O ano era 2014. Copa do Mundo no Brasil. Um golaço contra a Grécia e artilharia do torneio. James Rodríguez chegou na Copa como atleta do Monaco e saiu como jogador do Real Madrid. O ano era 2015 e o futebol europeu vivia a profusão dos grandes trios de ataque na Espanha. De um lado, Messi, Neymar e Suárez, o MSN do Barcelona. Do outro, BBC, de Benzema, Bale e Cristiano Ronaldo. O grande terceiro elemento daquele Real, porém, não foi Bale. Foi James Rodríguez, que iludiu e desiludiu, do ápice à derrocada.
Entre 2014 e 2015 James viveu o auge da carreira. A Copa do Mundo deu projeção mundial ao jovem talento colombiano, que fez logo uma excelente primeira temporada pelo Real Madrid, com 17 gols e 17 assistências, números que representavam uma participação em gols menor apenas que Cristiano Ronaldo e Karim Benzema. Gareth Bale, que seria em teoria o terceiro grande elemento daquele time, teve um rendimento abaixo, com 29 participações em gol. Tudo parecia caminhar para uma longa trajetória de sucesso na Espanha, mas não foi o que aconteceu.
Apesar do sucesso individual de James em sua primeira temporada, o Real Madrid de 2014/15 viu o Barcelona ganhar tudo o que poderia com o MSN. A felicidade do maior rival custou o cargo de Carlo Ancelotti no comando dos Merengues, que passaram a ser comandados por Rafa Benítez e posteriormente Zinédine Zidane. E, assim, na mesma velocidade que conquistou o prestígio dentro do Santiago Bernabéu, James perdeu toda sua credibilidade.
Nesse período de cinco anos, a relação de Zidane e James se deteriorou aos poucos e a medida do tempo foi se tornando insustentável, com trocas de farpas dos dois lados, muitas vezes públicas via imprensa. O técnico francês chegou a revelar que o colombiano ficou de fora dos convocados do time em alguns jogos por vontade própria do jogador.
À parte da relação pessoal entre técnico e atleta, à época também James também sofreu com lesões, com questionamentos sobre seu comprometimento, mas principalmente pelo encaixe perfeito do BBC, que já veria Bale como sua terceira grande figura como previsto e o sucesso foi inegável, com cinco títulos de Liga dos Campeões – James participou somente de duas delas, ambas como reserva.
A carreira profissional de James Rodríguez começou no Envigado, da Colômbia, aos 16 anos. Ainda sem completar a maioridade o colombiano foi para a Argentina, onde defendeu o Banfield, e foi captado pelo Porto em 2010.
Em Portugal, James fez parte da melhor geração recente do clube português. Ao lado do compatriota Falcao Garcia e do brasileiro Hulk, James foi parte importante de um time tricampeão da Liga Portuguesa e que levantou também a Liga Europa de 2010/11, naquele que foi o último título internacional de uma equipe portuguesa.
No Monaco, em 2013/14, o colombiano embarcou num curto projeto ambicioso dos monegascos, que tinha também seus ex-companheiros Falcao, João Moutinho, além de outros nomes experientes, como Ricardo Carvalho e Berbatov, ou que ganhariam importância internacional posteriormente, como Fabinho, Carrasco e Kondogbia. Tamanho investimento só colheria os frutos mais tarde, já sem James. Apesar do bom desempenho na França, não foi isso que levou James ao Real Madrid, mas sua figura como um dos principais jogadores da Copa do Mundo de 2014.
No Real, a passagem completa de James foi de 2014 a 2020, com 125 jogos disputados, 37 gols marcados e 39 assistências. Em uma análise fria, como propôs o próprio meia sobre seus números, o desempenho esteve sempre dentro de uma régua que mede atletas de alto nível, com 0,6 participação em gol por jogo. A verdade, porém, é que o colombiano só teve protagonismo em uma temporada de insucesso no Real.
Sem credibilidade nos Merengues, James jogou emprestado ao Bayern por duas temporadas – e foi um tanto quanto parecido como no Real. A primeira temporada foi com um desempenho à altura do esperado, 14 assistências e oito gols, como uma das principais figuras de um time também estrelado, com Lewandowski, Robben, Ribéry e companhia. A permanência na temporada seguinte foi considerada uma vitória, mas que o investimento não se justificava para garantir o colombiano a título definitivo.
Nos últimos anos, James Rodríguez parece ser uma vítima (ou cúmplice) de suas próprias escolhas. A primeira delas foi deixar o circuito dos gigantes para um plano menor no Everton, onde não quis continuar para seguir rumo ao Catar. Após dois anos esquecido no Catar, James se transferiu para o Olympiacos em setembro de 2022. O meia novamente não teve números ruins, mas parece que a matemática pela qual justifica-se sua qualidade acaba de forma recorrente como uma equação inexata. James rescindiu seu contrato em abril com os gregos e estava à espera de uma proposta que o convencesse a retornar aos gramados.
A qualidade de James Rodríguez nunca foi questionada, nem seus números. O São Paulo está perto de contratar um meia com faro artilheiro, com 155 gols na carreira – mais do que os atuais goleadores do Tricolor: Luciano tem 123 e Calleri 119. O colombiano tem ainda rara habilidade para encontrar seus companheiros: são 147 assistências desde que deixou a América do Sul. James tem, portanto, 302 participações em gols nos 573 jogos que fez como profissional. Com esse desempenho e currículo de títulos, parece difícil que alguma matemática não se feche. Mas, ao olhar para James poderemos ver apenas seus números? O futebol brasileiro descobrirá em breve.
Fonte: Ogol
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