Se tudo correr conforme os planos dos EUA, dentro de menos de três anos o país deve lançar um inovador foguete de propulsão nuclear. O projeto, revelado em 2020 pelo Pentágono, é uma parceria entre a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa norte-americana (Darpa) e a NASA.

De acordo com as agências, a intenção é que a espaçonave alcance a órbita da Terra pela primeira vez no final de 2025 ou início de 2026.

Conhecido como Draco (sigla em inglês para Foguete de Demonstração para Operações Cislunares Ágeis), o projeto vai servir de teste para a propulsão térmica nuclear (NTP) no espaço, uma tecnologia potencialmente revolucionária que pode ajudar a humanidade a se deslocar para Marte e outros mundos distantes.

Durante uma entrevista coletiva concedida na quarta-feira (26) os envolvidos anunciaram que o foguete Draco será desenvolvido e construído pela Lockheed Martin. “Vamos nos juntar nisso, vamos voar nesta demonstração, reunir um monte de grandes dados e realmente, acreditamos, inaugurar uma nova era para os EUA e para a humanidade, para apoiar nossa missão de exploração espacial”, disse Kirk Shireman, vice-presidente da empresa.

Conforme destaca o site Space.com, a NASA se juntou ao projeto, na verdade, em janeiro deste ano, mas seu interesse na tecnologia NTP vem de longa data. No fim da década de 1960, a agência revelou que pretendia lançar uma missão tripulada a Marte até 1979 a bordo de uma espaçonave movida a energia nuclear através de um programa chamado Nerva (sigla para algo como Motor Nuclear para Aplicação em Foguetes). Isso, como sabemos, não aconteceu. O programa foi cancelado em 1972.

Agora, com o objetivo de levar astronautas ao Planeta Vermelho até 2040, a NASA ainda vê a propulsão térmica nuclear como um avanço fundamental para atingir essa meta, reduzindo o tempo de viagem de e para o nosso tão cobiçado vizinho.

Como será o foguete nuclear Draco

Foguetes térmicos nucleares carregam pequenos reatores de fissão, que liberam quantidades imensas de calor à medida que dividem os átomos. Esse calor é então aplicado a um gás propulsor, que se expande e é canalizado para o espaço através de um bocal para criar empuxo. 

Esse processo difere do empregado pelos geradores termoelétricos de radioisótopos (RTGs), tecnologia nuclear que voa a bordo de sondas desde os primórdios da era espacial. Os RTGs não fornecem propulsão – eles aproveitam o calor do decaimento radioativo para gerar eletricidade, que então alimenta instrumentos, motores e outros equipamentos de espaçonaves.

Outro conceito artístico da espaçonave Draco, que vai servir de teste para um motor de foguete térmico nuclear. Crédito: DARPA

Segundo informado na coletiva de imprensa, Draco seguirá para uma órbita relativamente alta ao redor da Terra – provavelmente algo entre 700 e dois mil quilômetros. Dessas altitudes, levará pelo menos 300 anos para que o demonstrador caia de volta no planeta por arrasto atmosférico (tempo suficiente para garantir que todo o seu combustível nuclear seja gasto quando ele descer, disseram os membros da equipe).

A segurança na subida também é primordial: o motor nuclear do Draco será ativado somente quando o veículo chegar à órbita. Durante o lançamento, o motor será equipado com um “fio venenoso”, um pedaço de metal que absorve nêutrons, impedindo que eles iniciem uma reação em cadeia. Os engenheiros explicaram na coletiva que o fio venenoso age da mesma forma que as hastes de controle em reatores de energia nuclear aqui na Terra.

Durante a missão teste não haverá instrumentos científicos. A operação envolve somente o uso do motor NTP, para demonstrar que ele pode trabalhar por longos trechos no ambiente espacial.

Isso, no entanto, exigirá manter superfrio o hidrogênio da espaçonave – que será lançada com cerca de duas toneladas do material. “Nosso fator limitante de vida é por quanto tempo podemos manter o hidrogênio criogênico”, disse Tabitha Dodson, gerente do programa Draco na DARPA. “Esta é tanto uma demonstração do armazenamento em órbita de hidrogênio líquido criogênico quanto uma demonstração do motor de foguete térmico nuclear”.

Em relação a custos, os contratos concedidos à Lockheed Martin bem como à empresa parceira BWX Technologies por seu trabalho Draco têm um valor total de US$499 milhões (mais de R$2,3 bilhões), dos quais metade vêm da DARPA e metade da NASA.