Um grupo de pesquisadores internacionais descobriu uma diversidade genética incrível nos restos mortais daqueles que um dia chamaram Machu Picchu de lar. Essa descoberta foi detalhada em um estudo publicado na revista Science Advances.
Machu Picchu e o Império Inca
As análises
Para determinar a origem dessas pessoas, os pesquisadores sequenciaram o DNA antigo de 68 indivíduos, sendo 34 enterrados em Machu Picchu e a outra metade na capital do Império Inca, Cusco. Eles compararam esses resultados com o DNA de povos indígenas que vivem nos Andes hoje em dia, assim como com ancestrais de outras regiões da América do Sul.
Os pesquisadores usaram datação por carbono nos restos mortais, e descobriram que algumas dessas pessoas foram enterradas antes do surgimento de Pachacuti e do império Inca.
Em seguida, as amostras de DNA foram comparadas com o de povos indígenas que vivem nos Andes hoje (pesquisas anteriores descobriram que essas linhas genéticas têm permanecido inalteradas nos últimos 2.000 anos), bem como com ancestralidades de regiões mais distantes da América do Sul.
Vale ressaltar que essas “ancestralidades” são baseadas no DNA e não se sobrepõem necessariamente às identidades culturais dos povos, embora às vezes coincidam.
A ancestralidade encontrada
Os resultados indicaram que, embora alguns indivíduos tenham ancestralidade ligada às regiões próximas de Machu Picchu, muitos deles possuíam DNA proveniente de locais distantes, como a costa peruana, as terras altas do Peru e Bolívia e até mesmo regiões da Amazônia.
De todas as amostras de DNA analisadas, os pesquisadores descobriram que 17 indivíduos tinham ancestralidade de uma das fontes distantes testadas. Isso incluía todas as regiões da costa e das terras altas do Peru, bem como as regiões amazônicas do Peru, Equador e Colômbia.
Apenas sete dos indivíduos enterrados tinham ancestralidade que poderia ser vinculada às vastas terras altas do sul do Peru, onde estão localizadas Machu Picchu e Cusco. No entanto, não é possível confirmar se eles eram nativos de Machu Picchu.
Os outros 13 indivíduos tinham ancestralidades mistas, incluindo origens tão distantes quanto o Brasil e o Paraguai. Eles poderiam ser filhos de indivíduos de diferentes terras que se encontraram em Machu Picchu — ou poderiam estar ligados a ancestralidades sul-americanas ainda desconhecidas.
Além disso, apenas um par de indivíduos enterrados em Machu Picchu tinha relação de parentesco próxima (mãe e filha), sugerindo que a maioria dessas pessoas chegou ao local vinda de diferentes terras e ocasionalmente formava relacionamentos e tinha filhos no local.
Acredita-se ser possível que essas pessoas enterradas em Machu Picchu eram provenientes de uma classe especial de servos do estado, aristrocracia ou serviço religioso selecionados desde jovens, conhecidos como acllacona e yanacona.
Apesar de não se saber se eles chegaram ali por conta própria ou se houve coerção envolvida, a análise dos ossos sugere que tais indivíduos viveram vidas confortáveis, com alguns vivendo até idades avançadas e sem sinal de desnutrição, doenças ou ferimentos de guerra ou trabalho pesado.
O que esta diversidade indica?
Segundo os pesquisadores, os restos humanos encontrados que antecediam o Império Inca não exibiam graus tão altos de diversidade. Essas descobertas indicam que a diversidade genética presente em Machu Picchu foi resultado do estabelecimento do Império Inca e sua capacidade de atrair pessoas de várias regiões.
Além disso, a análise dos indivíduos de Cusco mostrou menos diversidade do que em Machu Picchu, mas mais do que em outros locais regionais. Isso provavelmente se deve ao extenso território das terras altas, que possui uma longa história de interações entre diferentes povos antes do surgimento do império Inca.
Essa pesquisa abre novas perspectivas sobre a história dos povos antigos que viveram em Machu Picchu e destaca a importância do local como um tesouro histórico e cultural da América Latina.
Com informações de Science Alert.
Fonte: Olhar Digital
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