Fã de Capital Inicial, Engenheiros do Hawaii, SIA, Maria Bethânia e Jô Soares, Marília Marton, a atual secretária estadual de Cultura, Economia e Indústria Criativa do governo Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), em São Paulo, tem no eclético gosto artístico um reflexo de sua gestão na pasta. “A arte é plural, diversa e cabe todo mundo dentro dela”, afirma em entrevista ao site da Jovem Pan. A secretária, que além da formação como socióloga também é dançarina, acredita que nada substitui uma plateia ao vivo: “O encontro do artista com o público é transformador”. Marília defende que a cultura é a responsável por nos “transformar em gente” e destaca que o setor é extremamente estratégico para o país. “É bom sempre lembrar: a Secretaria da Cultura é a Secretaria do Partido da Cultura. Estamos aqui para fazer realmente acontecer o setor, que hoje mobiliza o segundo maior PIB do Brasil”, diz. Com longa participação em cargos públicos de São Paulo, Marília também já trabalhou na Secretaria de Educação, sob a chefia de Gabriel Chalita, durante o governo do atual vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), e já foi sub-prefeita da Região da Sé. Para ela, o maior patrimônio cultural de São Paulo são os equipamentos culturais, e é preciso levar esse patrimônio até os paulistas do interior. E também fazer o caminho inverso: trazer a cultura do restante do Estado para a capital. Em entrevista exclusiva ao site da Jovem Pan, a secretária falou de um novo centro cultural para a diversidade sexual na Avenida Paulista e afirmou, ainda, que o carnaval e a cultura negra são prioridades para a sua gestão. Confira abaixo os principais trechos da entrevista:
Há muita polêmica acerca da participação do Estado na promoção da cultura. Como a senhora vê isso? Além do “se há polêmica ou não há polêmica”, é importante entendermos que a cultura, assim como outros segmentos do Brasil, não se viabiliza sem fomento. Sempre faço uma comparação: quando andamos na rua e avistamos um prédio sendo construído, pode olhar que há uma placa de financiadora. Isso é normal por aqui, temos o financiamento e ninguém faz nada se não tiver, de uma certa forma, algum tipo de colaboração do governo. Temos uma carga tributária muito pesada e, obviamente, tudo na produção acaba tendo essa linha. Não estou falando só da construção civil, mas também do agronegócio, da indústria automobilística. Todo mundo tem linhas de financiamento. A pergunta deveria ser inversa: por que a cultura não teria? Porque a gente está falando de um segmento extremamente estratégico sob o ponto de vista de desenvolvimento humano. É na cultura que conhecemos a nossa história e entendemos a nossa identidade e, consequentemente, nos reconhecemos como País, pessoas, com direitos e deveres. Então, a cultura tem funções muito maiores do que simplesmente entretenimento. Por isso, sou favorável e uma grande defensora, e acredito que ainda investimos muito pouco e deveríamos investir mais, inclusive, pelo retorno que a cultura nos dá.
Uma das prioridades do seu governo é a interiorização da cultura. Quais passos já foram dados? A interiorização precisa ser entendida também como uma mão de duas vias. A gente fala da cultura que está centralizada na capital com os equipamentos: a Pinacoteca, o MIS, o Museu da Língua Portuguesa, o Museu de Arte Sacra. Não tem como colocar rodinhas para locomover esses equipamentos para outros lugares. Então, temos que desenvolver políticas para mostrar aos paulistas o que esses equipamentos oferecem, pois também é propriedade deles. Trata-se de um acervo que não é só do paulistano, é um acervo do paulista e do Brasil. Estamos criando exposições itinerantes, imersões e exposições virtuais e, também, levando artistas que são da capital para o interior. Porém, mais do que isso, a gente precisa lembrar que o nosso interior é extremamente rico em produção cultural, sobretudo de artesanato, matriz africana, povos originários e culturas caipiras. Nessa última, temos, inclusive, as violas de sete cordas, instrumento muito particular do interior do Estado. Estamos revitalizando o “Revelando São Paulo”, um projeto que não é novo, mas foi ficando tímido. Este ano, teremos duas edições. Para o ano que vem, estamos elaborando quatro edições.
Há uma iniciativa de intensificação da programação neste mês de julho, período de férias. Trazer as crianças para a cultura é uma forma de tirá-las da violência? Entre os nossos focos, está a formação de público. A cultura tem muito da fruição, participação e encontro. Em julho, no geral, as crianças acabam ficando sem os pais, que somente tiram férias no fim do ano. Com isso, pensamos em oferecer às nossas crianças uma programação que vai além da promoção de formação de público, mas que se junta com a possibilidade de que essas crianças possam passar uma tarde, uma manhã em espaços culturais. Para isso, pedimos que as prefeituras participassem a fim de que pudéssemos realmente oferecer o máximo possível de opções.
