Localizado perto da costa ocidental da América do Sul, há grande planície perto da Cordilheira dos Andes, o Altiplano do Deserto do Atacama.
Há mais de quatro mil metros de altitude, esse local geralmente frio e úmido também recebe mais luz solar do que qualquer outro lugar na Terra, superando lugares mais altos em altitude e próximo à Linha do Equador. Na verdade, o planalto recebe tanto Sol quanto Vênus!
Estudo recente publicado no Bulletin of The American Meteorological Society mediu recorde mundial de irradiação solar de 2.177 W/m² no Altiplano chileno, que também é o segundo mais extenso planalto do mundo.
Isso é muito mais do que a radiação no topo de nossa atmosfera, que recebe cerca de 1.360 watts/m².
“É a radiação que você receberá se estiver em Vênus”, disse o autor do estudo Raul Cordero, climatologista na Universidade de Groningen (Holanda). Ele disse que a comparação é “incrível” porque Vênus é cerca de 28% mais próximo do Sol quando comparado com a Terra.
Se você é exposto a tanta radiação perigosa, você deve proteger sua pele. Nessa localização em particular, para as pessoas que trabalham lá… eles sabem que a radiação é alta, mas agora sabemos quão alta é.
Raul Cordero, climatologista na Universidade de Groningen (Holanda) e principal autor do estudo
Dados de satélite haviam, anteriormente, mostrado que essa área recebe a maioria da luz solar na Terra, mas o novo estudo analisou novas medições para explicar como essa área experiencia tamanha radiação extrema.
As medições foram conduzidas no planalto de Chajnantor, no Chile, que é uma vasta extensão plana com mais de 5 km de altitude. Ela abriga alguns projetos astronômicos, como o ALMA (Atacama Large Millimeter/Submillimeter Array).
A equipe descobriu que a radiação extrema pode ser rastreado de volta a nuvens finas e de alta altitude na área.
Cordero explicou que as nuvens, às vezes, bloqueiam a luz do Sol ou refletem a radiação de volta ao Espaço, mas nuvens finas quebradas nessa localização podem focar intensamente o Sol na superfície em fenômeno conhecido como dispersão para frente, como se segurando uma lupa contra o Sol.
O estudo detectou que essas nuvens, tipicamente cumulus, cirrus ou nuvens cirrostratus, pode melhorar a radiação solar na superfície para mais de 80% se comparado com clima sem nuvem.
Essas nuvens são mais comuns em janeiro e fevereiro durante o verão no hemisfério norte. A umidade que cria essas nuvens vem da Amazônia, durante os ventos sul-americanos.
O que me impressionou foi o quão grande o valor pode chegar sob as condições de dispersão frontal no Altiplano. Este é um estudo observacional interessante dos extremos solares possíveis em nosso planeta, estabelecendo novos recordes para a radiação de ondas curtas na superfície.
TC Chakraborty, cientista da Terra no Pacific Northwest National Laboratory
Seiji Kato, cientista atmosférico da NASA, não ficou surpreso com as descobertas. Ele afirmou que, quando a irradiação solar é transmitida pela atmosfera, ela é absorvida pelo vapor d’água e espalhada por nuvens e aerossóis. Mas um local de alta altitude localizado acima da camada de vapor d’água e com menos nuvens e aerossóis receberia mais Sol.
Cordero, por sua vez, disse que essas nuvens também aparecem em outros lugares com altitude alta, como o planalto do Himalaia, mas ainda não experimentam valores de radiação solar tão altos.
Por um lado, o verão no hemisfério norte é menos intenso do que no hemisfério sul. Durante o verão no sul, a órbita da Terra está mais próxima do sol e atinge ponto chamado periélio no início de janeiro. Como resultado, a irradiação solar chega a ser 7% maior no hemisfério sul do que no norte.
Em segundo lugar, o hemisfério norte também tem mais moléculas de ozônio da superfície para o Espaço do que o sul. Moléculas mais altas em nossa atmosfera atuam como protetor solar natural e nos protegem da radiação solar.
O estudo, apontou Kato, também analisa apenas a irradiação solar descendente, mas também existem outras fontes de radiação a serem consideradas.
Por exemplo, a superfície também recebe irradiação emitida pela atmosfera, que não podemos ver e não é útil para a energia solar. Mas, quando nuvens (especialmente as de baixo nível) estão presentes na atmosfera, a radiação emitida pela atmosfera pode ser maior do que a radiação vinda diretamente do Sol em um dia sem nuvens.
Essa também é a razão pela qual você pode se sentir mais quente do lado de fora em uma noite nublada de inverno do que em uma noite clara de inverno. Somando a irradiação solar e a atmosférica, os dados do satélite CERES da NASA mostram que a maior irradiação na superfície ocorre em região equatorial sobre o Oceano Pacífico.
Os pontos mais ensolarados também nem sempre correspondem aos lugares mais quentes. Outro estudo recente determinou as cidades mais quentes (e mais frias) do mundo para o desconforto humano, colocando Bahrein, Catar, Arábia Saudita e Paquistão no topo das altas extremas.
Além disso, a pesquisa descobriu que a maioria das áreas urbanas com temperaturas extremamente quentes e frias geralmente ficavam em cidades médias a pequenas. Estudiosos indicaram que a radiação solar geralmente se relaciona com a temperatura, mas haverá exceções.
Cordero explicou ainda que as temperaturas do ar e da superfície dependem de muito mais do que apenas a radiação solar.
Por exemplo, a atmosfera perto do Altiplano é relativamente fria devido à sua alta altitude. O Oceano Pacífico adjacente, que recebe correntes de água perto da Antártida, também ajuda a manter a área mais fria do que a terra perto de oceanos mais quentes, como os mares mediterrâneos.
Áreas com vegetação também podem ser mais frias do que superfícies secas e áridas porque as plantas resfriam a superfície por meio da evapotranspiração. O Altiplano “não é afetado por ondas de calor no caso do Bahrein, Oriente Médio ou região do Mediterrâneo”, disse Cordero.
Com informações de The Washington Post
Fonte: Olhar Digital
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