Quem viu Corinthians x São Paulo, pela semifinal da Copa do Brasil, teve a oportunidade de acompanhar em campo duas grandes atuações individuais de dois zagueiros promissores: Beraldo e Murillo. Da geração de atletas nascidos entre 2002 e 2003, a dupla se destaca e promete brigar, em um futuro próximo, para quebrar um paradigma: a pouca presença de zagueiros canhotos na seleção brasileira.
De Juvenal até André Cruz, a seleção quase sempre tinha pelo menos um canhoto convocado para a Copa do Mundo. Edinho, presente em três mundiais, foi o mais constante. Em 1950, o time chegou a ter dois canhotos: além de Juvenal, Nena, que atuava também na lateral, tinha como pé dominante o esquerdo. Neste século, o panorama mudou.
De 2002 até 2022, apenas Dante representou os canhotos na defesa brasileira. De 16 zagueiros chamados, apenas um foi canhoto. Em cinco de seis Copas, o Brasil não teve nenhum zagueiro canhoto.
O uso do zagueiro invertido, ou aquele zagueiro que atua no lado do seu pé não dominante, é comum no futebol. As últimas convocações da seleção, inclusive, provam isso. Não é nada anormal um destro jogar na esquerda. Apesar de raros, e falaremos de um desses casos mais adiante, existem também os canhotos que jogam na direita. Mas é inegável que o zagueiro canhoto atuando no lado do seu pé dominante traz muitas vantagens para sua equipe.
Talvez a principal vantagem seja ressaltada na primeira fase de construção. O zagueiro canhoto consegue sair com mais verticalidade para jogo no lado esquerdo. Com o favorecimento do domínio orientado já para a canhota e um posicionamento corporal ajustado para dar um passe aberto saindo do marcador (de fora para dentro, o inverso do destro no mesmo setor), a tendência é a quebra de linhas com um passe mais qualificado. A angulação da bola determina a velocidade da mesma, e quanto mais rápida e longe dos marcadores, maior a tendência para quebrar linhas.
Obviamente, a qualidade do passador é que vai definir o sucesso, ou não, da progressão da jogada. Mas cria-se mais facilidades do que dificuldades. Além do passe vertical, o defensor canhoto tem mais facilidade para inverter o setor da jogada e também para progredir com a bola no lado do seu pé dominante.
Beraldo e Murillo fazem parte de uma geração fora de série de zagueiros canhotos. Muito do que já foi dito aqui sobre as vantagens de se ter um zagueiro canhoto no time ficou nítido no duelo semifinalista da Copa do Brasil. A qualidade na saída de jogo é um dos principais pontos dos zagueiros de Corinthians e São Paulo.
Beraldo é um excelente exemplo de zagueiro que quebra linhas com o passe. O jogador é, também, um caso raro de zagueiro canhoto que atuou invertido. Na base, muitas vezes jogou no lado direito da zaga.
No profissional, porém, joga mesmo no lado esquerdo. E qualifica, e muito, a primeira fase de construção do Tricolor. Busca mais passes por baixo do que bolas longas, mas consegue sucesso também quando precisa fazer um lançamento ou inverter uma jogada. Se posiciona muito bem em campo.
Murillo, por sua vez, deu uma grande assistência para Renato Augusto com uma bola longa, do campo de defesa ainda para a área inimiga. Tem um lançamento longo apurado, e boa progressão com bola pela canhota.
Além dos atributos técnicos, o zagueiro é mais vigoroso que Beraldo, tem força no arranque e velocidade para acompanhar atacantes rápidos. É muito forte no 1 contra 1.
Beraldo (03) tem 31 jogos como profissional do São Paulo. Murillo (02) já soma 22 partidas pelo Corinthians. No ano de afirmação de ambos, prometem lutar, no futuro, por uma vaguinha na seleção brasileira. Ainda é (muito) cedo para se falar. Mas o potencial está aí, as características são muito favorável e a alta performance já foi alcançada pelos dois em tão pouco tempo de carreira. O futuro, só a consistência nas atuações poderá dizer.
Fonte: Ogol
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