sobre a força da demanda por baterias de carros mais potentes, enquanto mais empresas aumentam suas saídas. Alguns analistas estão céticos que eles viram o fim de corte de preços da Tesla.

Por sua vez, Musk disse ainda que ele esta perseguindo o crescimento em detrimento da lucratividade, vislumbrando visão de futuro no qual a Tesla obterá lucros mais gordos com seu negócio de softwares, incluindo a atualização de automóveis com a tecnologia de direção autônoma.

Ainda nesta quarta-feira (19), Musk reiterou que está aberto a licenciar a tecnologia de assistência de direção da Tesla às suas concorrentes. A companhia, segundo ele, está em conversas iniciais com grande montadora. Ele não disse qual é. “Não estamos querendo manter essa tecnologia apenas conosco”, afirmou.

carregadores Tesla
Imagem: The Bold Bureau/Shutterstock

A aposta que muitos investidores vem fazendo com a Tesla é que seus avanços em software pode permitir à empresa que siga aproveitando a lucratividade de empresa.

Para mim, o que importa é que [a Tesla] continue a gerar dinheiro para investir. Isso significa continuar a manter-se hiper-focado na redução de custo a curto-prazo, pois tudo que fazemos em reduções de custo a curto-prazo fornece capital para reinvestir.

Zach Kirkhorn, CFO da Tesla

O fluxo de caixa livre da Tesla cresceu 62% no segundo trimestre, indo a US$ 1 bilhão (R$ 4,79 bilhões). A companhia terminou o trimestre com US$ 23 bilhões (R$ 110,19 bilhões) em dinheiro e investimentos.

A montadora sinalizou que vai entrar em onda de gastos nos próximos anos, enquanto procura aumentar sua capacidade de produção para lidar com a produção de 20 milhões de veículos anualmente até 2030. No último ano, a Tesla entregou 1,3 milhões de veículos.

Cybertruck, enfim

Durante o último fim de semana, a empresa disse que começou a construir sua picape EV Cybertruck em sua planta de montagem no Texas, perto de Austin. Voltando à quarta-feira (19), a Tesla reiterou estar construindo versões de pré-produção da picape e que espera que o veículo entre em produção oficial no fim deste ano.

cybertruck
Imagem: Mike Mareen/Shutterstock

Enquanto Musk sugeriu anteriormente que a entrega do Cybertruck poderia ser iniciada neste trimestre, ele soou menos seguro na última conversa com os investidores, afirmando apenas que ela pode começar no fim deste ano.

É sempre muito difícil prever […] Penso que estaremos fazendo [os Cybertrucks] em alto volume no ano que vem, e estaremos entregando o carro neste ano [2023].

Elon Musk, em conversa com analistas e investidores

Com informações de The Wall Street Journal