Como está a sua relação com o Ministério da Cultura? Maravilhosa. Com todos os municípios, não só a capital, os 665 secretários municipais, as nossas relações são ótimas. É bom sempre lembrar: a Secretaria da Cultura é a Secretaria do Partido da Cultura. Estamos aqui para fazer realmente acontecer o setor, que hoje mobiliza o segundo maior PIB do Brasil. Mobilizamos em 2020 cerca de 250 bilhões de reais. Isso é muito dinheiro, e fala muito sobre o que é um país cultural. Temos que tratar tudo de forma muito republicana. Conhecemos as nuances da política, tudo bem, faz parte. Porém, aqui na Cultura, focamos que o importante mesmo é o trabalho para fazer a cultura do nosso país crescer, prosperar, e, obviamente, ser difundida e contada para o mundo inteiro.
A arte tem linha política? A arte é de todos. A arte é plural, diversa, e cabe todo mundo dentro dela.
O centro de São Paulo abriga os melhores aparelhos culturais da cidade. Mas a região tem índices altos de violência e ainda passa por um processo de degradação. Como atrair o público para esses espaços? Entendemos a situação, mas todos esses equipamentos estão próximos a estações de metrô, o que já garante mais segurança. Se você me perguntasse, diria que seria muito bom que as pessoas pudessem fazer o trajeto caminhando. Certa vez, me propus a fazer isso no horário comercial e caminhei pelo nosso cinturão cultural: Museu de Arte Sacra, Pina Contemporânea, Pinacoteca, Museu da Língua Portuguesa, Museu da Resistência e Sala São Paulo. Provei que é possível. Agora, com relação aos usuários que estão na redondeza, é o caso de uma política de governo integrada. Não é sair com gente tocando música na rua que eu resolvo. É preciso ter intervenções médicas e psiquiatras. Estamos fazendo atividade no Museu da Língua Portuguesa e na Pinacoteca, mas isso é muito tímido ainda, porque a questão central é a política de recuperação dessas pessoas. A cultura resolve quase tudo.
A arte da periferia tem espaço na sua gestão? O funk, o rap, o teatro do oprimido e outras manifestações? Claro. Temos dez Teatros Fábricas de Cultura localizados na periferia para fazer arte, cultura na periferia para periferia, pela periferia. A Secretaria da Cultura tem o programa “Mais Sucesso”, que propõe intervenção na periferia, que tem 20 anos. E estamos preparando uma pesquisa para nos informar sobre como esses equipamentos contribuíram para melhorar os indicadores que existiam nessas regiões. Mas, na verdade, não precisa de indicador para mostrar o quanto a gente já fez diferença.
E a arte produzida por minorias da sociedade, como os negros e a comunidade LGBT+? Tem, claro. Nós apoiamos, inclusive, as paradas de orgulho LGBT+ do interior. Acredito que o combate à homofobia e ao racismo é uma preocupação da Secretaria da Cultura. Os próprios editais da secretaria, alguns são voltados exclusivamente para essa vertente. A secretaria é múltipla, plural, diversa e para todo mundo. A frase aqui é: “A gente aqui não pode deixar ninguém pra trás”.
E um novo museu da diversidade, sai do papel? Na verdade, nós teremos um Centro Internacional da Diversidade na Avenida Paulista. Trata-se de um centro cultural que não se restringe ao museu. Terá área expositiva, obviamente, mas ele terá espaços para discussões, cinema e teatro. Será mais um grande centro cultural para a cidade.
Há um crescente interesse da população, sobretudo mais jovem, no samba. Como a secretaria está vendo isso? Há uma política do Estado de valorizar o carnaval tradicional de avenida de São Paulo. Vamos apoiar também os carnavais das cidades do interior como já existiu na cidade de Bananal, por exemplo, que tinha um carnaval que reunia paulistas e cariocas. Esse carnaval foi desmobilizado. Além disso, estamos entrando em contato com São Roque e São Luís do Paraitinga, que têm carnavais extremamente tradicionais. Vamos mapear e fortalecer o carnaval de rua de novo. Conversei com a Liga das Escolas de Samba para termos festivais de samba no Estado. Falamos de viola caipira, mas o samba também faz parte da nossa tradição. Conversei com o Tobias, da Escola de Samba da “Vai-Vai”, e ele me apresentou um projeto bastante interessante que se trata da carnaval na periferia da cidade.
O que a motivou a trabalhar com Cultura? Sou socióloga de formação e brinco que a cultura é o que nos faz gente. Se hoje somos homens racionais e civilizados, no sentido da convivência, isso se deve à cultura. O homem cultural é aquele que aprendeu a se comunicar. O pacto social só é possível a partir do homem cultural. Então, a cultura é a nossa essência e a nossa vida. Para mim, vir todos os dias aqui é uma alegria. Confesso que tem dias que é bem cansativo mas, no fim, é um prazer imenso. Eu espero honrar o que o governador Tarcísio me pediu, que é fazer do Estado de São Paulo o maior Estado das Américas em Cultura. Esse é o meu trabalho diário.
A senhora pretende se candidatar a algum cargo eletivo no futuro? Eu não, só se você não gostar de mim.
Fonte: Jovem Pan News
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